Astrônomos seguem fechando o cerco ao Planeta 9

há 1 dia 2

Estamos prestes a completar uma década desde que os astrônomos Mike Brown e Konstantin Batygin, do Caltech (Instituto de Tecnologia da Califórnia), lançaram a bombástica hipótese de que o Sistema Solar de fato poderia ter um nono planeta, além de Netuno. A ideia do tal Planeta 9 segue não comprovada, mas não faltam evidências indiretas de que, como dizem por aí, algo errado não está certo nos confins do nosso sistema planetário.

Um novo estudo liderado por pesquisadores brasileiros, ao analisar o comportamento orbital de cometas de curto período, acaba de trazer mais uma pecinha desse estranho quebra-cabeças.

É, em certo sentido, mais do mesmo. Afinal, a hipótese originada pela dupla dos EUA se baseia nas peculiares órbitas de alguns TNOs (sigla inglesa para objetos transnetunianos), astros que residem além do oitavo planeta conhecido. Elas parecem se concentrar num alinhamento específico, que sugeriria a presença de um astro de porte planetário muito além de Netuno.

Seria algo bem maior que Plutão, o corpo celeste que passou praticamente o século 20 inteiro (ele foi descoberto em 1930) com a fama de nono planeta, até ser "rebaixado" pela União Astronômica Internacional ao status de planeta-anão, em 2006, por, diferentemente dos outros oito, não ser hegemônico em sua órbita, compartilhando-a com muitos objetos de vários tamanhos, inclusive alguns de mesmo porte que ele.

As discrepâncias orbitais nos TNOs sugerem a presença de um astro com massa intermediária entre a da Terra (o maior dos mundos rochosos do Sistema Solar) e a de Urano (o mais "leve" dos gasosos, embora tenha diâmetro ligeiramente maior que Netuno). Mas quanta massa exatamente? Em que posição?

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O trabalho que tem como primeiro autor Rafael Ribeiro de Sousa, da Unesp (Universidade Estadual Paulista) em Guaratinguetá (SP), publicado no prestigiado periódico de ciência planetária Icarus, parece delimitar um pouco melhor esse recorte. O esforço se concentrou não nos TNOs, distantes e difíceis de estudar, mas nos chamados cometas eclípticos, uma população caracterizada por órbitas relativamente curtas (períodos de 20 anos ou menos) e inclinações orbitais baixas (uns 20 graus).

Esses nós sabemos relativamente bem como estão distribuídos, já que é uma população mais facilmente monitorável por nossos telescópios. Será que eles se encaixam com a ideia de um Planeta 9 lá nos confins do sistema? O trabalho revelou que sim –se o tal mundo tiver uma massa mais modesta do que antes imaginado, algo como 7,5 vezes a da Terra, e não muito mais que isso.

Ainda de acordo com a pesquisa, a órbita aproximada do hipotético nono planeta teria uma distância média ao Sol de 600 unidades astronômicas –600 vezes mais distante que a Terra (para efeito de comparação, Netuno, o oitavo planeta, fica a 30 UA), com um achatamento orbital considerável (excentricidade aproximadamente 0,3, para os íntimos) e inclinação de uns 20 graus. Desnecessário dizer que, mesmo que esses parâmetros estejam certos, há enormes regiões do céu em que o tal objeto pode estar. Já vamos completar uma década de procura, e nada. Uma esperança deve vir com o Observatório Vera Rubin, que fará uma varredura ampla e sem precedentes do céu, em uma busca por, entre outras coisas, objetos como ele. Suas operações começam ainda neste ano.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras na versão impressa, em Ciência.

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