A Livraria das Perdizes, que abrirá suas portas nesta segunda-feira em São Paulo, não diz nada de cara, mas carrega uma história longa por trás.
Fundada em 1980 naqueles mesmos arredores da PUC de São Paulo, o espaço era ligado à Cortez Editora, fundada por José Xavier Cortez —o livreiro potiguar cujo nome inspira a lei que tramita no Congresso buscando limitar descontos a livros recém-lançados.
A livraria fechou em 2016, por causa das turbulências na economia, segundo uma de suas filhas e hoje presidente do empreendimento, Mara Cortez. O pai morreu em 2021, aos 84 anos, em meio ao desgosto de ver a livraria fechada —ele começou vendendo livros acadêmicos em um cavalete no corredor da PUC, em 1968.
Agora a volta tem sabor de um "sonho acalentado", segundo Mara. "Antes se apostava mais nas megastores, e hoje há uma maior valorização da livraria de rua, é o perfeito momento para botar o nome na praça", diz ela, que ocupará um espaço de 110 m² e um auditório de 50 lugares na rua Bartira, 317, prédio que pertence à família no bairro de Perdizes.
Uma diferença relevante é que a renomeada Livraria das Perdizes se desvinculará mais da editora —ainda que o evento de abertura, nesta segunda às 18h30, seja animado por um de seus autores, o educador Mario Sergio Cortella— apostando em livros de mercado para todos os interesses e idades.
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Não foge à percepção de Mara que esse retorno se dê enquanto a Lei Cortez é alvo de intensa discussão, entre livreiros com dificuldade de enfrentar concorrência de conglomerados como a Amazon, que acusam de predatórios, e um público leitor para quem o desconto é um incentivo importante para comprar livros.
"Nos países em que leis assim foram adotadas, além de proteger a livraria, o preço estabilizou no longo prazo", afirma ela. "É preciso perceber o trabalho por trás da produção do livro, porque senão a livraria vira um mero showroom para a pessoa comprar na internet, e desorganiza toda a cadeia."
E ela acha que a lei, agora que passou no Senado, vai ser implementada? "Quem escolhe trabalhar com livro tem sempre que ser otimista", brinca.
MUNDO INVERTIDO A britânica Bernardine Evaristo, que passou por São Paulo e Rio de Janeiro numa semana cheia, terá um novo livro publicado pela Companhia das Letras em 2025. "Raízes Loiras", lançado originalmente em 2008, fantasia um mundo ao contrário, em que os europeus brancos foram escravizados pelos africanos.
AH, BOM O centenário do pernambucano Osman Lins, que se completou em julho, parecia passar em brancas nuvens pelas livrarias. Mas ainda este ano as Edições Olho de Vidro vão republicar o livro "Os Gestos", com 13 contos do autor, e uma nova edição do ensaio "Guerra sem Testemunha: O Escritor, Sua Condição e a Realidade Social" sairá por uma parceria entre a Cepe e a editora da Universidade Federal de Pernambuco. Os dois livros estavam há décadas fora de catálogo.
AH, BOM 2 Além disso, a Pinard abriu uma vaquinha para bancar uma nova edição do maior clássico do autor de "Lisbela e o Prisioneiro", o ambicioso romance "Avalovara", de 1973.
PECADO CAPITAL Uma das maiores novelistas do Brasil, Janete Clair completaria cem anos em abril de 2025. Para marcar a data, a editora Instante vai trazer de volta o único romance da autora, "Nenê Bonet", originalmente publicado —adivinhe?— como folhetim em capítulos. A edição terá prefácio do pesquisador Mauro Alencar e posfácio da filha dela, a escritora Denise Emmer.