Os prêmios Nobel devem defender a aprendizagem científica e a livre investigação em uma época em que ambos estão sob crescente ameaça, na avaliação da nova chefe da fundação que supervisiona a láurea.
A tarefa dos laureados é cada vez mais crucial porque a disseminação de desinformação está minando o conhecimento adquirido pela pesquisa, segundo Hanna Stjärne, diretora-executiva da Fundação Nobel.
Embora ela não tenha criticado diretamente a administração Donald Trump, suas observações ocorrem no momento de uma ampla pressão imposta pelo governo federal aos principais órgãos de pesquisa americanos, com Washington cortando financiamento e suprimindo algumas áreas de estudo.
"Nossa missão sempre será defender o conhecimento e apoiar o trabalho que os cientistas fazem", disse Stjärne em uma entrevista em seu escritório em Estocolmo, onde um retrato da mãe de Alfred Nobel, Andriette, fica ao lado de sua mesa. "Essa tarefa é ainda mais importante do que costumava ser, porque em tempos turbulentos as pessoas estão em busca de esperança."
Os prêmios Nobel há muito tempo estão no radar de Trump. Ele já expressou frustração por não ter ganho o da Paz —seu antecessor, Barack Obama, foi laureado.
Em fevereiro, Trump disse que merecia o prêmio por seu trabalho para acabar com o conflito em Gaza, mas que o comitê responsável pela láurea nunca a concederia a ele. O conselheiro de Segurança Nacional, Mike Waltz, disse acreditar que seu chefe poderia ganhar o prêmio, inclusive por seus esforços para pôr fim à guerra na Ucrânia.
Perguntada se teme uma nova disputa se Trump não for anunciado como sendo o vencedor em outubro, Stjärne respondeu: "Há tantas pessoas que querem o Prêmio Nobel. Se você olhasse na minha caixa de correio, encontraria sugestões —muitas sugestões— todos os dias."
Neste ano, os prêmios Nobel provavelmente serão ainda mais observados do que o habitual por seu potencial de serem vistos como um comentário sobre as tendências políticas contemporâneas.
Um movimento dos EUA chamado "Stand Up for Science" vem protestando contra os cortes de financiamento planejados pelo governo federal e contra restrições motivadas por questões ideológicas em pesquisas em áreas como diversidade, mudanças climáticas e vacinas. Trump escolheu Robert F. Kennedy Jr., cético em relação a vacinas, para ser secretário de Saúde.
A Fundação Nobel tem o dever de "proteger o conhecimento" e combater a "rápida disseminação" da desinformação científica que mina injustamente os resultados da pesquisa, de acordo com Stjärne, ex-jornalista e executiva de mídia que assumiu o cargo em janeiro.
Os prêmios fundados pelo inventor da dinamite Alfred Nobel devem incorporar "liberdade de pensamento" e "habilidade dos cientistas de trabalharem sem restrições", acrescentou.
Os prêmios Nobel de Medicina ou Fisiologia, Física e Química representam metade das láureas a cada ano. Os outros são de Economia, Literatura e Paz.
Entre os cientistas que já receberam a láurea estão Albert Einstein, Marie Curie e Alexander Fleming, que descobriu a penicilina, um antibiótico que salva vidas.
Stjärne, a primeira diretora-executiva feminina da Fundação Nobel, reconheceu críticas aos três prêmios de ciência por sua falta de diversidade. Todos os sete vencedores do ano passado eram homens —as mulheres representam só 26 dos mais de 600 laureados nomeados desde os primeiros prêmios em 1901.
Os comitês que concedem as honras científicas estão "cientes dessa crítica" e existe uma "discussão em curso" sobre como respondê-la, disse Stjärne.
Os prêmios eram frequentemente concedidos por trabalhos realizados muitos anos atrás, quando a ciência era ainda mais dominada por homens do que agora, acrescentou a diretora-executiva.
Cada Nobel é decidido por um comitê especial, com a maioria das indicações sendo de milhares de pesquisadores e de pessoas de outras áreas.
As indicações para o Nobel da Paz só podem ser feitas por pessoas que atendam a certos critérios, como membros de governos nacionais ou legislaturas. O comitê do prêmio disse ter recebido 338 indicações para o prêmio deste ano até o prazo de 31 de janeiro e os nomes são mantidos em sigilo.