A ameaça da Volkswagen de demitir trabalhadores e fechar de forma inédita parte das fábricas na Alemanha provocou protestos dos funcionários nesta quarta-feira (25) e também uma ameaça do sindicato de realizar greves nas linhas de produção a partir de 1º de dezembro.
As manifestações ocorreram em Hanover, onde a direção da empresa e o sindicato se reuniram para negociar o reajuste salarial deste ano.
Parte dos mais de 3.000 trabalhadores seguravam cartazes com a frase: "Falta de trabalhadores qualificados no conselho —estamos procurando especialistas", outros acenderam sinalizadores e um deles estava vestido como a morte.
As tensões na gigante automobilística estão altas, pois o espectro de fechamentos de fábricas colocou a cúpula da Volkswagen em rota de colisão com o poderoso sindicato IG Metall.
O sindicato também deve negociar novos acordos trabalhistas para 130 mil trabalhadores da marca principal da VW na Alemanha, após o grupo ter encerrado este mês acordos que protegiam o emprego em seis de suas fábricas no oeste do país, que estavam em vigor desde meados da década de 1990.
Representantes dos trabalhadores prometeram lutar contra os cortes de empregos, culpando a alta administração e o apoio do governo pelos problemas da Volkswagen.
O IG Metall ameaçou greves a partir do início de dezembro e busca um aumento salarial de 7%. "Um bom pastor cuida de suas ovelhas e as mantém juntas. O pastor da Volkswagen está ameaçando arrancar a pele de seus corpos e depois jogá-las em um furacão", disse Thorsten Groeger, principal negociador do IG Metall com a Volkswagen, aos trabalhadores fora do local das negociações em Hanover.
A chefe do conselho de trabalhadores, Daniela Cavallo, destacou que cabe à administração da montadora encontrar uma solução.
A Volkswagen argumenta que os altos custos de energia e mão de obra na Alemanha a colocam em desvantagem em relação aos concorrentes europeus, bem como aos rivais chineses que miram uma grande fatia do mercado de veículos elétricos da região.
Reforçando essa mensagem no início das negociações, o chefe de pessoal da marca VW disse que a divisão deve cortar custos para permanecer competitiva.
"A concorrência internacional está ameaçando nos ultrapassar", disse Arne Meiswinkel. "Devemos trabalhar juntos para reestruturar nossa empresa. A situação é séria."
Além da Volkswagen, outras empresas relevantes do país como a Basf e o Thyssenkrupp consideram demissões. Montadoras alemãs como a Mercedes-Benz e BMW cortaram suas previsões de lucro nas últimas semanas devido à fraca demanda na China.
O impasse na Volkswagen preocupou o governo de coalizão da Alemanha, que já está lutando para aumentar o crescimento econômico e sua própria popularidade antes das eleições federais no próximo ano.
O ministro da Economia, Robert Habeck, disse na semana passada que queria ajudar a Volkswagen durante um período de corte de custos sem ter que recorrer ao fechamento de locais, mas afirmou que havia limites.
Funcionário da Volkswagen, Franz Onken mal conseguia conter sua raiva. "Estou realmente zangado. Nem sei o que dizer ainda. Então, se pudesse, daria um chute na bunda do conselho, honestamente, bem honestamente", desabafou, enquanto acompanhava os protestos desta quarta em Hanover.
Groeger, do IG Metall, reconheceu que a empresa enfrentava grandes desafios, mas disse que o sucesso da Volkswagen ao longo das décadas foi baseado em resolver problemas com os funcionários, não em confrontos.
"Primeiro dar o aviso —quebrar as coisas e depois se espantar com a bagunça: isso é uma violação flagrante e um erro histórico. Além disso, pode custar muito dinheiro", comentou Groeger, que estabeleceu 1º de dezembro como prazo para conclusão das negociações. Caso não ocorra um acordo até lá, há a possibilidade de greve nas fábricas da Alemanha.
Folha Mercado
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