As vendas no varejo dos Estados Unidos aumentaram substancialmente em março com um salto nas compras de carros e outros produtos como eletrônicos, sugerindo que os consumidores estavam se apressando para se antecipar às tarifas.
O valor das compras no varejo, não ajustado pela inflação, aumentou 1,4%, o maior crescimento em mais de dois anos, mostraram os dados do Departamento de Comércio nesta quarta-feira (16). Excluindo automóveis, as vendas subiram 0,5%.
O avanço sugere que os consumidores estavam correndo para comprar carros antes do início das tarifas de 25% do presidente Donald Trump sobre veículos acabados, que entraram em vigor em abril. Tarifas sobre peças ainda estão planejadas para entrar em vigor em 3 de maio. Espera-se que isso aumente os preços em milhares de dólares, embora Trump esteja explorando possíveis isenções temporárias.
Enquanto os automóveis registraram o maior avanço em dois anos, o ganho geral foi amplo, com 11 das 13 categorias do relatório apresentando aumentos. As vendas de materiais de construção, artigos esportivos e eletrônicos também subiram, o que poderia indicar que os consumidores estavam tentando evitar tarifas sobre esses produtos —muitos deles são fabricados na China e agora enfrentam taxas de 145%.
Várias pesquisas sobre comportamento do consumidor despencaram com o avanço das tarifas de Trump, que também estão disparando medidas de expectativas de inflação e afundando a percepção dos americanos sobre sua situação financeira. Com consumidores de baixa renda já enfrentando dificuldades e os mais ricos sendo atingidos por uma recente queda no mercado de ações, as perspectivas para os gastos ficaram mais sombrias e os temores de recessão aumentaram.
Os dados mostraram que as vendas do chamado grupo de controle —que alimentam o cálculo do governo sobre gastos com bens para o PIB (Produto Interno Bruto)— subiram 0,4% em março, sugerindo impulso no final do primeiro trimestre. A medida exclui serviços de alimentação, concessionárias de automóveis, lojas de materiais de construção e postos de gasolina.
Embora os importadores sejam os que pagam pelas tarifas, eles acabam repassando pelo menos parte desses custos aos consumidores —mesmo que o repasse possa levar alguns meses. Como os números de vendas no varejo não são ajustados pela inflação, as tarifas podem distorcer os números daqui para frente, pois um avanço pode simplesmente refletir preços mais altos em vez de maior atividade de vendas.
Empresas como Ford e Walmart estão tentando ajudar os consumidores ao tentar compensar alguns dos custos adicionais, o que afetará as margens. Ainda assim, executivos do grupo de luxo LVMH à cervejaria Constellation Brands têm sido geralmente pessimistas quanto às perspectivas e estão cautelosos sobre como os consumidores irão reagir.
Os funcionários do Federal Reserve estão agora em modo de espera até obterem mais clareza sobre como as tarifas afetam os preços —e a economia como um todo. Alguns formuladores de políticas argumentaram que as taxas resultariam em um choque de preços único, enquanto outros alertam que o impacto poderia ser mais amplo.
Os gastos em restaurantes e bares, a única categoria do setor de serviços no relatório, aumentaram 1,8%, também o maior desde janeiro de 2023.