Com meta 'lixo zero', San Francisco, Treviso e Xangai dão exemplo na redução de resíduos

há 4 meses 25

Reduzir o impacto ambiental negativo nas cidades faz parte do 11º Objetivo do Desenvolvimento Sustentável (conhecido pela sigla ODS) da ONU (Organização das Nações Unidas) até 2030.

A importância de atacar localmente as poluições de todos os tipos para frear a crise do clima é consenso desde que os cientistas mostraram que as atividades urbanas são grandes geradoras de gases-estufa. Entre essas atividades, está a crescente geração de lixo.

Planeta em Transe

Uma newsletter com o que você precisa saber sobre mudanças climáticas

Em San Francisco (EUA), considerada cidade-modelo de sustentabilidade, o tratamento correto de resíduos está na pauta e na lei desde os anos 1990. Em Xangai, na China, melhorias em logística, multas e recompensas trouxeram mudanças sensíveis na gestão de resíduos nos últimos cinco anos.

Para auxiliar as comunidades a reduzirem o desperdício e a geração de resíduos, organizações como a Cidades Lixo Zero têm ajudado no processo. A ONG, hoje em 24 países, atua desde 2013.

Para fazer parte da rede, a cidade tem de se comprometer publicamente com o objetivo de reduzir a produção de resíduos, melhorar a coleta seletiva e ter sistema verificável de resultados. Uma das cidades referência do movimento é Treviso, na Itália.

Seja em megacidades, como Xangai, seja nas menos populosas, como Treviso, o sucesso das experiências depende de campanhas de esclarecimento e de separação de resíduos em pelo menos três frações, para possibilitar o tratamento de orgânicos.

San Francisco composta e doa comida

Cidade referência mundial em compostagem, San Francisco também recupera alimentos em bom estado e os destina à população carente. A cidade tem cerca de 880 mil moradores e estima-se que 1 em cada 4 dos seus habitantes precisa de auxílio para alimentação.

A iniciativa articula negócios como cafés, restaurantes, mercados e hotéis com associações e bancos de alimentos.

Desde o início do programa, em 2019, foram recuperadas quase 9.000 toneladas de comida, que deram para preparar 8 milhões de refeições. Direcionar esses alimentos aos moradores evitou a liberação de aproximadamente 195 toneladas métricas de metano dos aterros (ou 5.460 toneladas métricas de CO2 equivalente).

A redução das emissões e o envio menor aos aterros ajudam a cidade a cumprir seus objetivos de desperdício zero: cortar a geração de resíduos em 15% e o que é enviado para aterros em 50%.

O programa de compostagem da cidade californiana é pioneiro e o mais importante nos EUA. Começou em 1996 como um movimento de comerciantes do mercado central. Na sequência, redes hoteleiras passaram a coletar restos de alimentos para compostagem e, em 2001, foi iniciado um programa-piloto no distrito de Richmond.

Em 2009, foi a primeira cidade do país a exigir a compostagem e a reciclagem através da coleta em três tipos de contentores de cores diferentes colocados nas calçadas: verdes para compostáveis, azuis para recicláveis e pretos para rejeitos.

Atualmente, restos de comida e de podas nas lixeiras verdes viram composto que é vendido aos agricultores locais.

San Francisco também tem uma lei rígida contra o uso de isopor e um programa de devolução de medicamentos vencidos que já desviou cerca de 63 toneladas de aterros sanitários e do descarte indevido no oceano.

Todas essas medidas mostram seus efeitos. A população da cidade cresceu 21% de 1990 a 2020, e as emissões globais do município diminuíram 48%. As projeções atuais são de que alcançará redução de cerca de 61% nas emissões até 2030.

Xangai constrói maior usina de resíduos úmidos do mundo

Xangai está turbinando o que promete ser a maior usina de reciclagem de resíduos úmidos do mundo. A cidade de mais de 24,8 milhões de habitantes gera 7.000 toneladas de resíduos orgânicos por dia.

A usina faz parte de um complexo dedicado ao tratamento de resíduos em Laogang, nos arredores de Xangai, onde funcionou um dos maiores aterros da Ásia nos anos 1980. O local abriga também uma incineradora.

Atualmente, a usina tem capacidade de processar 2.500 toneladas de resíduos por dia. Em maio de 2025, quando estiver terminada a fase 3 do projeto, deve pular para 4.500. Da reciclagem de orgânicos, a usina consegue gerar energia, fertilizante e ração animal.

A China, segundo maior gerador de resíduos urbanos do mundo, depois dos EUA, começou um grande plano de mudança na gestão do lixo em 2017, com regulamentos para a triagem de 46 grandes cidades.

Em junho de 2020, os moradores de Xangai passaram a separar os resíduos domésticos em quatro frações: lixo úmido (restos de comida), lixo seco, resíduos recicláveis e resíduos perigosos. Há multa para quem não respeita a classificação e para empresas que não disponham de contentores corretos.

O governo investiu para ensinar a população a fazer o descarte correto, com games para celular, simuladores de realidade virtual e lixeiras inteligentes, que pesam o lixo e atribuem créditos ao morador. A personagem Peppa Pig virou guia sobre o que fazer e o que não fazer em relação aos resíduos de cozinha.

Em março de 2024, entrou em vigor uma resolução para restringir a produção, venda e utilização de produtos de plástico descartáveis, como sacolas, talheres e copos plásticos. O volume desses itens chega a 95 milhões de toneladas por ano, segundo a agência Yicai.

A nova norma sugere que lojas de bebidas deem descontos para clientes que tragam os seus próprios recipientes, entre outras medidas.

Treviso é campeã 'lixo zero' da Itália

Com coleta seletiva que cobre 85% da população, a cidade de Treviso, de quase 85 mil habitantes, faz parte de uma região atendida pelo consórcio Contarina, que gerencia resíduos de 50 municípios italianos e se tornou uma referência no país.

Os bons indicadores, de acordo com a empresa, envolvem a combinação de eficácia na coleta segregada porta a porta e de tributações diferenciadas (que premiam quem gera menos e oneram que gera mais e não separa).

Os resíduos são coletados em cinco ou seis tipos de lixeiras: alimentos e resíduos verdes, papel e papelão, vidro, plástico e latas e rejeitos. As práticas foram desenvolvidas com apoio de especialistas da rede Cidades Lixo Zero.

Os materiais são colocados em sacos compostáveis distribuídos gratuitamente que devem ser postos fora de casa em dias específicos. Duas vezes por semana, são recolhidos os orgânicos. Papéis e vidros, uma vez por semana. Plásticos, a cada 15 dias. E os rejeitos —o que não é passível de reciclagem— são recolhidos com intervalo maior que 15 dias.

O custo do serviço ao usuário, família ou empresa é proporcional aos resíduos gerados, o que já incentiva a redução de geração. Mas não só. A tarifa é dividida em duas cotas, uma fixa e uma variável.

A fixa depende do número de pessoas do loca,l e a variável é calculada de acordo com dois fatores: aumenta quando há rejeito (material não segregado) e diminui quando o usuário envia pouco material orgânico, por fazer compostagem doméstica. A redução pode chegar a 30% do valor variável.

Desde 2001, uma central de compostagem recebe os resíduos orgânicos e produz composto para agricultura.

Mais recentemente, desde 2023, parte dos orgânicos também é usada para produção de gás e biometano. O combustível resultante serve para mover os cerca de 230 caminhões de coleta.

Leia o artigo completo