
Não é só simbólico. O protagonismo feminino ali é fruto de um trabalho de anos. O grupo Women@Renault atua desde 2010 para promover um ambiente mais inclusivo. Nesse período, o número de mulheres em cargos de liderança na empresa mais que dobrou - passou de 12% para 27%. Nas áreas administrativas, já representam 30% da equipe. Além disso, a empresa zerou a diferença salarial entre homens e mulheres em funções equivalentes de gestão.
Mas o esforço vai além das planilhas. O programa investe na formação de lideranças femininas com iniciativas como o WomenGoTop, que promove mentoria entre colaboradoras, e a Women Academy, que será lançada em março de 2025 para desenvolver competências técnicas e de gestão em diversas áreas.
Outro exemplo: os uniformes e EPIs foram repensados para oferecer mais conforto e funcionalidade às mulheres da produção. Agora, existem até mesmo calças e blusas específicas para mulheres grávidas. Parece detalhe, mas revela algo maior - o reconhecimento de que inclusão exige ajustes reais, e não apenas discursos.
E se a mudança dentro da fábrica chama atenção, o impacto fora dela é igualmente significativo. Durante a visita, conheci o trabalho da Associação Borda Viva, apoiada pelo Instituto Renault. Localizada na periferia de São José dos Pinhais, a organização promove segurança alimentar para crianças e capacita mulheres para geração de renda. Bolsas feitas com materiais reaproveitados viraram símbolo de um empreendedorismo que transforma realidades. Desde 2002, mais de 110 mil pessoas já foram beneficiadas.

Esse tipo de conexão entre indústria e território é fundamental. Porque não basta promover diversidade dentro das empresas, é preciso olhar para a comunidade que as cerca.
O Complexo Ayrton Senna, que abriga duas unidades produtivas e mais de 5 mil colaboradores, também é aterro zero desde 2016 e mantém 40% da área preservada, com mais de 100 espécies de aves e 28 mamíferos catalogados.
Com tantos marcos, é inevitável se perguntar: se uma montadora consegue zerar a diferença salarial entre homens e mulheres e aplicar políticas reais de inclusão, por que isso ainda é exceção no setor automotivo brasileiro?
A resposta talvez esteja em decisões de longo prazo. O Women@Renault tem metas globais até 2050 - como atingir 50% de mulheres em cargos de gestão - e um comitê executivo de diversidade e inclusão liderado pelo próprio presidente da marca no Brasil. Há governança, cobrança e acompanhamento.
É claro que há muito ainda a evoluir. Representatividade feminina em áreas técnicas ainda é um desafio. Mas sair de lá com dados concretos, histórias reais e projetos consistentes me deu algo incomum de encontrar numa pauta de indústria: esperança.
E um lembrete importante: diversidade não é tendência, é urgência.
Reportagem
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