Torção testicular causa dor forte e exige atendimento médico imediato para evitar perda do órgão

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"A dor foi excruciante. Eu não conseguia encostar nem andar. À medida que a dor foi diminuindo, meu testículo começou a inchar muito", lembra o engenheiro metalúrgico Gustavo Gonçalves, 39, que na época tinha 11 anos. O diagnóstico foi torção testicular, condição em que o testículo gira em torno do próprio eixo, causando um entupimento das artérias, isquemia (bloqueio do fluxo de sangue e oxigênio para a região) e uma possível perda do órgão se não for distorcido rapidamente.

A condição é mais comum em adolescentes e jovens adultos, principalmente os que têm uma falha no gubernáculo, o "fio" que mantém os testículos suspensos na bolsa escrotal. Após os 25, a torção é muito rara. A maioria dos casos acontece durante a noite, em dias de frio, quando os testículos se movimentam mais, ou por impactos na região.

A incidência é de aproximadamente 1 em cada 4.000 homens, segundo a SBU (Sociedade Brasileira de Urologia). Apesar disso, o interesse por torção testicular no Google Trends cresceu 136,4% nos últimos cinco anos (de 2019 a 2023) em comparação com o período anterior. As consultas mais frequentes associadas à condição são: o que é, sintomas, se pode causar morte e como é a cirurgia.

No dia do episódio, Gustavo havia levado um soco acidental na bolsa escrotal e, após uma aula de jiu-jítsu, as dores e o inchaço aumentaram. Ao ser levado para o hospital, a equipe médica acionou um cirurgião que tentou realizar uma distorção manual, técnica para corrigir a torção nos primeiros momentos. No entanto, devido ao inchaço e à gravidade da situação, a manobra foi impossível, e uma cirurgia de emergência foi marcada.

Após o procedimento, o inchaço reduziu em poucos dias. Gustavo conta que nunca teve outro episódio de torção e acredita que a cirurgia rápida impediu a "morte" e remoção do testículo.

As cirurgias duram entre 30 e 60 minutos, dependendo da gravidade, e são acompanhadas por um processo de fixação (orquidopexia) para que o giro não ocorra mais. A recuperação leva de quatro a seis semanas, e o paciente deve evitar atividades físicas e movimentos intensos na região.

Segundo o urologista Luiz Otávio Torres, presidente da SBU, o atendimento imediato é fundamental no tratamento da torção e recuperação do testículo acometido.

"Até seis horas depois da torção, conseguimos preservar a integridade do testículo na maioria das vezes. De 12 a 24 horas depois, só há 20% de chance de salvar. Se passar de 24 horas, é necessário fazer uma orquiectomia, ou seja, tirar o testículo, pois ele está necrosado e perdido", explica.

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Foi o que aconteceu com William Garrigos, 37, aos 14 anos. Ele brincava com uma toalha após o banho e sofreu um impacto forte no testículo esquerdo, resultando em sua rotação e subida até a virilha.

"Chamei minha mãe para ver, porque fiquei preocupado. Quando ela olhou, disse que isso acontecia com meninos, que os testículos sobem e descem e que voltaria ao normal", disse.

Mais tarde, na escola, William recebeu uma pancada na virilha ao jogar vôlei, o que desencadeou uma dor aguda. Foi levado para um hospital, mas como não havia um urologista disponível, precisou ser encaminhado para outro, o que atrasou o diagnóstico e uma intervenção rápida.

"Fui para a mesa de cirurgia, mas quando o médico abriu, viu que não tinha mais o que fazer ali. Não tinha mais circulação sanguínea e o testículo já estava preto. Então precisou ser tirado", afirma.

Torres explica que existem duas possibilidades nesses casos: implantar uma prótese no lugar do testículo removido ou permanecer apenas com um. Em ambos, a função sexual e a fertilidade não são impactadas, desde que o outro testículo esteja saudável.

"Retirar os testículos não afeta a ejaculação nem a chance de ter filhos, porque 96% do volume do esperma é produzido pela próstata e pelas vesículas seminais. Apenas 4% são espermatozoides, que podem ser compensados pelo testículo que permaneceu", afirma.

O que causa uma torção testicular?

A torção ocorre quando o testículo gira em seu próprio eixo, bloqueando o fluxo de sangue. Isso geralmente acontece devido a uma falha em uma estrutura chamada gubernáculo, que mantém o testículo fixo. Adolescentes e jovens adultos têm maior risco.

Como saber se torceu os testículos?

O principal sintoma é uma dor aguda e súbita no testículo, que pode ser acompanhada de inchaço, náuseas e vômitos. A dor pode ocorrer durante o sono ou após um trauma na região.

A torção deve ser tratada dentro de seis horas para evitar danos permanentes. Após 12 horas, há 80% de chance de perder o testículo. Passadas 24 horas, a perda é quase certa.

Quais são as possíveis sequelas?

Se não for tratada rapidamente, a torção pode levar à necrose do testículo, exigindo a remoção do órgão, mas não causa morte.

Torção testicular pode influenciar na fertilidade e no tamanho dos testículos?

Se o outro testículo estiver saudável, a fertilidade geralmente não é afetada, pois ele pode compensar a função do testículo perdido.

Em alguns casos, o testículo remanescente pode até aumentar de tamanho para compensar a ausência do outro, mas isso não interfere na fertilidade.

Segundo o urologista Luiz Otávio Torres, presidente da SBU, a cirurgia de remoção também não compromete o crescimento dos testículo remanescente nem influencia na ejaculação, seja ela precoce ou tardia.

O que fazer para não ter torção testicular?

Não há como prevenir a torção testicular. A única forma de evitar complicações é buscar atendimento imediato ao sentir dor.

Torres ressaltou a importância de pais e adolescentes reconhecerem a gravidade de uma dor testicular súbita e procurarem atendimento médico imediatamente, pois a rapidez do tratamento ou cirurgia são essenciais para evitar a perda do testículo.

Como tratar torção testicular?

O tratamento é cirúrgico. O médico pode tentar distorcer o testículo manualmente, mas a cirurgia é necessária para fixá-lo e evitar novas torções. Se o testículo já estiver necrosado, ele é removido.

Em casos de remoção, é possível optar pela colocação de uma prótese testicular, que serve para fins estéticos e pode ser ajustada conforme o desenvolvimento do corpo.

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