Você já se viu trocando algo antigo por algo mais moderno apenas porque parecia ser uma oportunidade melhor? Imagine que você tem um carro em bom estado, mas decide trocá-lo por um modelo mais novo porque ouviu dizer que ele é mais econômico. No entanto, ao fazer as contas, percebe que os custos da troca e as despesas adicionais superam o benefício esperado. Trocar um título de renda fixa com uma taxa menor por outro com uma taxa maior segue uma lógica parecida. É uma decisão que parece simples à primeira vista, mas, sem uma análise cuidadosa, pode gerar perdas desnecessárias.
Muitos investidores que adquiriram títulos prefixados ou referenciados ao IPCA em anos anteriores, especialmente entre 2020 e 2022, têm se perguntado se faz sentido atualizar sua carteira. Afinal, a realidade do mercado mudou, e as taxas atualmente oferecidas são mais atraentes.
Por exemplo, um título adquirido a IPCA+6,5% ao ano naquela época pode parecer desinteressante frente a um título disponível hoje a IPCA+8% ao ano. A troca parece lógica, mas será que vale a pena? Essa decisão exige atenção a dois pontos fundamentais: o custo da troca e a perspectiva para as taxas futuras.
O primeiro fator a considerar é se o lucro adicional do título com a taxa maior compensará a perda gerada pela venda antecipada do título atual. Quando você vende um título antes do vencimento, ele é negociado a uma taxa de mercado, o que pode implicar perdas, especialmente em um cenário de alta de juros.
Imagine que você vende um título adquirido a IPCA+6,5% ao ano e registra uma perda de 6% no valor pela marcação a mercado. Para compensar essa perda, o título a IPCA+8% ao ano que você pretende adquirir precisará gerar ganhos superiores a essa diferença. Se o prazo restante for curto, o ganho adicional pode não ser suficiente para justificar a troca. Daí entra em cena o segundo fator de decisão.
O segundo fator é o cenário de taxas futuras. Suponha que você acredita que as taxas continuarão subindo nos próximos meses. Nesse caso, pode ser mais vantajoso adiar a troca e esperar por melhores oportunidades. Afinal, a aquisição de um título com uma taxa ainda maior no futuro pode trazer benefícios superiores. Essa estratégia exige paciência e uma visão clara do comportamento esperado do mercado de juros.
Para ilustrar, considere um investidor com um título a IPCA+6,5% ao ano, válido por mais dois anos, e que pensa em trocá-lo por um a IPCA+8% ao ano com vencimento em seis anos. Se a venda antecipada do título atual gerar uma perda de 6% e o novo título levar quatro anos para superar esse prejuízo, o investidor deve ponderar se está disposto a esperar esse tempo para começar a ver ganhos reais. Ou se não vale mais esperar os dois anos para vencimento do título antigo e capturar taxas similares ou maiores a atual.
Também é importante lembrar, que os títulos marcados a mercado já refletem as taxas atuais, ou seja, não importa a taxa de aquisição e não se deve pensar em troca para atualizar a taxa. Por exemplo, títulos da plataforma do Tesouro direto são marcados a mercado. Portanto, não é por que você adquiriu um título a IPCA+6% ao ano em 2023 que ele está com esta taxa. O preço de seu título já caiu para refletir a nova realidade do mercado. Logo, de hoje até o vencimento, ele vai render as taxas atuais que estão próximas de IPCA+7,5% ao ano e não a sua taxa antiga.
Em resumo, a decisão de trocar ou manter não deve ser tomada com base apenas na comparação entre taxas. É fundamental analisar o custo da troca, o prazo dos títulos, as perspectivas econômicas e a forma de marcação de preços do título. Mais do que isso, lembre-se de que as perdas em uma troca mal planejada são irreversíveis, enquanto a paciência e o planejamento podem proteger seu patrimônio de armadilhas financeiras.
Assim como na troca de um carro, nem sempre a mudança é a melhor escolha – e, no caso dos investimentos, o tempo pode ser o seu maior aliado.
Ao tomar decisões de investimento, busque sempre alinhar suas escolhas ao seu planejamento financeiro e ao cenário de mercado. Se tiver dúvidas, conte com especialistas para ajudá-lo a avaliar as melhores opções. Afinal, investir é mais do que buscar taxas maiores – é sobre construir um futuro com segurança e estratégia.
Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.
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