Bruxelas irá aliviar as novas regras de emissões para carros com motor de combustão, permitindo que a indústria automotiva, que enfrenta dificuldades, evite multas após uma transição mais lenta do que o esperado para veículos elétricos.
A Comissão Europeia manterá sua proibição de 2035 para carros a gasolina, mas permitirá flexibilidade nos próximos três anos em como os fabricantes de automóveis atingem metas mais rigorosas de emissões de CO2 que entram em vigor este ano, de acordo com a presidente da Comissão, Ursula von der Leyen.
"As metas permanecem as mesmas. Mas isso significa mais espaço de manobra para a indústria e também mais clareza," disse von der Leyen nesta segunda-feira (3) em uma coletiva de imprensa.
Sob as regras, que foram projetadas como parte da transição verde do bloco, novos carros de passageiros e vans devem reduzir suas emissões de CO2 em 15% em comparação com os níveis de 2021.
Os fabricantes de automóveis têm pressionado fortemente para que Bruxelas alivie as regulamentações após uma queda nas vendas de veículos elétricos em importantes mercados europeus, como Alemanha e França, no ano passado. Em 2024, os registros de novos veículos movidos a bateria caíram 1,3% em relação ao ano anterior.
A associação europeia da indústria automotiva Acea estimou anteriormente uma perda total de 16 bilhões de euros (cerca de R$ 98 bilhões) se as multas para 2025 não fossem adiadas. A Volkswagen da Alemanha alertou que esperava um impacto de 1,5 bilhão de euros (R$ 9,2 bilhões) este ano para cumprir as regras de emissões mais rigorosas.
Folha Mercado
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Sob o novo regime flexível, as multas só seriam aplicadas em 2027, permitindo que as empresas que não atingirem as metas em um ano possam superá-las em anos futuros e evitar pagamentos.
Isso também deve impedir que empresas europeias paguem fabricantes de carros elétricos estrangeiros, como a Tesla de Elon Musk e a BYD da China, para comprar créditos de carbono para cumprir conjuntamente as metas.
Há um amplo apoio ao movimento entre os estados membros e membros do parlamento europeu, que devem aprová-lo.
Alguns fabricantes de automóveis, no entanto, que estão à frente nas vendas de elétricos e investiram pesadamente na transição, pediram à UE que resistisse às pressões para enfraquecer as regulamentações.
"A Europa não pode se dar ao luxo de falhar na eletrificação ou atrasar a transição", disse Jim Rowan, diretor executivo da Volvo Cars e do grupo sueco majoritariamente de propriedade da Geely. "Não podemos continuar adiando o problema."
A associação comercial E-Mobility Europe alertou que a flexibilidade proposta poderia significar que cerca de meio milhão de carros elétricos a menos entrariam no mercado da UE este ano. "A desaceleração da transição da Europa deixará a porta aberta para a China continuar como líder de mercado indiscutível", disse seu secretário-geral Chris Heron.
Mas von der Leyen disse que a média das emissões ao longo de três anos, em vez de eliminar ou adiar as metas, proporcionava "justiça para os pioneiros, aqueles que fizeram seu dever de casa".
Além de aliviar as regulamentações de emissões, Bruxelas também exigirá mais conteúdo local em células de bateria e componentes de automóveis vendidos no continente e só fornecerá apoio a fabricantes de baterias chineses e outros estrangeiros se compartilharem habilidades e tecnologia com parceiros europeus.
"A indústria automotiva europeia corre o risco de perder participações de mercado significativas em tecnologia e capacidades de produção de EVs, e enfrenta uma diferença de custo significativa em componentes críticos de EVs, particularmente baterias", disse um rascunho do plano industrial automotivo, que deve ser divulgado na quarta-feira (5).
Para aumentar a demanda por veículos elétricos, Bruxelas também proporá medidas para acelerar a transição do uso de gasolina nas frotas empresariais.
E os fabricantes de automóveis poderão "desenvolver software compartilhado, chips e tecnologia de condução autônoma" sem infringir as regras de concorrência, disse von der Leyen.
William Todts, diretor executivo da ONG ambiental T & E, disse: "Enfraquecer as regras de carros limpos da UE recompensa os retardatários e faz pouco pela indústria automotiva da Europa, exceto deixá-la ainda mais atrás da China em veículos elétricos."