Bebidas alcoólicas, como cerveja e vinho, devem trazer avisos sobre risco de câncer, afirma a principal autoridade pública de saúde dos Estados Unidos. Ele cita que há falta de conscientização do público sobre os danos à saúde causados por esses produtos tão populares.
As provas sobre a ligação entre consumo alcoólico e câncer têm aumentado nas últimas décadas, mas menos da metade dos norte-americanos reconhece essas consequências, diz o cirurgião geral-geral Vivek Murthy, em um comunicado divulgado na última sexta (27).
O cirurgião-geral é a principal autoridade pública americana na área da saúde, à frente da pasta federal do tema — uma espécie de ministro da Saúde.
O álcool causa cerca de 100.000 casos de câncer e 20.000 mortes relacionadas a cada ano nos EUA, disse Murthy, muito mais do que as 13.500 mortes anuais associadas ao álcool no trânsito.
O acréscimo de um aviso sobre o câncer destacaria preocupações graves com a saúde para produtos que mais de 70% dos adultos nos EUA consomem pelo menos uma vez por semana, com vendas nacionais de cerca 260 bilhões de dólares só em 2022.
Após o anúncio, as ações dos fabricantes de bebidas caíram. A Anheuser-Busch InBev NV, fabricante da cerveja Budweiser, fechou em baixa de 2,8% em Bruxelas. A Constellation Brands Inc. estava em baixa de 0,2% às 14h37 em Nova York e a Molson Coors Beverage Co. caiu 3,4%.
Estudos têm ligado o câncer ao álcool desde a década de 1980, e ele fica atrás apenas do tabaco e da obesidade entre as causas evitáveis da doença.
Conexões entre a doença e o álcool foram mostradas entre o álcool e pelo menos sete tipos de câncer, incluindo os de mama, garganta, boca, esôfago, laringe, cólon e fígado, de acordo com o boletim do cirurgião-geral.
As diretrizes para o uso devem ser avaliadas para considerar esses riscos, e os médicos devem destacar o perigo do álcool ao aconselhar os pacientes sobre o consumo de bebidas, disse o anúncio.
A Associação Médica Americana disse há anos que "o consumo de álcool em qualquer nível, não apenas o uso pesado de álcool ou o uso viciante de álcool, é um fator de risco para o câncer", disse o presidente da AMA, Bruce Scott, em comunicado.
A atualização do aviso e rótulo "reforçará a conscientização, melhorará a saúde e salvará vidas", disse a associação.
O problema é global, com cerca de 741.300 casos de câncer atribuíveis ao consumo de álcool em todo o mundo em 2020. No entanto, em uma pesquisa de 2019, apenas 45% dos americanos estavam cientes do risco representado pelo álcool, em comparação com cerca de 90% de conscientização para a exposição à radiação e tabaco, de acordo com o comunicado.
Outros Avisos
Dos 47 países membros da OMS (Organização Mundial da Saúde) com rótulos de advertência sobre álcool, apenas a Coreia do Sul cita o câncer. A Irlanda exigirá um aviso sobre câncer a partir de 2026.
Em 2020, grupos de defesa do consumidor e médicos solicitaram ao Departamento do Tesouro dos EUA, que regula os rótulos de álcool, para alterar o aviso nos rótulos de álcool. Atualmente, garrafas e latas afirmam que o álcool "pode causar problemas de saúde" com um aviso contra o consumo por mulheres grávidas.
O Tesouro americano teria que trabalhar com o cirurgião-geral para alertar o Congresso sobre a necessidade de quaisquer atualizações, de acordo com o Centro de Ciência de Interesse Público, um dos grupos que apresentou a petição. O Departamento do Tesouro não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.
Kenneth Shea, analista da Bloomberg Intelligence, disse que as evidências do cirurgião-geral para a atualização do rótulo não eram particularmente convincentes. "Provavelmente é menos ameaçador a curto prazo do que o mercado sugere no momento", disse Shea.
Debate persiste
O debate em torno do consumo de álcool e saúde está longe de ser resolvido. Conselheiros do governo nas Academias Nacionais de Ciências, Engenharia e Medicina dos Estados Unidos divulgaram um relatório no mês passado sobre numerosos estudos sobre álcool que encontraram efeitos positivos e negativos na saúde.
Pessoas que nunca bebem álcool têm mais probabilidade de morrer por qualquer causa - não apenas câncer ou doenças cardíacas - do que aquelas que bebem moderadamente, de acordo com o relatório dos conselheiros. Beber moderadamente também pode reduzir o risco de morte por doenças cardíacas, afirmou.
O relatório constatou que mulheres que bebem moderadamente têm maior risco de câncer de mama do que as que não bebem, mas o aumento do consumo de álcool foi associado a um maior risco de câncer colorretal. Os autores não puderam tirar conclusões sobre os riscos de outros cânceres relacionados ao consumo moderado de álcool e disseram que são necessários mais estudos sobre álcool e saúde em geral.
Diretrizes
O Departamento de Agricultura e o Departamento de Saúde e Serviços Humanos disseram que levarão em consideração o relatório das Academias Nacionais ao elaborar novas diretrizes alimentares para 2025-2030.
Embora beber álcool tenha sido por muito tempo uma norma social para adultos americanos, a sobriedade também ganhou popularidade nos últimos anos. Em 2020, a Anheuser-Busch InBev lançou a Budweiser Zero; no ano passado, a Molson Coors lançou sua marca não alcoólica Naked Life nos EUA.
Cervejarias artesanais, como Sierra Nevada e Boston Beer Co., também oferecem produtos sem álcool. Os americanos mais jovens são ainda mais propensos do que os mais velhos a tentar reduzir o consumo de álcool, segundo uma pesquisa de janeiro de 2024 da NCSolutions.
Representantes da AB InBev, da destilaria francesa Pernod Ricard e da unidade de vinhos e destilados da LVMH Moët Hennessy Louis Vuitton se se recusaram a comentar sobre a medida para a reportagem e a Diageo Plc e a Heineken não responderam aos pedidos de entrevista.
A LVMH possui marcas como Moët & Chandon e Dom Perignon Champagne, bem como o conhaque Hennessy. A Diageo é a fabricante da vodka Smirnoff e da tequila Don Julio. As marcas da Pernod Ricard incluem a vodka Absolut e o uísque Jameson.
Outros grupos do ramo ainda não se manifestaram sobre o anúncio. O Conselho de Bebidas Destiladas dos Estados Unidos disse que ainda está avaliando como será o aviso. Já a WineAmerica, a Associação Nacional de Vinícolas Americanas, se recusou a comentar, assim como o Beer Institute.
Cuide-se
Ciência, hábitos e prevenção numa newsletter para a sua saúde e bem-estar