Análise: Jotabê Medeiros escreve romance musical na São Paulo dos anos 1980

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Nos últimos anos, o jornalista e escritor Jotabê Medeiros tem orientado sua carreira para as biografias. Relatos sobre Belchior, Raul Seixas e Roberto Carlos estabeleceram seu nome como uma referência no gênero.

Agora, quando está prestes a entregar uma biografia sobre Luiz Gonzaga, na qual trabalha há mais de três anos, surge nas livrarias "A Culpa é do Lou Reed". Uma obra de ficção, a primeira do autor, mas sem conseguir largar o hábito de contar a história real.

O personagem central, A. Copland, é um crítico de música vivendo em São Paulo. O ano é 1988, e nessa época Jotabê Medeiros também era um repórter de cultura morando na capital.

As semelhanças não param aí. A grande fauna de personagens ao redor de Copland era bem parecida com aquela que cercava o autor no cotidiano. Além de algumas figuras inventadas, algumas pessoas estão no livro com seus nomes reais. Outras, são, digamos, levemente modificadas.

"Era uma pequena elite de jornalistas. Hoje, a gente tem um leque maior de influencers, que falam para milhões. Naquela época era uma elite muito concentrada. Um pequeno núcleo de intelectuais que dava o tom das conversas, até do comportamento", afirma Medeiros.

Ele conta que resolveu escrever o livro a partir de um debate no auditório da Folha nos anos 1980, entre grupos do rock paulistano e os críticos do jornal, que viviam em animosidade.

"Estavam lá bandas como Voluntários da Pátria, Zero, RPM, Mercenárias, Inocentes... Um historiador do futuro não vai entender como esse debate foi tão importante, porque tinham apenas 150 pessoas ali. Eu morava em Londrina na época. Em cada cidade com pretensões de ser cosmopolita, uma meia dúzia de gatos pingados ficava repercutindo o que acontecia em São Paulo. E eu me dei conta que isso se perdeu. Não tem ainda uma revisão disso, do ponto de vista da literatura disponível. O Cadão Volpato está fazendo um pouco isso."

A ação do livro se passa em torno de um marco importante: o show da Anistia Internacional, no antigo estádio do Palmeiras, no dia 12 de outubro de 1988. Bruce Springsteen, Sting e Peter Gabriel se apresentaram pela primeira vez na cidade. Copland perambula pelo centro paulistano o dia inteiro, encontrando tipos curiosos, e vai ao show com Simone, groupie louca para pegar Springsteen e uma "quase" namorada do crítico.

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O centro de São Paulo é praticamente personagem do livro, exibindo uma efervescência bem distante do abandono de hoje. "O Centro parecia abrigar todo mundo. Esse ano que eu escolhi para o livro é muito simbólico, porque a cena do hip hop começa a ser construída. A música eletrônica encontrava seus primeiros lugares para ser tocada."

O escritor poderia certamente rever esse cenário em não-ficção, mas optou pela aventura romanceada. "Eu tenho sido biógrafo a maioria do tempo. Raul, Belchior... Eu poderia falar dessa cena de forma documental, mas falar disso num romance é mais o espírito daquela geração. Havia o apego por uma literatura pop, que existia e foi desaparecendo."

Em várias passagens, os personagens discutem o papel da crítica musical. O autor vê muitas mudanças de lá para cá. "A maioria do pessoal daquela época continua fazendo suas reflexões sobre música, mas não há como publicar de um modo visível." Para ele, os críticos veteranos estão fazendo um aprendizado em tempo real para tentar se inserir na cena digital.

"Os textos dos jornalistas de hoje me passam uma falta de vivência de quem escreve. Tudo o que eu leio está encharcado dessa falta de vivência. Um moleque pode saber mais do que um veterano sobre Secos & Molhados, ele pode ter mais informação, mas não viu a banda ao vivo, não sentiu o nascimento de uma psicodelia cabocla bem na sua frente."

O autor consegue encaixar na narrativa figuras midiáticas da época, como o caçador de celebridades Beijoqueiro, o bandido Escadinha, que fugiu da cadeia de helicóptero, e até Max Headroom, personagem cibernético criado para a TV, praticamente uma pré-história da IA. "Max Headroom trazia essa discussão de que as invenções eletrônicas iriam tomar conta de tudo. E hoje a gente vive a mesma coisa."

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