O preço das ações, no entanto, já estaria levando em consideração os cenários mais pessimistas para o minério de ferro. Segundo Bueno, negociando a menos de 6 vezes preço/lucro (P/L) e menos de 4 vezes o múltiplo EV/Ebitda, os papéis estariam bastante depreciados. "Não faria tanto sentido as ações caírem para patamares inferiores ao atual", pontua o analista da Nord.
2 - Qual é o impacto do minério de ferro nos dividendos?
Se as ações sofrem impacto mais direto com a queda do minério de ferro, os dividendos têm se mostrado mais resilientes, aponta Bueno. Não apenas em 2024, mas sim ao longo dos anos.
O motivo é que a Vale é uma forte geradora de caixa, com um endividamento sustentável, fatores que auxiliam na remuneração dos acionistas. Neste ano, por exemplo, apesar da queda acumulada de 16,60% das ações, a companhia já conseguiu entregar um retorno em dividendos (dividend yield) atrativo de 9%, com os pagamentos feitos em março e o provento anunciado para setembro.
3 - O que mais mexe com os dividendos?
Claro que uma cotação maior do minério de ferro aumentaria o lucro da Vale. Contudo, como a companhia segue entre as produtoras de minério de ferro de menor custo, isso ajuda a amenizar o efeito dos preços baixos da commodity, diz Ruy Hungria, analista da Empiricus Research.
Outro fator é a situação econômica da China, maior consumidora de minério de ferro do mundo. Se a demanda por minério de ferro no país asiático voltar, os preços do minério de ferro vão subir, diz Bueno. No entanto, ainda existem muitas incertezas em relação ao reaquecimento da economia chinesa no segundo semestre.
Além disso, a Vale deve ser afetada pela negociação com o governo e as provisões para os desastres ambientais de Mariana e Brumadinho. "A depender dos números finais, esse é um fator que inclusive pode ajudar na perspectiva de dividendos extraordinários", aponta Hungria.
4 - Pode pagar mais?
A Vale costuma pagar os acionistas em março e setembro. Porém, pode ter espaço para pagamento de dividendos extraordinários, na visão dos analistas. Depende do acordo para a indenização em Mariana e dos recursos recebidos com a venda de parte de sua operação de metais básicos e sua geração de caixa, afirma Gustavo Poladian, sócio e analista de renda variável da Meraki Capital. Também depende dos resultados da companhia, defende Bueno.
5 - Devo ter VALE3 em uma carteira de dividendos de longo prazo?
Ela pode ser uma boa escolha para o longo prazo. Também está exposta a metais de transição energética como cobre e níquel, aponta Hungria. A Vale é uma ação cíclica que tende a valorizar mais em ciclos de alta do minério e ao mesmo tempo sofrer os impactos com a queda da commodity. Mesmo assim, tem se mostrado bastante resiliente, o que traz um certo conforto para carregar a ação para o longo prazo em busca de dividendos, diz Bueno
6 - Vale a pena comprar VALE3?
Curto prazo ainda deve ser desafiador pelos preços do minério de ferro para baixo, ruídos sobre a sucessão do CEO e negociações envolvendo os desastres ambientais. Contudo, a Vale está negociando a múltiplos muito baixos, que já embutem esse pessimismo, e pode ter uma melhora nas margens de lucro no segundo semestre.
Retorno pode ser de 9,5%. Hungria recomenda a compra de Vale e projeta um dividend yield de 9,5% para os próximos 12 meses. Bueno também possui recomendação de compra para a ação, até o preço de R$ 73,50. O analista projeta um dividend yield de 9% para os próximos 12 meses. Ele destaca que a companhia está muito descontada e é um bom momento para adquirir as ações da mineradora.
Consenso de mercado para Vale. Levantamento feito pelo TradeMap para a coluna revela que, de 12 bancos e corretoras que acompanham Vale, 10 recomendam a compra da ação, enquanto apenas duas têm recomendação neutra, ou seja, de manter o papel. As instituições esperam que as ações VALE3 possam valorizar até o patamar R$ 80,05 (preço-alvo médio) em 2024. Já o dividend yield médio (retorno em dividendos) esperado é de 11,61% para este ano.
Reportagem
Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.