Tarifaço de Trump: Incerteza e volatilidade devem continuar, diz economista

há 1 semana 5

Incerteza. Não saber o que pode acontecer amanhã, daqui um mês ou um ano é a pior coisa que pode acontecer para a economia, segundo o economista sênior do Banco Inter, André Valério, que vê com preocupação não apenas os investimentos como também a evolução do câmbio e até os próximos passos do Federal Reserve (Fed), o banco central norte-americano.

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“Consumidores não vão comprar casas nem carros. A mesma coisa vai acontecer com investidores, porque são muitas as dúvidas sobre como as outras nações vão reagir às tarifas. Tudo fica em suspenso e isso já deve dar uma parada brusca no PIB americano já no primeiro trimestre”, afirma.

Segundo o especialista, não se sabe também se o presidente do Estados Unidos, Donald Trump, vai recuar ou não. Mas, principalmente, se todas essas ações não vão acabar levando a uma recessão não só nos Estados Unidos, mas em todo o mundo com as reações da China e Europa. “Até os investidores voltarem a ter alguma segurança vai levar um tempo, e os mercados devem continuar instáveis”, afirma.

Tantas incertezas abrem espaço para especulações. Será que Trump recuará? Será que vai negociar as tarifas? “A volatilidade se tornou gigantesca e o índice da bolsa americana mostra isso. Chegou até uma alta de 8%, quando se falou em suspensão, mas logo depois foi desmentido e caiu 5% em questão de minutos, porque o mercado está muito sensível, sem saber para onde ir”, afirma.

Guerra comercial

Para o economista, o mundo está entrando de fato em uma guerra comercial, que não terá ganhadores e ninguém sabe quanto tempo vai durar. “Por causa de tanta confusão, o dólar continua se fortalecendo, porque ainda é um ativo de segurança para o resto do mundo. É um fly to safety bem comum em períodos de recessão”.

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Diante desse cenário, ele acredita que, depois de ficar abaixo de R$ 5,68, agora a previsão é ficar mais próximo de R$ 6, especialmente por causa da expectativa do que China e Europa podem fazer.

Já sobre os títulos do Tesouro Americano para 10 anos, Valério diz que o movimento está estranho, com rendimento subindo. Mas se houver uma saída de capitais nos Estados Unidos, com alguns agentes de peso se desfazendo de treasuries para ter liquidez, isso pressionaria as taxas desses títulos, exatamente como Trump deseja.

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“Por tudo isso, esse momento é muito complicado e volátil para o investidor. É aquela coisa, quem já está dentro não tem muito o que fazer a não ser aguardar. Mas quem está fora tem de esperar, porque nunca se sabe qual o final disso”, diz ele citando a oscilação do S&P. O indicador atingiu um pico em meados de fevereiro e até agora já caiu quase 17%, e deve continuar caindo com tanta incerteza no radar.  

Juros

Para Valério, a situação do Fed é ainda mais complicada, porque havia uma expectativa de que poderia reduzir os juros. Mas se a inflação americana aumentar pode ser que não seja possível. “A posição do Fed é ruim, porque esse aumento das tarifas pode criar um novo ciclo inflacionário. Mas há probabilidade de que haja uma recessão e que, eventualmente, seria mais forte do que o impacto inflacionário. Por isso, é difícil fazer previsão nesse cenário turbulento”, diz.

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