Uma reportagem do jornal americano The Wall Street Journal publicada neste sábado (12) usa o Brasil, que possui amplas barreiras ao comércio internacional, como um exemplo negativo de como a economia dos Estados Unidos funcionaria se o país abraçar a agenda protecionista do presidente americano, Donald Trump.
Ao anunciar as chamadas tarifas recíprocas, Trump afirmou que um dos objetivos da medida é trazer empregos e fábricas de volta ao país. O jornal, no entanto, aponta que as tarifas elevadas do Brasil garantem "alguns empregos", mas que aumentam os custos para consumidores e ajudam a tornar a indústria doméstica ineficiente.
O Wall Street Journal diz, por exemplo, que a maioria dos carros é fabricada localmente, mas que isso encarece produtos importados. Como a Folha mostrou, caso não haja um acordo comercial vigente, veículos importados com motor a combustão que chegam ao mercado brasileiro são taxados em 35% na forma do Imposto de Importação.
As diferenças de preço de produtos importados são tão grandes "que os brasileiros ricos passam grande parte de suas férias no exterior fazendo compras, enchendo suas malas a tal ponto que os voos de volta são frequentemente atrasados enquanto a equipe da companhia aérea se esforça para encontrar espaço na cabine", afirma o jornal americano.
Segundo a reportagem, o Brasil oferece um vislumbre de um sistema econômico semelhante à visão de Trump, que impôs as maiores tarifas praticadas em décadas contra quase todos os países do mundo.
A política de protecionismo do Brasil, diz o jornal, aumentou os custos para os consumidores e "sufocou a concorrência e a inovação". "O iPhone 16 fabricado no Brasil custa quase o dobro de um modelo fabricado na China, vendido nos EUA por US$ 799 ", afirma o texto.
O jornal cita que a manufatura representava 36% do PIB (Produto Interno Bruto) em 1985, percentual que se reduziu a 14% atualmente. "Crescendo a pouco mais de 2% ao ano, em média, nas últimas duas décadas, o Brasil nunca se tornou a potência econômica que seus líderes imaginaram, limitando sua influência no cenário mundial", diz a reportagem.
Outro dado citado na reportagem é que a produtividade: em 2024, um trabalhador brasileiro produziu, em termos de riqueza, menos de um quarto do que um colega norte-americano, de acordo com dados do Conference Board.
A reportagem lembra que Trump voltou atrás das tarifas recíprocas mais elevadas após a forte queda dos mercados, mas que o patamar de 10% para quase todos os países do mundo.
"O Brasil, um país de 213 milhões de pessoas com recursos naturais abundantes e diversos, pode funcionar como uma economia fechada de uma forma que a pequena Singapura ou nações dependentes de petróleo, como os Emirados Árabes Unidos, não podem", afirma. "O comércio representa apenas 18% do PIB do país, bem abaixo dos 35% da outra grande economia da América Latina, a potência exportadora México."
De acordo com o texto, o "vasto mercado interno provou ser uma bênção e uma maldição". "O Brasil confiou no consumo doméstico durante crises econômicas externas, desde os choques do petróleo da década de 1970 até a crise financeira de 2008-09. Mas também gerou complacência e protecionismo durante tempos mais prósperos, tornando os bens mais caros para os consumidores."