A nova Lei do Combustível do Futuro, que visa acelerar a utilização de combustível renovável na matriz energética brasileira, terá grande impacto na agropecuária brasileira.
Essa lei visa a maior utilização de etanol, biodiesel, diesel verde, biogás, biometano e SAF, este último um combustível voltado para a aviação.
Além de elevar a demanda por matérias-primas, a nova lei vai exigir fortes investimentos no setor agropecuário. Ela altera os percentuais do teor de mistura de biocombustíveis na gasolina e no diesel e estabelece a criação de programas do combustível sustentável de aviação, diesel verde, biometano e captura e armazenagem de dióxido de carbono.
Além disso, foram criados modelos de metas de redução de emissões de gases do efeito estufa nos combustíveis. A implantação das metas será do CNPE (Conselho Nacional de Políticas Energéticas). Essas metas serão normatizadas e fiscalizadas pela ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) e outras agências reguladoras.
Lucas Brunetti, analista da Consultoria Agro do Itaú BBA, fez um estudo avaliando qual será o impacto no consumo de combustível renovável e no uso de matérias-primas oriundas da agropecuária.
O etanol ganha um novo incentivo, segundo o analista. A mistura do anidro à gasolina poderá chegar a 35% em 2037, um percentual, no entanto, que ainda necessita de novos estudos técnicos.
Brunetti considerou uma evolução de 2,5% ao ano no consumo do ciclo Otto no Brasil. O aumento do consumo total de etanol, nessas condições, seria de 9,5 bilhões de etanol anidro em 2037, sendo que 4,9 bilhões viriam por causa do aumento da mistura para 35%. Os cálculos consideram o percentual do hidrato em 24% no território nacional.
Já o consumo de biodiesel, levando em consideração uma mistura de 25% até 2037, seria de 13,9 bilhões de litros, 10,3 bilhões por conta do novo percentual de mistura.
A lei indica um aumento de 1% ao ano na mistura do biodiesel ao diesel, até chegar a 20% em 2030, e o CNPE vai avaliar a viabilidade técnica para um percentual superior a 25%. Se a mistura de 25% do biodiesel ao diesel se confirmar daqui a 13 anos, o analista do Itaú BBA estima um aumento no consumo de biodiesel de 13,9 bilhões de litros. Deste volume, 10,3 bilhões virão por conta do aumento do teor de mistura.
Folha Mercado
Receba no seu email o que de mais importante acontece na economia; aberta para não assinantes.
A utilização de óleo de soja aumentaria em 9 milhões de toneladas, passando dos atuais 5,9 milhões para 15 milhões, em 2037.
O combustível sustentável de aviação (SAF) ainda necessita de normatização das regras e métodos de cálculos de intensidade de carbono pela ANP e Anac. A meta de redução começa com 1%, em 2027, e vai até 10%, em 2037. Utilizando métodos reconhecidos internacionalmente de avaliação, o Itaú BBA chegou a uma demanda de 11 bilhões de litros de querosene de aviação em 2037.
Para atingir 100% da demanda de SAF, por meio de sebo, seriam necessários 1,5 bilhão de litros; a partir do óleo de soja, 4,5 bilhões de litros, e a partir de etanol de cana, 1,7 bilhão de litros.
Na avaliação de Brunetti, a demanda de matéria-prima para esses processos seria de 3,2 bilhões de litros de etanol de cana (1ª geração); 1,7 milhão de toneladas de sebo bovino, e 5,2 milhões de toneladas de soja.
O sistema de avaliação utilizado pela consultoria não calcula as emissões do processo de fabricação de etanol feito de milho no Brasil, apenas o do cereal americano, que é menos eficiente na redução das emissões de dióxido de carbono.
A redução de emissões por meio do uso de biometano começa em 1%, em 2026, e o patamar máximo é de 10%. Uma redução de 10% para o mercado consumidor, dentro de parâmetros estabelecidos pela consultoria, e tendo em vista rendimentos dos novos projetos de biometano, seriam necessários projetos em usinas sucroalcooleiras equivalentes a aproximadamente 410 milhões de toneladas de cana moída por ano para atender essa demanda.
O programa de diesel verde, combustível normalmente produzido a partir de um processo de hidrogenação usando gorduras e óleos vegetais (rota Hefa), abre a possibilidade do CNPE criar uma meta volumétrica do teor de mistura de até 3% no diesel fóssil.
Brunetti diz que ainda é difícil um cálculo exato das consequências da implantação dessas novas normas no setor de energia renovável na agropecuária, mas a demanda por matérias-primas e por investimentos será grande.
Agro paulista As exportações do setor têm como destino principal a China. Até setembro, um quinto do que São Paulo exportou foi para o país asiático, que deixou US$ 4,6 bilhões no estado.
Agro paulista 2 A União Europeia, com US$ 2,84 bilhões de compras, e participação de 12,5% no total do setor, vem a seguir. Já os Estados Unidos, ao importar o correspondente a US$ 2,36 bilhões, ficaram em terceiro, segundo o IEA (Instituto de Economia Agrícola).