Um pequeno gasto é como um doce ingênuo: a consequência só aparece no futuro

há 5 meses 7

Imagine que, num belo dia de sol, você decide sair de casa sem chapéu e protetor solar. A sensação de liberdade é boa, e você pensa que, no fim do dia, nem sequer ficou vermelho. Tudo parece ter passado ileso. Em outro cenário, você se permite comer um doce a mais depois do almoço. E, ao se pesar no fim do dia, descobre que nada mudou. Esse ritual do doce, por sinal, até parece uma boa ideia enquanto seu metabolismo jovem dá conta de manter tudo no lugar. Mas o tempo é mestre em nos ensinar que esses pequenos descuidos acabam acumulando efeitos grandes. A falta do protetor solar, com o tempo, pode levar a um câncer de pele. E os doces aparentemente inofensivos, consumidos diariamente, podem contribuir para o surgimento de diabetes ou obesidade mais tarde. Em finanças, não é diferente.

Aquela pequena despesa que passa despercebida – um cafezinho aqui, uma apostinha ali – pode parecer um gasto inocente, tão pequeno que mal se nota. Muitas vezes, não fazemos as contas para entender seu verdadeiro peso. Da mesma forma que não percebemos os riscos do doce diário, minimizamos os pequenos gastos do dia a dia. Só que, assim como a saúde cobra seu preço, o hábito financeiro despreocupado também.

Imagine que todo mês você gasta R$ 500 em itens supérfluos – são pequenas compras, saídas ou indulgências que se acumulam. Talvez um almoço a mais fora de casa, aquele item que "precisava" comprar online, uma assinatura de streaming que nem é tão usada assim ou uma apostinha de leve no seu time do coração. Em um único mês, talvez não signifique nada de mais. Só que, com o tempo, esses pequenos gastos se tornam grandes, acumulando um valor expressivo que poderia ter sido investido em algo mais duradouro.

Para entender o real impacto disso, vamos fazer as contas. Imagine aplicar esses mesmos R$ 500 mensais a uma taxa real de 6% ao ano. Essa taxa é até menor do que a oferecida hoje por títulos públicos, mas serve para nosso exemplo. Agora, pense: quanto você teria após 50 anos a valores de hoje?
a) R$ 289 mil
b) R$ 589 mil
c) R$ 989 mil
d) R$ 1.289 mil
e) R$ 1.789 mil

Um gasto inocente, não deveria pesar tanto. Mas é o engano da maioria. Aqui, o efeito é pior que o do sol ao longo da vida. O efeito dos juros sobre juros foge do nosso senso comum. Sim, você teria perdido a valores de hoje aproximadamente R$ 1,8 milhão. Esse é o montante a valores de hoje que obteria com uma aplicação de apenas R$ 500 mensais e paciência para ver o tempo agir ao longo de 50 anos. Isso porque, ao longo dos anos, o valor cresce graças aos juros compostos – o efeito "bola de neve" que faz o dinheiro render mais e mais conforme ele fica aplicado.

E agora, aquele pequeno gasto vale sua aposentadoria? Quando vou comer um doce, sempre pergunto a minha esposa: vale realmente engordar? Se pergunte o mesmo nos seus gastos. Tenho certeza de que algum tolo vai comentar: "aproveite a vida". Lembre-se, ele não vai pagar suas contas no futuro.

Esse valor pode ser um verdadeiro choque para quem não costuma fazer esse tipo de conta. Assim como é chocante perceber, depois de um tempo, que aquele docinho diário afetou a saúde. No fim, quem não investe e gasta sem critério muitas vezes não percebe o impacto. Não à toa, o planejamento financeiro é essencial para entender a importância dos pequenos valores e como eles se acumulam com o tempo.

Infelizmente, a maioria das pessoas não realiza um planejamento detalhado de suas finanças. Muitos acham que só grandes valores fazem diferença, ignorando os "trocos" que deixam pelo caminho. Mas a mágica do longo prazo é exatamente essa: cada real investido em vez de gasto se multiplica ao longo dos anos. Ou, nas palavras populares, "grão em grão, a galinha enche o papo" – e no caso, esse papo pode se tornar uma poupança robusta para o futuro.

Então, agora que você viu o impacto desse cálculo, fica o questionamento: você tem um planejamento financeiro? Se ainda não, talvez seja o momento de reavaliar para onde está indo cada gasto "inocente" do seu orçamento. Ajustar esses pequenos gastos não significa abrir mão do que gosta, mas sim escolher com consciência e ter clareza de onde quer chegar. Afinal, ninguém quer ver o "doce" de hoje se tornar a dor de cabeça financeira de amanhã.

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.

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