Após ter comparecido em fevereiro ao ato na avenida Paulista promovido por Jair Bolsonaro (PL), o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), chega ao fim do ano sem se manifestar sobre o indiciamento do ex-presidente por suspeita de participação em plano de golpe de Estado orquestrado em 2022.
O governador seguiu neste ano uma cartilha adotada desde as últimas eleições presidenciais, quando passou a lançar sinais trocados, entre acenos e distanciamento, sobre sua relação com o bolsonarismo.
Em julho, ao comentar o indiciamento do ex-presidente no caso das joias, Zema disse à Folha que a relação entre eles era boa e saiu em defesa do ex-presidente.
No mesmo mês, afirmou em entrevista à CNN que via o nome de Bolsonaro como o ideal para representar a direita em 2026 e disse que a inelegibilidade do ex-presidente poderia ser revertida.
Nas eleições municipais, porém, quando Bolsonaro esteve duas vezes em Belo Horizonte para apoiar Bruno Engler (PL), Zema não participou dos atos de campanha.
No primeiro turno, o governador apoiou Mauro Tramonte (Republicanos), que ficou em terceiro lugar.
No segundo, gravou vídeo pedindo voto a Engler, mas optou por fazer campanha a candidatos de outras regiões do país em detrimento de participar de agendas do nome bolsonarista à prefeitura da capital mineira, que perdeu a disputa para Fuad Noman (PSD).
Neste fim de ano, o governador fez uma reunião com a bancada mineira do PL para aparar arestas.
Apesar de ser da base do governo na Assembleia Legislativa, os deputados estaduais do partido costumam votar contra a gestão em pautas ligadas à segurança pública, principalmente em reajuste de servidores da área —principal tema do encontro da última semana.
Apesar de não envolver articulações diretas sobre 2026, a reunião pode ter servido para aproximar o governador do partido.
Hoje, Zema diz ter dois compromissos para os próximos anos: apoiar a construção de uma candidatura de centro-direita à Presidência –sem descartar o próprio nome– e trabalhar para emplacar a eleição de seu sucessor, o vice-governador Mateus Simões (Novo).
Se esteve ausente nas visitas de Bolsonaro, Zema também não participou de 2 das 3 agendas do presidente Lula (PT) em 2024 no estado.
A única vez em que os dois se encontraram em Minas foi em fevereiro, após um pedido do governador para tratar com o mandatário de soluções para o acordo relativo à tragédia de Mariana, ocorrida em 2015, e para a dívida do estado com a União.
O primeiro viria a ser sanado em novembro, em um acerto de R$ 170 bilhões. Já o segundo, problema histórico do estado que levou ao adiamento de salários de servidores e de repasses a municípios na gestão de Fernando Pimentel (PT), teve avanços neste ano.
Após conseguir seguidas decisões do STF (Supremo Tribunal Federal) para adiar o pagamento da dívida, hoje em cerca de R$ 165 bilhões, o governo Zema começou a honrar os vencimentos em outubro. Foi graças a um acordo com a União homologado pelo Supremo que, na prática, colocou o estado sob o Regime de Recuperação Fiscal (RRF).
A solução preferida pelo governo, porém, passou a ser o programa de renegociação de dívidas dos estados, que foi aprovado pelo Congresso Nacional no fim do ano.
A proposta do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), e encampada pelo presidente da Assembleia do estado, Tadeu Leite (MDB), foi desenhada especialmente para Minas. Entre os estados superendividados, os mineiros são aqueles que têm mais ativos para entregar à União em troca do desconto da dívida.
"As dívidas dos estados, em especial a de Minas, nunca tiveram tratamento adequado. Não tem como você ter uma dívida corrigida por IPCA mais 4 [por cento, ao ano] se a economia nunca cresce 4% em média. É uma matemática muito básica", disse o governador em encontro com jornalistas em dezembro.
O projeto aprovado no Congresso também encontra mais consenso na Assembleia do que o RRF. O projeto de adesão ao regime, encaminhado em 2019, chegou a ser desmembrado, mas mesmo assim não foi aprovado em dois turnos.
Apesar de acumular rachas em votações, a base do governo na Assembleia garantiu neste ano vitórias a Zema, como no projeto que alterou a contribuição dos servidores para o regime próprio de previdência.
Em 2025, ela deve passar por um novo teste: os projetos de privatização das estatais de energia e saneamento, Cemig e Copasa, propostas de campanha do primeiro mandato do governador. Por enquanto, a leitura na Assembleia e no próprio governo é de que não há votos suficientes para aprovação.