
Começou nos Estados Unidos, na última segunda-feira, o julgamento que pode determinar o desmembramento da Meta, dona do Instagram, Facebook e WhatsApp. O processo deve durar cerca de dois meses até que a Justiça americana tenha uma decisão.
O que aconteceu
Governo dos EUA acusa empresa de monopólio. A Comissão Federal de Comércio (FTC, na sigla em inglês) —órgão de defesa da concorrência e do consumidor dos EUA— alega que a compra do Instagram e do WhatsApp pela Meta ocorreram para eliminar a concorrência no setor de redes sociais e aplicativos de mensagem.
"É melhor comprar do que competir", disse o CEO da Meta em 2008. A FTC argumenta que, "fiel a essa máxima, o Facebook rastreou sistematicamente rivais em potencial e adquiriu empresas que considerava sérias ameaças".
Políticas para atrapalhar concorrentes. O Facebook também adotou políticas destinadas a dificultar a entrada de rivais menores no mercado e "neutralizar ameaças competitivas percebidas", afirma a FTC em sua denúncia, no momento em que o mundo passou a dar mais atenção aos dispositivos móveis do que aos computadores de mesa.
Incapazes de manter seu monopólio por meio de uma concorrência justa, os executivos da empresa enfrentaram a ameaça comprando inovadores que estavam tendo sucesso onde o Facebook falhou FTC, em denúncia contra a Meta
Zuckerberg pode ser obrigado a vender Instagram e WhatsApp.Caso a Justiça americana decida que a Meta agiu como um monopólio, a empresa terá de separar as operações das duas plataformas, correndo o risco de ser obrigada a vender os apps.
Depoimento de Zuckerberg
Zuckerberg depõs ontem. O CEO da Meta admitiu que comprou o Instagram, em 2012, porque o aplicativo tinha uma câmera melhor do que aquela que sua empresa estava tentando construir para o Facebook na época."Estávamos fazendo uma análise de construção versus compra" durante o processo de criação de um aplicativo de câmera, disse Zuckerberg. "Achei que o Instagram era melhor nisso, por isso achei que seria melhor comprá-lo."
Depoimento reforça alegações das autoridades antitruste dos EUA. O governo acusa a Meta de adotar a estratégia de "comprar ou enterrar" rivais em potencial, manter concorrentes menores à distância e manter um monopólio ilegal.
Falhas ao criar novos aplicativos. Zuckerberg também reconheceu que muitas das tentativas da empresa de criar seus próprios aplicativos falharam. "Criar um novo aplicativo é difícil e, na maioria das vezes, quando tentamos criar um novo aplicativo, ele não ganhou muita tração", disse Zuckerberg ao tribunal.
"Provavelmente, tentamos criar dezenas de aplicativos ao longo da história da empresa e a maioria deles não deu certo", acrescentou.
O Facebook comprou o Instagram em 2012 por US$ 1 bilhão, em dinheiro e ações. Foi a primeira empresa que a companhia adquiriu e manteve em funcionamento como um aplicativo separado. Dois anos depois, o aplicativo de mensagens WhatsApp, comprado por US$ 22 bilhões, se tornou um dos maiores mensageiros em utilização no mundo.
Por que é importante?
Nos bastidores, a Meta vem conectando a infraestrutura de seus aplicativos desde 2019. Hoje, estão umbilicalmente ligados. A faceta visível da ação é a conexão entre contas do Facebook, Instagram e Messenger. Com ela, você posta em uma rede social a partir da outra.
Uma condenação por monopólio colocaria o arranjo em risco. Também sacrificaria o esforço da plataforma para construir um perfil único do usuário com dados obtidos de todas as plataformas e assim destinar a ele anúncios mais valiosos.
Espaço para a concorrência. Quebrar a família de aplicativos da Meta poderia abrir espaço para novos concorrentes, mas não necessariamente americanos. O surgimento meteórico do TikTok e as rápidas transformações no cenário tecnológico mostram que a competição pela atenção é global.
A Meta argumentou que a ideia de monopólio da FTC desconsiderava concorrentes gigantes, como o YouTube. Para a comissão, Instagram e WhatsApp cresceriam e virariam oponentes de peso, mas a empresa rebateu: foram seus investimentos que transformaram a dupla na potência de hoje. A empresa diz ainda que as aquisições foram legais e inclusive aprovadas pela própria FTC, além de beneficiarem os consumidores.
Governo entrou com ação contra Meta em 2020. Recentemente, Zuckerberg, dono da terceira maior fortuna do mundo, fez várias visitas à Casa Branca para conseguir que o presidente Donald Trump o ajudasse a evitar o julgamento e a chegar a um acordo com a FTC.
"Ficaria muito surpreso se algo assim acontecesse", disse o chefe da FTC, Andrew Ferguson, ao The Verge.
Doações para Trump. Como parte de seus esforços para evitar o julgamento, Zuckerberg fez doações para a posse de Trump —em 20 de janeiro—, nomeou aliados republicanos para cargos importantes da Meta e flexibilizou normas de moderação de conteúdo.
*Com AFP, Reuters e Estadão Conteúdo