O consumo de analgésicos opioides registrou um aumento expressivo na última década, conforme aponta uma pesquisa inédita do Ministério da Justiça e Segurança Pública. Segundo os dados levantados, a taxa na população geral saltou de 0,8% em 2012 para 7,6% em 2023.
O estudo faz parte do Levantamento Nacional de Álcool e Drogas, uma pesquisa domiciliar conduzida pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) com financiamento da Senad (Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos).
O objetivo é mapear padrões de consumo e comportamentos associados ao uso de substâncias no Brasil. A pesquisa abrange indivíduos com 14 anos ou mais, selecionados em diferentes cidades do país.
Os dados foram divulgados nesta quarta-feira (26) durante o lançamento do Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas, no Ministério da Justiça. O levantamento inclui substâncias como morfina, tramadol, Tylex, dolantina, entre outras.
Os opioides são compostos que interagem com receptores do sistema nervoso para aliviar a dor e são amplamente utilizados no pós-operatório para amenizar desconfortos intensos. No entanto, seu uso inadequado pode levar à dependência, tornando-se um problema de saúde pública.
No Brasil, essas substâncias já circulam no mercado ilegal, chegando a usuários sem prescrição médica e fora do ambiente hospitalar, o que amplia os riscos associados ao consumo descontrolado.
Segundo a pesquisa, entre as mulheres, o crescimento foi ainda mais expressivo, saltando de 1% para 8,8% de 2012 a 2023.
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Para Marta Machado, secretária Nacional de Políticas sobre Drogas do Ministério da Justiça, os dados evidenciam a necessidade de maior atenção ao tema.
"Esses estudos significam um alerta para todos nós —para a sociedade, para os gestores da política de drogas e para a comunidade da saúde. Sabemos que o consumo abusivo de opioides no hemisfério norte, especialmente nos EUA, levou recentemente a uma epidemia de overdoses, que é justamente o que temos o dever de evitar que aconteça no Brasil", disse.
"É claro que vivemos hoje uma situação muito distinta, em que o mercado ilícito de opioides é reduzido e pontual, mas é fundamental aumentar nossa capacidade de antever, detectar e monitorar riscos e ampliar a nossa capacidade de responder rapidamente a esses riscos. Essa vem sendo uma prioridade da Senad", acrescentou.
A pesquisa mostra ainda que o uso de benzodiazepínicos é significativamente mais comum entre as mulheres. Quase uma em cada cinco já fez uso desses medicamentos ao longo da vida, e, no último ano, 12,7% delas recorreram a essas substâncias, em comparação com 7,6% dos homens.
Amplamente prescritos para tratar ansiedade e insônia, os benzodiazepínicos apresentam riscos quando utilizados sem acompanhamento médico, incluindo dependência e efeitos adversos no longo prazo.
O projeto Saúde Pública tem apoio da Umane, associação civil que tem como objetivo auxiliar iniciativas voltadas à promoção da saúde