O que esperar dos livros em 2025

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O ano literário de 2025 nasce com a missão de superar desafios que marcaram o mercado não só no ano anterior, mas ao longo de uma década que se encerra após uma crise econômica com derrocada de grandes empresas e a confirmação de que pessoas que não costumam ler são maioria no Brasil.

O novo ano, como escreve o repórter Maurício Meireles, vai precisar ser de busca por soluções.

Como destaca o editor Walter Porto, "a somatória de crises não é nova —recente é a mobilização em uníssono do mercado editorial para avançar medidas políticas que enxergam como soluções".

Entre elas estão a defesa da lei do Plano Nacional do Livro e da Leitura e da Lei Cortez, que propõe limitar descontos no preço de livros no primeiro ano após seu lançamento.

Resolver as sucessivas adversidades não é uma tarefa fácil, mas o setor livreiro está reagindo e em 2025 podemos esperar bastante trabalho desse mercado.

Entre os lançamentos deste ano, o Painel das Letras destaca "Sem Despedidas", da mais recente vencedora do Nobel de Literatura, Han Kang, que sairá pela Todavia; "Prophet Song", de Paul Lynch, e "Orbital", de Samantha Harvey, ambos vencedores do prêmio Booker que serão lançados no Brasil pela DBA; "A Contagem dos Sonhos", o retorno de Chimamanda Ngozi Adichie aos romances que será publicado pela Companhia das Letras; e "Pós-Poemas", o último livro de Augusto de Campos, que sairá pela Perspectiva.


Acabou de Chegar

"Leve como Ar" (trad. Francesca Cricelli, Todavia, R$ 69,90, 144 págs., R$ 56,90, ebook) rendeu à autora Ada d’Adamo o prêmio Strega, a principal premiação literária da Itália. A obra é a despedida de uma mãe, que enfrenta um câncer, para sua filha que nasceu com uma má formação no cérebro. É uma carta escrita "a uma destinatária que só poderia compreendê-la com os seus particulares recursos de assimilação da realidade", aponta a crítica Iara Machado Pinheiro.

"Pequenas Coisas Como Estas" (trad. Adriana Lisboa, Relicário, R$ 59,90, 128 págs.), da irlandesa Claire Keegan, descortina um cenário real de violência em seu país. A autora retrata o encarceramento de mulheres em instituições da Igreja, em que eram separadas de seus bebês e obrigadas a trabalhar exaustivamente. A crítica de Luisa Destri destaca a narração do livro pelo olhar de um homem ingênuo e bem-intencionado, que se dá conta gradualmente do que acontece a seu redor.

"Mestre dos Batuques" (Tusquets, R$ 69,90, 224 págs., R$ 44,90, ebook) tem como cenário o Reino do Bailundo, na Angola do século 20, durante o conflito armado contra a colonização portuguesa. Entre cenas de batalhas, José Eduardo Agualusa conta o romance entre um jovem militar e uma filha de comerciantes. Segundo a crítica Tássia Nascimento, a obra repensa a dicotomia clássica de civilização versus selvageria imposta pelos colonizadores europeus.


E mais

Para a psicanalista Jacqueline Rose, a pandemia de Covid-19 mudou radicalmente a nossa relação com a morte. Inspirada por Freud, ela afirma que a morte não é mais vista como um acidente ou uma doença a ser evitada, mas como parte do cotidiano. A autora de "A Peste" (trad. Flávia Costa Neves Machado, Fósforo, R$ 79,90, 160 págs.) afirma à repórter Bárbara Blum que, na pandemia, "não tínhamos o tempo necessário para morrer" e pairava no ar a sensação "de que você não morria a sua própria morte".

Alexandre Dumas e Victor Hugo foram alguns dos responsáveis por taxar Lucrécia Bórgia, a filha ilegítima do papa Alexandre 6º, como traiçoeira e promíscua. Alvo de uma "mentira cultural", essa mulher que viveu de 1480 a 1519 ganhou redenção pelo Nobel de Literatura Dario Fo. "A Filha do Papa" (trad. Anna Palma, Autêntica, R$ 64,90, 208 págs., R$ 45,90, ebook) "é resultado da pesquisa do autor, que usa documentos da época para demonstrar que Lucrécia foi, na verdade, vítima das conspirações de sua ambiciosa família", conta o crítico Diogo Bercito.

Em "Rio Sangue" (Alfaguara, R$ 89,90, 320 págs.), Ronaldo Correia de Brito mergulha na rivalidade entre os irmãos João e José, em cenário comparável ao clássico "Vidas Secas", de Graciliano Ramos. João é raivoso e destrata a esposa enquanto se apaixona por uma mulher livre para os padrões da época. Já José, menos agressivo, vira padre mas se relaciona com uma indígena com quem tem dez filhos. "As horas lentas, o calor da seca e os dramas privados são explorados com precisão", afirma a crítica Stefania Chiarelli.


Além dos Livros

Em 2024, o poeta Antonio Cicero morreu aos 79 anos após fazer um procedimento legal de suicídio assistido na Suíça. O escritor carioca tomou essa decisão diante do Alzheimer que o tinha levado a diversas internações e limitações. A reportagem de Claudio Leal conta como foram os últimos meses de vida do poeta, que deixou mensagens para serem enviadas após sua morte, contou sua decisão à irmã, a cantora Marina Lima, e aprovou a capa de seu último livro.

Essa obra póstuma é "O Eterno Agora", que foi lançada em paralelo a "Respiro", de Armando Freitas Filho, que também morreu no ano passado. Para o repórter Gustavo Zeitel, os trabalhos sintetizam o estilo e o pensamento dos dois poetas, bastante diferentes entre si, mas ambos autores de "obras norteadoras do ofício poético em nosso país".

"Lavoura Arcaica", romance clássico de Raduan Nassar, será adaptado para o teatro em 2025 em comemoração aos 90 anos do escritor. Dirigida por Jorge Farjalla, que compartilha da ascendência libanesa com Nassar, e produzida por Simone Kontraluz, a megaprodução terá 25 artistas em cena e buscará atores por todo o país para formar o elenco. "O espectador vai vivenciar o texto, como se eu o convidasse para um jantar na minha fazenda", afirmou o diretor a Gustavo Zeitel.

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