Maior feira de cultura pop do país, a CCXP, ou Comic Con Experience, terminou sua 11ª edição com seus visitantes segurando sacolas mais cheias que o habitual neste domingo.
Com uma programação mais carente de nomes de alto calibre –um dos pontos altos do evento é receber atores e diretores de grandes produções de Hollywood–, os visitantes que pagaram até R$ 580 por um dia de ingresso tiveram mais tempo para ir às compras.
Filas enormes contornavam estandes de lojistas, mais do que os auditórios onde normalmente acontecem painéis e debates com artistas. Numa nota positiva, essa ausência aumentou o destaque da Artists’ Valley, ala destinada a artistas e quadrinistas e alma das Comic Cons ao redor do mundo.
Havia uma celebridade ou outra, é claro, como Norman Reedus, da já esquecida "The Walking Dead", e Anya Taylor-Joy, de "O Gambito da Rainha". Na feira, eles divulgavam, respectivamente, os filmes "Bailarina" e "Entre Montanhas".
Mesmo assim, a escalação foi tímida se comparada à edição do ano passado, que trouxe a própria Taylor-Joy, acompanhada de Timothée Chalamet, Zendaya, Austin Butler e Florence Pugh, os nomes mais quentes da nova geração de Hollywood. Veio também a veterana Jodie Foster, protagonista da mais recente temporada de "True Detective".
Todos estavam ali pelas mãos da Warner Bros. Discovery, que neste ano limitou sua presença a convidados menos ilustres, como os dubladores brasileiros de "A Guerra dos Rohirrim", anime de "O Senhor dos Anéis" que estreou na última quinta-feira.
Montada no centro de convenções São Paulo Expo, a CCXP 2024 trouxe ainda Adam Scott, da série "Ruptura", Sandra Oh, dubladora da animação "Invencível", e James Marsden, ator de "Sonic 3".
São nomes e conteúdos com sua legião de fãs, mas nenhum com poder suficiente para reunir multidões ensandecidas como fez Will Smith há sete anos, quando causou tumulto ao caminhar pelos corredores do local, e Tom Holland, o Homem-Aranha, que fez o chão do auditório Thunder tremer tamanha a empolgação da plateia, pega de surpresa pela sua aparição não anunciada pela Disney.
Foi a ausência desse estúdio, aliás, a mais notável desta CCXP. Dona de uma galeria vasta de personagens nerds, parte de franquias como o Universo Cinematográfico Marvel e "Star Wars", a Disney tinha os painéis mais concorridos. Em 2019, a empresa causou tumulto ao exibir "Frozen 2" em primeira mão.
Mas, neste ano, a companhia de Mickey Mouse preferiu erguer sua própria versão da CCXP, a D23 Brasil, que em outubro reuniu estandes e artistas como Anthony Mackie, o novo Capitão-América, David Harbour, que lança o filme "Thunderbolts*", além de Kevin Feige, o chefão da Marvel.
Assim, a verba e a energia restantes puderam apenas erguer uma loja de bichinhos de pelúcia no São Paulo Expo neste fim de semana.
Nos moldes da Disney, a Netflix também criou sua própria feira pop no Brasil, o Tudum, e não deu as caras na CCXP. O gigante do streaming tinha a fama de fazer as atividades mais caprichadas do evento e já extasiou o público ao trazer atores de "Stranger Things", "The Witcher" e "Wandinha".
Ao menos com a ausência de Netflix e Disney, e com a tímida presença da Warner, estúdios e plataformas menores viram oportunidade para crescer e apresentar séries e filmes que fogem do óbvio. Caso do próprio Apple TV+, que em seu segundo ano de CCXP trazia um dos estandes mais disputados ali, e da Crunchyroll.
No geral, o público deste ano se contentou em gastar tempo —e dinheiro— nas lojas, que parecem se multiplicar a cada ano. Um dos locais mais lotados desta edição, por exemplo, foi a FunLab, da Riachuelo, que vendia roupas, louças e pelúcias licenciadas de marcas como "Harry Potter", "Friends" e até do filme "Wicked", em cartaz nos cinemas. Nem os preços inflacionados, com camisetas saindo a R$ 159,90, afastou o público.
Se em anos mais distantes apenas lojas conceituadas ocupavam estandes megalomaníacos, hoje vendedoras genéricas de colecionáveis disputam a atenção com letreiros em neon cada vez mais luminosos.
Apesar de cheios, os estandes não tiveram tanto empurra-empurra quanto antigamente. Este foi um ponto positivo da feira como um todo, que parecia mais espaçosa —no sábado, dia habitualmente entupido, era possível caminhar sem ser espremido pela multidão, o que facilitou admirar os bonecos, cartazes, gibis, mangás, e tudo quanto é tipo de bugiganga.
Por outro lado, criou-se espaço, também, para marcas pouco coerentes para aquele universo geek. Cada vez mais superlativos, os espaços dedicados a produtos alimentícios, por exemplo, destoavam. O Cup Noodles, que na Comic Con de San Diego, na Califórnia, também tem presença pesada, costuma se apropriar dos animes para vender seu macarrão instantâneo, como fez neste ano, com uma paródia de "Attack on Titan".
No São Paulo Expo, a CCXP ocupou os mesmos 115 mil metros quadrados do ano passado, mas dispôs melhor seus estandes e lojas. O evento não divulgou o número de pessoas presentes nesta edição.