Reconhecido pelo humor irreverente e pela alta velocidade, Sonic enfrentou obstáculos antes de estrear nos cinemas. Se hoje ele corre pelas salas de exibição uma terceira vez, não foi fácil cruzar a linha de chegada em 2020, quase três décadas depois de criado.
O visual em live-action do ouriço azul foi rechaçado com a divulgação do primeiro trailer, que revelou o apego dos fãs pelo design original e forçou a Paramount a repensar estratégias. A tentativa de transformar o personagem em ser realista deu lugar a uma versão cartunesca, e o filme alcançou uma das maiores bilheterias daquele ano.
Quatro anos mais tarde, "Sonic 2" se mantém como a sexta adaptação mais rentável de um jogo para o cinema, e o diretor Jeff Fowler entrega o novo capítulo como presente de Natal.
"É o melhor desafio possível ter esse universo que existe há 33 anos à disposição. São muitas histórias e jogos, e tivemos a sorte de ter tido o nosso próprio tempo para trazê-lo aos cinemas", afirma o cineasta.
Além do impacto sobre decisões estéticas, Fowler reconhece a importância dos fãs para o crescimento da saga nas telonas. Ele diz que os produtores estão sempre atentos às expectativas e apostas feitas online.
"Nós adoramos acompanhar as discussões sobre quais personagens serão os próximos a aparecer. Isso mantém a energia dos fãs e é ótimo que existam tantas opções que as pessoas queiram ver nesses filmes."
Se nas outras empreitadas o antagonismo se concentrava no desajeitado Doutor Robotnik, cientista maléfico interpretado mais uma vez por um empolgado Jim Carrey, Sonic também terá de enfrentar outro inimigo, uma ameaça fabricada em laboratório que parte em busca de vingança.
Criado em 2001, o ouriço Shadow surgiu como um oposto ao protagonista. Sua pelugem vermelha e preta e as motivações sombrias —mas justificadas pelo passado trágico— contrastam com o virtuosismo de Sonic. Ele surge como complemento mas estrela seu primeiro jogo solo em 2005 e se torna figurinha carimbada de outros exemplares.
"Tanto Shadow quanto Sonic vieram para a Terra de outros mundos, mas eles tiveram experiências completamente diferentes. O Sonic teve a família, os amigos, a vida perfeita. Shadow não teve nenhuma dessas coisas, tudo foi tomado dele. Trazer ele foi a melhor maneira de desafiar Sonic e sua equipe", afirma Fowler.
Se Shadow já vinha como figura emblemática, ficou ainda mais popular no Brasil quando apareceu em um meme viral. A adição do anti-herói ao universo cinematográfico foi revelada em uma cena pós-créditos do segundo capítulo, imortalizada pelos gritos de Nicolas, pelos personagens, que percorreram as redes sociais.
Representante de diversas crianças, o garoto vive um entusiasmo construído além das exibições. Dos vídeos de TikTok, passando pelos produtos licenciados e chegando às festas temáticas, Sonic é celebrado até mesmo pelos que nunca viram um Mega Drive —console que lançou o ouriço azul pro mundo— ou sequer jogaram qualquer jogo da franquia.
Apesar de não lembrar da gravação em específico, Fowler dividiu com Nicolas os bastidores da CCXP 2024, quando a Paramount decidiu homenagear o menino em um painel sobre o novo filme.
"Uma das minhas coisas favoritas no mundo é ver as pessoas reagirem a esses teasers dos novos personagens. E eu sei que o Brasil é uma ótima base de fãs para o Sonic", afirma o cineasta.
Responsável por dar voz à imponência de Shadow, quem também se une ao time de nomes como Ben Schwarz e Idris Elba é o astro da saga "John Wick", Keanu Reeves —embora a exibição em cabine dublada e aberta a crianças tenha impedido a imprensa brasileira de conferir seu trabalho.
Segundo Fowler, os trabalhos recentes do ator influenciaram as sequências de ação. "Keanu era o único nome na lista de pessoas que pretendíamos chamar. Ele era o sujeito perfeito e estava completamente consciente do que os fãs amam sobre Shadow e sua história", diz ele.
Na tentativa de se manter tão ágil quanto o próprio protagonista, "Sonic 3" aposta em nomes de sucesso, novos personagens e uma cadeia de cenas de ação que parece ter saído diretamente de um videogame.
As piadas que demonstram a especialidade do ouriço azul em cultura pop também estão de volta, e a receita de outra jornada para todas as idades já vem dando resultados.
Em seu primeiro dia de pré-estreia nos Estados Unidos, o longa arrecadou quase o dobro de outro blockbuster desse fim de ano: o prelúdio do "Rei Leão" de 2019, que detém a décima maior bilheteria de todos os tempos, "Mufasa".
Se Sonic é incapaz de reconhecer a voz de um dos seus ídolos —conforme revela uma cena do primeiro filme, em que assiste "Velocidade Máxima" como se a vida dependesse disso—, é certo que antigos e novos fãs terão muito o que identificar na tela.