O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, declarou neste sábado (28) ser favorável à concessão de vistos para trabalhadores estrangeiros qualificados, alinhando-se à posição de seu novo conselheiro, o bilionário Elon Musk.
"Sempre gostei do programa de vistos H1-B, sempre fui a favor dos vistos, e é por isso que os temos", disse Trump ao jornal New York Post, em referência a funcionários de suas próprias empresas.
Os vistos H1-B permitem que empresas contratem trabalhadores estrangeiros com qualificações específicas para os Estados Unidos e são amplamente utilizados no Vale do Silício, centro das empresas de tecnologia.
O tema destacou uma fratura entre os novos apoiadores de Trump no Vale do Silício e sua base mais radical, apelidada de Maga (sigla em inglês para "Fazer a América Grande Novamente", o mote do republicano).
Nos últimos dias, alguns seguidores de Trump no setor tecnológico, incluindo Elon Musk, têm debatido com figuras conservadoras defensoras de uma postura anti-imigração. Musk, nascido na África do Sul, já se beneficiou do visto H1-B no passado.
"A razão pela qual estou nos Estados Unidos, assim como aqueles que construíram a SpaceX, Tesla e centenas de outras empresas [...] é o H1-B", escreveu na sexta-feira em sua rede social X (ex-Twitter) e prometeu "ir à guerra por este tema".
A divisão sobre a política de imigração e os esquemas de visto para trabalhadores estrangeiros surgiu da nomeação de Trump de Sriram Krishnan como conselheiro sênior de políticas para inteligência artificial na Casa Branca.
A nomeação provocou uma reação da base Maga no X, que rapidamente se transformou no debate sobre os vistos H-1B,
Citando uma postagem em que Krishnan apoiava a remoção de limites por país para green cards para "desbloquear a imigração qualificada", a ativista de extrema-direita Laura Loomer disse em uma postagem no X que era "alarmante ver o número de esquerdistas de carreira que agora estão sendo nomeados para servir na administração de Trump quando compartilham opiniões que estão em oposição direta à agenda America First de Trump".
Ativistas de extrema-direita apoiaram Loomer, que também atacou executivos de tecnologia no círculo do presidente eleito, incluindo Musk e David Sacks, que Trump nomeou como czar de IA e criptomoedas da Casa Branca e que trabalhará próximo a Krishnan.
Já Musk, em outra postagem, disse que há "uma escassez terrível de engenheiros extremamente talentosos e motivados nos Estados Unidos".
"A questão é: você quer que a América VENÇA ou quer que a América PERCA. Se você forçar os melhores talentos do mundo a jogar para o outro lado, a América PERDERÁ."
A cisão levanta questões sobre se duas alas vastamente diferentes da base de Trump —alguns dos executivos de tecnologia mais poderosos da América e ativistas de extrema-direita— serão capazes de coexistir.
Chefes de tecnologia, historicamente alvos da ira de Trump, intensificaram uma ofensiva de charme sobre o presidente eleito nas últimas semanas, doando para seu fundo inaugural e jantando com ele em Mar-a-Lago.
"Os executivos de Big Tech acham que comandam as coisas agora", escreveu Loomer. "Um dia eles vão irritar Trump e isso vai escalar. A explosão entre Maga e os caras da tecnologia vai ser gloriosa."
A disputa online colocou os holofotes sobre Musk. O presidente eleito tornou o bilionário e ex-candidato presidencial republicano Vivek Ramaswamy responsável por cortar gastos do governo e regulamentação federal.
No X, Ramaswamy disse que a migração qualificada era necessária devido a uma cultura americana de "mediocridade sobre excelência", provocando mais reações dos apoiadores do Maga.
"O H-1B é criticamente importante para o Vale do Silício", disse Hiba Anver, sócia do Erickson Immigration Group. "Há mais de um tipo de visto patrocinado por empresas, mas o H1-B é o visto para o qual o maior número de pessoas poderia potencialmente se qualificar."
O governo dos EUA permite 85 mil novos beneficiários a cada ano fiscal. As taxas de negação aumentaram no primeiro mandato de Trump, devido a políticas que os tribunais posteriormente consideraram ilegais.
Ao contrário de outras categorias de visto, "você não precisa nascer em um país específico, não precisa trabalhar em um escritório estrangeiro para a mesma empresa, e o nível de evidência não é tão alto", disse Anver.
Na corrida para se manter à frente da China no desenvolvimento tecnológico, desde semicondutores até IA, atrair talentos é vital para o setor de tecnologia dos EUA.
"Houve um comentário esmagador dos executivos com quem falo sobre a complexidade de trazer pessoas para cá, e como isso está prejudicando sua capacidade de inovar", disse Daniel Newman, CEO do The Futurum Group.
"Se você olhar para alguns dos maiores avanços em inovação, as habilidades, a engenharia e a tecnologia muitas vezes são iniciadas por pessoas que vieram para cá com vistos", acrescentou.
Folha Mercado
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