O Escritório Nacional de Estatísticas da China, equivalente ao brasileiro IBGE, anunciou em entrevista coletiva em Pequim, na manhã desta sexta (17), noite de quinta no Brasil, que o crescimento do Produto Interno Bruto do país foi de 5%.
O resultado foi creditado aos estímulos adotados no final do ano, que levaram o crescimento do último trimestre a 5,4%. Outros dados divulgados apontaram que o crescimento industrial em 2025 foi de 6,2% e que as vendas no varejo aumentaram 3,7% em dezembro, acima das estimativas de mercado.
O resultado do PIB havia sido adiantado pelo líder Xi Jinping na véspera do ano novo, em pronunciamento à Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPC), o principal órgão consultivo do regime. Ele afirmou então esperar crescimento de cerca de 5% para o ano de 2024, segundo a agência Xinhua.
"Diante dos desafios impostos pela dinâmica em evolução no país e no exterior, respondemos calmamente com uma série de medidas para atingir com sucesso as principais metas e tarefas de desenvolvimento econômico e social do ano, e demos novos passos sólidos no avanço da modernização chinesa", disse.
Horas depois, em pronunciamento nacional pela televisão, Xi acrescentou, sobre o quadro esperado de "desafios" também para 2025, com mais incerteza externa: "Como sempre, crescemos no vento e na chuva e ficamos mais fortes em tempos difíceis".
China, terra do meio
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Segundo projeções dos próprios órgãos chineses de planejamento, para atingir os objetivos de desenvolvimento mais qualificado delineados para 2035, o país precisa crescer pelo menos 4,7%, anualmente.
A série de medidas recentes de estímulo, mencionada por Xi, começou em setembro, diante do risco de não alcançar a meta de crescimento de 2024, evidenciada no terceiro trimestre. O Banco do Povo da China, o banco central do país, anunciou cortes nas taxas de juros e no compulsório, entre outras.
Seguiram-se medidas como a retirada de restrições à aquisição de residência nas grandes cidades e outros incentivos ao setor imobiliário. No movimento mais aguardado, o Congresso Nacional do Povo aprovou um programa de refinanciamento das dívidas dos governos locais de 10 trilhões de yuans (R$ 8 trilhões).
A meta nacional de crescimento para 2025 só deverá ser divulgada em março, durante as reuniões legislativas chamadas de "Duas Sessões". Mas nos últimos dias as principais províncias chinesas divulgaram as suas metas locais, indicando o que deverá ser projetado para o país como um todo.
A província de Guandong, que abrange Shenzhen, e as grandes cidades de Pequim, Xangai e Tianjin, que têm administração regional própria, apontaram "cerca de 5%" de crescimento do PIB local neste ano. A província de Fujian calculou de 5% a 5,5%, Zhejiang e Hunan, "cerca de 5,5%".
Em seus relatórios, os administradores de Guandong e Xangai, que são aquelas mais voltadas às exportações, reconheceram a vulnerabilidade aos esperados aumentos de tarifas nos Estados Unidos, durante o novo mandato de Donald Trump, e às eventuais restrições ao comércio com europeus.
Além dos esforços para "estabilizar" a relação com esses mercados, o governador de Guandong, Wang Weizhong, adiantou que vai procurar "expandir em mercados como Asean [países do Sudeste Asiático, hoje o maior parceiro comercial da China], Oriente Médio, América Latina e Ásia Central, ao mesmo tempo abordando o potencial da África e dos países das ilhas do Pacífico".
No final do ano, houve controvérsias em torno das estatísticas sobre a economia chinesa, envolvendo profissionais do próprio mercado financeiro do país.
Gao Shanwen, da SDIC Securities, falou há um mês num evento do Instituto Peterson, em Washington, não saber "o verdadeiro número do crescimento" e acrescentou: "Minha própria especulação é que nos últimos anos possa ser de cerca de 2%", em vez de 5%. Segundo o jornal The Wall Street Journal, ele teria sido "disciplinado" pelas autoridades chinesas.
Louis-Vincent Gave, da Gavekal Research, apontou há dois meses "preconceito cultural e político" como explicação para a surpresa ocidental, sobretudo de seus executivos, com os números do predomínio chinês em setores como veículos elétricos e energia limpa. "A cobertura implacavelmente negativa da China presta um péssimo serviço" aos clientes, escreveu em nota.