O primeiro, do qual esta colunista fez parte, foi para jornalistas e produtores de conteúdo. O segundo, no decorrer desta semana, dedicado a dez clientes da montadora - e seus acompanhantes. Foram duas bases: Salta e Cafayate. Porém, para quem vai fazer o roteiro em apenas dois dias (e três noites), uma opção é concentrar a hospedagem apenas no primeiro destino.
Chegada ao norte da Argentina
Há voo direto de São Paulo (Guarulhos) a Salta, mas a frequência é semanal. Por isso, fiz conexão em Buenos Aires, voando do Brasil à capital argentina de Latam e, depois, até a cidade do norte, de Aerolineas Argentinas. Como a malha aérea do país vizinho não é das melhores, e conexões longas são frequentes, a viagem pode ser bem demorada - até por isso, vale a pena ficar mais de dois dias.
Cheguei a Salta no fim do dia e já parti para conhecer a gastronomia local. As empanadas salteñas têm uma peculiaridade: além de carne, são recheadas de milho e batata. Outro destaque é o tamal, que parece uma pamonha recheada de carne. Pratos à base de quinoa também são tradicionais.
A hospedagem em Salta foi no hotel Alejandro I, um dos mais sofisticados da cidade e próximo à praça central. Tem quartos amplos, banheiros com banheira e ducha de excelente pressão, toalhas e roupas de cama de muita qualidade e decoração clássica. O café da manhã inclui pratos quentes preparados na hora e buffet com muitas especialidades argentinas - como doce de leite e medialuna
Salta é uma bonita cidade com centro animado e repleto de bares e opções gastronômicas, mas não pude explorar muito o local, já que o foco era outro: a expedição pelo entorno.
Primeiro dia
No dia seguinte, partimos para o primeiro dia de expedição às 6h, e ainda estava escuro. Nesta época do ano, o sol nasce a partir das 8h na região. A bordo de uma Rampage Laramie a diesel, partimos em direção ao norte pela Ruta 9, com muitos pontos de pista dupla. Ainda estávamos nessa via quando o dia amanheceu e, a seguir, entramos na Ruta 52.
Esta via, de pista simples, é conexão importante entre Argentina e Chile. Ali, encontramos a Quebrada de Hamahuaca (quebrada significa vale). De um lado, o Rio Grande, que é de desgelo (por isso, fica seco nesta época do ano). Do outro, as peculiares montanhas coloridas da região de Jujuy.
Estávamos próximos também à fronteira entre Argentina e Bolívia. As montanhas da Ruta 52 fazem parte dos Andes, mas são chamadas de pré-cordilheira - por serem um pouco mais baixas. As da cordilheira estão logo atrás, em direção ao Chile, e são mais bem avistadas a partir da Ruta 40 - da qual falaremos mais adiante.
Em Purmamarca, avistamos uma montanha tão colorida que é chamada de Cerro de Los Siete Colores (Morro das Sete Cores). A partir daí, começamos uma subida pelas montanhas de Jujuy. Pouco antes do topo, um mirante permite ver grande parte da estrada serrana que havíamos deixado para trás. Lembra o famoso cartão postal da Serra do Rio do Rastro, em Santa Catarina.
A temperatura despencava a medida que a altitude subia. Quando atingimos 4.170 metros de altitude, chegamos ao topo. Há um mirante com uma placa indicando esse marco. O termômetro da Rampage marcava 10 graus, ante os 22 graus de Salta, no mesmo momento (por volta do meio dia).
Mas, por causa dos fortes ventos, a sensação térmica era de zero grau. Com ar rarefeito, pode ser também mais difícil respirar (leia mais abaixo).
A descida: cordilheira e deserto de sal
Em seguida, começamos uma descida, e as montanhas ficaram mais altas. A pré-cordilheira deu lugar à cordilheira, e fomos percorrendo os Andes, pela Ruta 52, até o grande destaque desse primeiro dia: Salinas Grandes.
O salar, ou deserto de sal, é o segundo maior da América do Sul, atrás do boliviano Salar de Uyuni. O piso de sal forma desenhos naturais em algumas partes, e a região é cercada pelas imensas montanhas andinas. É uma paisagem peculiar que causa grande deslumbramento.
