Usando sua trajetória, Débora Freire cria futuros no Cri.Ativos da Favela

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Débora Freire sempre acreditou que, quando se dá acesso às ferramentas certas, qualquer um pode reescrever a própria história. E foi exatamente o que ela fez. Nascida e criada no centro histórico de Salvador, em meio à herança cultural da Bahia e às dificuldades que marcam a vida de quem cresce na periferia, Débora transformou a tecnologia em sua aliada. Ao longo de mais de duas décadas, ela usou o audiovisual para abrir portas que a sociedade teimava em manter fechadas — não só para ela, mas para toda uma comunidade periférica.

Sua trajetória começou como a de muitos que ela hoje orienta: com pouco ou nenhum acesso à tecnologia, e muitos sonhos que pareciam distantes. "Era impensável, para uma menina preta, de periferia, órfã desde os 8 anos, imaginar que eu poderia trabalhar com audiovisual," lembra Débora, ao refletir sobre o começo de sua carreira nos anos 90, quando participou de um curso de formação em audiovisual no Liceu de Artes e Ofícios da Bahia. Ali, ela não apenas encontrou seu caminho, mas também a certeza de que a tecnologia poderia ser uma forma de resistência e transformação.

Agora, à frente do projeto Cri.Ativos da Favela, ela devolve à juventude da periferia o que um dia recebeu: oportunidade. O projeto, que une a CUFA, o Instituto Heineken, o Rock in Rio e a Favela Filmes, oferece a jovens de favelas acesso ao mundo do audiovisual e da inteligência artificial — tecnologias que os preparam para o mercado, mas, mais do que isso, lhes permitem contar suas próprias histórias. "O uso da IA democratiza a produção audiovisual. Esses jovens, que sempre foram excluídos, agora podem mostrar seu talento e competir de igual para igual, sem depender de grandes estruturas ou recursos caros."

O impacto é evidente. Jovens como Kesselly Pautilio, moradora do Morro do Dendê, descrevem a experiência no projeto como algo "mágico". Participar de um evento como o Rock in Rio e estar no coração de uma das maiores produções audiovisuais do mundo já não é um sonho distante. Para Débora, essa é a verdadeira revolução: dar às favelas a chance de mostrar sua potência criativa em cenários que historicamente lhes foram negados. "Ver esses jovens brilhando no Rock in Rio, dominando a IA e o audiovisual, é a prova de que talento e criatividade não têm classe social."

Mas o caminho de Débora até esse ponto foi tudo menos simples. Mulher, negra e baiana, ela precisou lutar contra o preconceito e a desigualdade em uma área tradicionalmente dominada por homens. No início de sua carreira, quando começou a trabalhar em produtora de vídeo, ela era uma das poucas mulheres no setor de pós-produção. "Não era comum ter mulheres, muito menos mulheres negras, editando vídeos. Eu precisava o tempo todo mostrar minha capacidade e provar que estava ali por mérito."

Essa resiliência moldou a profissional e a educadora que ela é hoje. A experiência em audiovisual não só impulsionou sua carreira, mas também a fez perceber a importância de compartilhar esse conhecimento. "Aprender pelo fazer e compartilhar esses aprendizados são princípios inegociáveis que trago comigo," afirma. E é exatamente isso que ela faz com o Cri.Ativos da Favela: oferece aos jovens as ferramentas para que eles possam criar, inovar e, principalmente, construir novas narrativas.

Débora Freire não se tornou apenas uma especialista em audiovisual. Ela se tornou um exemplo vivo de como a tecnologia, quando acessível, pode mudar vidas. Através do Cri.Ativos, ela devolve à favela o que um dia sonhou para si: um lugar no futuro. Um futuro onde o talento da periferia não apenas é reconhecido, mas celebrado.

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