Vento joga a favor do entregador na alta temperatura, diz CEO do iFood

há 2 dias 2

Diferentemente do que aconteceu na pandemia, quando as empresas de delivery foram cobradas por melhores condições de trabalho para os entregadores nas ruas, a onda de calor não aparece como um foco potencial de crise, segundo as previsões do diretor-presidente do iFood, Diego Barreto.

"Talvez porque seja uma dinâmica um pouco diferente. O fato de o entregador, na prática, estar exposto, é ruim na chuva. Mas no sol, obviamente, bem paramentado, o vento joga a favor", diz.

De acordo com o executivo, a conservação do alimento transportado também está preservada porque as embalagens utilizadas suportam o tempo médio das corridas.

Dentre as mudanças observadas pela empresa no comportamento do consumidor no pós-pandemia, uma das mais significativas foi o crescimento da cultura de delivery em novas categorias, como farmácia, pet shop e atacado.

Com a ajuda da inteligência artificial, segundo Barreto, o iFood tem desenvolvido soluções para compreender melhor os comportamentos do consumidor, o que pode ajudar na redução de fraudes e na atração de novos clientes presenciais para os restaurantes.

Na pandemia, vocês foram muito cobrados por medidas para a segurança do entregador. Agora, com o aquecimento, os termômetros marcando 38 graus em São Paulo, vocês já têm recebido algum tipo de demanda sobre isso ou estão pensando em algo para dar uma solução para isso? Não, nós não recebemos demanda e não pensamos em uma solução nova. Em nada do que a gente ouve dos entregadores isso aparece. Talvez porque seja uma dinâmica um pouco diferente. O fato de o entregador, na prática, estar exposto, é ruim na chuva. Mas no sol, obviamente, bem paramentado, o vento joga a favor.

Então, talvez isso não tenha surgido ainda porque, de alguma forma, isso não esteja incomodando. Nada até agora apareceu gerando esse tipo de demanda dos entregadores.

E em relação à conservação dos alimentos? O tempo médio do momento em que você pede ao que você recebe é de 28 minutos. O tempo de deslocamento nessa média é de 10 minutos. O isopor é suficiente para manter a temperatura máxima e mínima em que o alimento deve chegar.

Não chegou nenhum tipo de impacto no alimento. Se estivesse se deslocando 40 minutos, seria outra discussão. Mas a grande maioria dos meus raios é de até 3 km, muito curto.

Folha Mercado

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A empresa investe muito em tecnologia, mas então, no caso da conservação dos alimentos, não é preciso criar nada a mais para avançar neste aspecto? O que existe já é suficiente? Existe um componente que é o do restaurante, a embalagem. O restaurante entra nesta cota de responsabilidade, porque ele quer que o alimento chegue bom, na temperatura exata. Quando você pensa em um sorvete, por exemplo, você vai recebê-lo em um isopor dentro de outro isopor. São duas camadas. Muitos [restaurantes] japoneses colocam alguma coisa gelada dentro, seja um plástico com um líquido gelado, ou a própria embalagem tem uma espécie de plastificação para temperatura. Então, este problema não existe hoje. Exceto, se estivéssemos falando de 40 minutos de distância.

Já fizemos parcerias com algumas universidades para evoluir tecnologicamente nisso. E a conclusão é que, neste momento, não é necessário. Esse é um investimento desnecessário. Você não vai adicionar nada na qualidade do alimento, na temperatura ideal, se você investir mais nisso.

A inteligência artificial tem transformado os negócios muito rapidamente. Como o iFood tem acompanhado isso? Vou mostrar um exemplo prático: a cada cem pessoas que entram no aplicativo, quantas são aprovadas sob a ótica do pagamento? A conversão média de uma empresa brasileira está na casa de 70% a 80%. Mas quando chega até o final, se é um fraudador e isso passa pelo meu mecanismo antifraude, é prejuízo meu. Na prática, o restaurante entregou e eu vou ter que pagar para o restaurante.

A média brasileira disso é 1%. Você pode pensar: 1% não é nada. Mas se eu vendo R$ 70 bilhões por ano, são R$ 700 milhões de fraude. Depois que eu implementei o nosso modelo de IA, a aprovação do cartão, de 70% a 80% veio para 97%. E eu perco 0,08% com fraude. Então, o que isso significa? Havia inúmeras vendas que eu não estava fazendo para o restaurante, e agora estão vendendo a mais. Eu comecei a eliminar inúmeros prejuízos que me estrangulavam de uma ponta para a outra. Isso é IA.

Como vocês conseguiram isso por meio da IA? Porque 90% do nosso modelo é machine learning. Ele começa a aprender comportamento. Com isso, eu saio de uma lógica de regra dura, do tipo: em casos de pessoas que estão comprando pela primeira vez, se a compra for alta e em um restaurante que não opere muito bem, o sistema acha que é fraude e bloqueia. Essa é a regra dura. É assim que trabalham todas as empresas que não têm IA. Então, o que o nosso modelo passa a fazer? Analisa o comportamento não só da pessoa, mas também do restaurante.

Vocês têm notado alguma nova tendência no consumidor? Temos visto movimento do consumidor, cada vez mais, para outras categorias. Supermercado, farmácia e pet shop crescem há 24 meses seguidos. Todos os meses, mês contra mês. Em farmácia, é 10% de crescimento num mês contra o outro. Se eu crescer de 5% a 10% todo mês, duplica o negócio todo ano.

Então, está crescendo em restaurante, mas estas outras categorias estão voando. As pessoas insistem em achar que a gente cresceu muito em restaurante na pandemia.

Imagino que foi, não? Não é aí que está o efeito da pandemia, na verdade. É nestas outras categorias. E dentro do supermercado tem uma cerejinha do bolo: atacado. Preço baixo.

Voltando ao tema da mudança climática e da transição energética, como vocês pensam em adaptar a frota dos entregadores? Tem projeto de eletrificação de frota?
Temos um time no iFood que só faz isso. A gente não vai construir moto. Mas eu vou colocar dinheiro, garantir demanda, financiar o entregador para ele adquirir. E eu estou fazendo isso há três anos.

E como está a questão da regulamentação do trabalho dos entregadores? Como estão as conversas com o governo? O diálogo existe, mas não teve nada novo.


RAIO-X | DIEGO BARRETO, 41

Formado em direito pela PUC-SP, ingressou no Grupo Movile em 2016, que tem participação no iFood, e está na empresa de entregas desde 2018, quando assumiu como diretor financeiro e vice-presidente de finanças e estratégia. Chegou ao cargo de CEO no iFood em maio de 2024. Fez MBA no IMD Business School e é autor dos livros: "Nova Economia" e "O Cientista e o Executivo"

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