Mas não para por aí. Avistamos cabanas que lembram iglus do círculo polar ártico, mas então nos lembramos de que estávamos em um deserto de sal na Argentina. Este é o exclusivo Pristine Luxury Camping.
Trata-se de um conceito de hospedagem que ficou mais conhecido durante a pandemia, e é chamado de glamping (ou camping de luxo). As pessoas procuram esses locais em busca de contato com a natureza, mas sem perrengue.
As cabanas são luxuosas, com closet e bem equipados banheiros privativos, além de grandes áreas de vidro para observar o salar - com cortinas black-out, para que a luz não atrapalhe o sono. Todas têm varanda.
São vários tipos de cabana. A menor têm diária em torno de R$ 5.700, para duas pessoas, e as maiores incluem ofurô a céu aberto. O sistema de alimentação é all inclusive - a cabana maior é um restaurante com pratos que incluem ingredientes típicos dessa região em que Argentina faz fronteira com Chile e Bolívia.
E, aqui, conheci uma outra variedade gastronômica do norte do país: a lhama. Sua carne está em ensopados e até em um tipo de mortadela. No Pristine, um dos principais objetivos do hóspede é observar as belas noites estreladas do deserto.
Retorno
Na viagem de volta a Salta, retornamos à Ruta 52, agora subindo no caminho oposto, em direção a Purmamarca. Aqui, uma observação importante válida para o momento de escolher que carro alugar: a altitude tem grande efeito no desempenho dos veículos.
No ponto mais alto do trajeto, senti grande perda da capacidade de acelerar e retomar da Rampage a diesel. Quanto maior a altitude, maior é a sensação. É que o propulsor recebe menos ar, o que compromete a entrega de potência.
A estimativa é de que o modelo, de 170 cv, tenha pedido cerca de 40%. O mesmo ocorreu com as versões a gasolina. Porém, como têm 272 cv, quem estava ao volante não sentiu, já que a Ruta 52 é bem travada, quase sem retas e com pouca possibilidade de acelerar mais forte.
Isso reforça a importância de alugar um carro com boa potência e torque alto, principalmente se ele estiver carregado de bagagem. Vale ressaltar que o efeito da altitude é maior em modelos aspirados.
Por isso, na Rampage turbodiesel, mesmo que este tenha sido sentido, não foi nada que comprometesse a capacidade do carro de subir a estrada pelas montanhas e vencer o desafio com segurança. É que, como o modelo tem um desempenho muito bom em condições normais, deu para notar que não estava entregando seu máximo.
Mas, de volta à Ruta 52, além de divertida e rodeada por paisagem bela, a estrada chama a atenção pela qualidade do piso - bem superior ao da Ruta 9. É eficiente o trabalho de conservação, embora existam alguns trechos com ondulações.
A parada final foi em Purmamarca, uma pequena cidade entre montanhas que tem como atração principal feiras de artesanato dos povos indígenas que muito contribuem para cultura e história da região. Há muitos artigos de lã de lhama, o animal que é símbolo dessa parte da Argentina.
Após Purmamarca, voltamos à Salta para passar a segunda noite da expedição no hotel Alejandro I, no qual chegamos às 20h. Rodamos cerca de 700 km no primeiro dia.
Rumo ao Sul
O segundo dia na estrada apresentou uma nova possibilidade no norte da Argentina. Desta vez, de Salta ao sul, tendo como ponto final Cafayate. A saída foi mais tarde, às 8h, pois a distância é de 190 km apenas.
Desta vez, o caminho foi pela Ruta 68, que parecia ser, inicialmente, mais um trecho de pré-cordilheira, embora com montanhas mais altas. Mas o roteiro reservava muitas surpresas. A primeira delas: a Garganta del Diablo (Garganta do Diabo).
Trata-se de um desfiladeiro de rocha vermelha com paredes de quase 50 metros e abertura que lembra uma garganta. Por lá, além da bela atração natural, há barraquinha de artesanato.
A atração está no Vale do Calchaquí e, dali em diante, as montanhas começam a mudar. As coloridas vão sendo substituídas por mais vermelhas, e mais baixas. Em alguns pontos, são como esculturas naturais de pedras. Em outros, lembram paisagens de estradas do oeste americano, dessas que a gente tanto vê em road movies. É um cenário completamente diferente do que conhecemos no dia anterior.
A Ruta 68 tem a mesma qualidade de conservação da 52. Mas, diferentemente do primeiro dia, desta vez não subimos entre as montanhas nem encontramos as mais altas da Cordilheira dos Andes. Ficamos em um trecho mais plano, sem subidas e descidas, na pré-cordilheira.
Ruta 52 e Ruta 68 não foram as únicas estradas icônicas do trajeto. Ainda teríamos um encontro com mais uma: a lendária Ruta 40.
Cafayate
Quando pensamos em vinhos argentinos, a primeira referência é Mendoza. Porém, mil km ao norte, Cafayate também se dedica à produção da bebida. Na cidade, inclusive, há o Museu do Vinho.
Rodeada de montanhas, Cafayate tem inúmeras vinícolas. Em uma delas, está o segundo hotel da RAM Expedition, o charmoso Grace Cafayate. Com suítes e vilas que partem de 40 metros quadrados e podem ultrapassar os 100 m², traz coisas como banheiro com amplo uso de vidro, para que os hóspedes possam usar a banheira ou o chuveiro olhando as montanhas e as vinícolas.
O banheiro tem chão aquecido e as vilas maiores oferecem imensa varanda com churrasqueira e uma jacuzzi ao ar livre. O hotel tem também restaurante, spa e piscina, e fica na Ruta 40, a mais famosa estrada da Argentina.
Cafayate, aliás, é uma das cidades que fazem parte do roteiro turístico da Ruta 40, que corta a Argentina de norte ao sul, com muitos trechos ao lado da Cordilheira dos Andes. A estrada parte do norte, pouco acima de Salta, e vai até Ushuaia, no extremo sul.
Como Salta e Cafayate estão separadas por pouco menos de 200 km, dava para retornar à primeira no mesmo dia. Mas vale a pena passar apenas uma noite no Grace, e aproveitar para conhecer os restaurantes da cidade. Fomos ao Bad Brothers Wine Experience, que oferece experiência de harmonização de vinhos com churrasco.
À Salta, para o voo de volta (também com conexão em Buenos Aires), retornamos na manhã seguinte. O roteiro de ida e volta à Cafayate foi de quase 400 km. Com isso, rodamos mais de mil km nos dois dias de expedição e no deslocamento de retorno (em um terceiro dia).
Dicas importantes
Nos dias que passei no norte da Argentina, a temperatura estava mais alta do que o comum para o inverno da região. Em Salta, chegou à máxima de 27 graus. Porém, na altitude, é quase sempre frio. Por isso, é importante levar roupas adequadas, como casacos pesados e proteções como blusas e calças segunda pele.
Outra dica é a hidratação. A região é semidesértica. Além disso, a ar rarefeito pode causar falta de ar e efeitos como dor de cabeça. Tomar água constantemente ajuda a evitar, ou ao menos amenizar esses sintomas.
É importante também levar no carro snacks, pois no primeiro dia foram longos trechos sem locais para alimentação. E também sem possibilidade de reabastecer o carro. Por isso, fique muito atento a este detalhe, pois as subidas extremas aumentam muito o consumo de combustível.
Outra dica importante é estudar o roteiro e salvar os mapas antes de sair, para usar o GPS offline. Por causa das montanhas, a maior parte do caminho fica sem sinal de internet. Quanto à sugestão de carro com potência e torque adequados, esta serve apenas para a parte de Jujuy.
Entre Salta e Cafayate, não atingimos grandes altitudes e não houve nenhuma mudança sensível no comportamento do carro. Quanto à locação de veículo, pode ser feita no aeroporto de Salta, mas convém reservar.
Por meio do site Rentcars.com, que reúne ofertas de diversas locadoras, encontrei opções desde R$ 750 para um roteiro como o meu, de três notes (R$ 250 por diária, já com impostos, taxas e seguro incluídos). Mas esse valor é para um carro econômico.
SUVs com motores turbo e sedãs como Corolla e Cruze, por exemplo, partem de R$ 1.500 (R$ 500 a diária). Para picapes, o valor inicial é de R$ 2.000 para os três dias (a pesquisa foi feita considerando uma viagem de fim de semana, com chegada na sexta-feira e retorno na segunda-feira).
Opinião
Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
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