Tarcísio faz parceria com governo Lula e exalta feito de Obama após protagonismo em ato de Bolsonaro

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Um dia após participar do ato pela anistia aos réus do 8 de janeiro, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), prometeu atuar politicamente para que a pauta avance no Congresso, enquanto fez acenos ao campo político oposto ao seu –com citações ao ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama e assinatura de nova parceria com o governo Lula (PT).

Afilhado político do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e visto como seu possível herdeiro em uma eventual candidatura à Presidência em 2026, Tarcísio foi um dos destaques da manifestação de domingo (6), na avenida Paulista. Além da costumeira hospedagem cedida a Bolsonaro no Palácio dos Bandeirantes, o governador foi recebido com pompa no protesto e tratado como um dos mais fieis escudeiros do ex-presidente.

"O coração da gente bate mais forte, porque chegou o aliado de primeira hora. E a vida é assim. Jesus andou com todos, escolheu 12 para caminhar ao seu lado, escolheu três para orar e escolheu um para botar a cabeça no seu ombro. E agora está chegando o aliado de primeira hora, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas", anunciou o locutor da manifestação quando Tarcísio chegou à Paulista.

Durante o protesto, Bolsonaro elogiou o presidente americano, Donald Trump, a quem o próprio Tarcísio celebrou a posse, em janeiro deste ano. Agora, menos de 24 horas depois, o governador fez menções a Obama, adversário político de Trump, e ao ativista Martin Luther King Jr. –evocando o histórico discurso no qual foi dita a frase "Eu tenho um sonho".

"E o dia em que ele viu... quer dizer, ele não teve a oportunidade de ver, mas aconteceu de ter um negro na Casa Branca, um presidente dos Estados Unidos. Os líderes fazem a diferença", disse Tarcísio, em referência a Obama, o primeiro presidente negro da história dos EUA, ao anunciar novo trecho da linha 4-Amarela do metrô.

Obama é crítico de Bolsonaro. Em 2020, em entrevista ao Programa do Bial, da TV Globo, ele afirmou que as políticas de Bolsonaro, então presidente, à semelhança de Trump, minimizavam "a ciência sobre a mudança climática" e que o Brasil, na época, era um "ator central" nas questões ambientais.

No mesmo evento, Tarcísio foi questionado se atuaria junto à bancada paulista da Câmara dos Deputados pela aprovação do projeto que prevê anistiar os envolvidos no 8 de janeiro. A resposta foi enfática: "Vou, claro".

"O trabalho que tem que ser feito é o trabalho da política agora. É ligar, é conversar, é convencer, é mostrar necessidade, porque a gente acredita que a anistia é um ponto de pacificação", disse ele, sinalizando que sairá em busca de assinaturas dos deputados para levar a votação para o plenário, assim como pressionará o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB).

"Eu conversei com o Hugo Motta na sexta-feira [4] sobre isso. Vou voltar a conversar com ele agora após a manifestação", acrescentou.

À tarde, o governador recebeu o ministro das Cidades, Jader Filho (MDB), para assinar uma parceria com o governo federal na área de habitação. O evento, realizado na sede do governo paulista, não teve presença de representantes bolsonaristas da base de Tarcísio, mas contou com integrantes da oposição, como o deputado estadual Simão Pedro (PT), com quem o governador trocou abraços ao fim do encontro.

A parceria prevê que o governo estadual aporte até R$ 36 mil por apartamento construído pelo programa Minha Casa, Minha Vida. Técnicos justificaram a medida afirmando que o valor do programa, vitrine do governo Lula, é insuficiente para viabilizar moradias em São Paulo. Para quem ganha até dois salários mínimos, o teto de financiamento é de R$ 170 mil —abaixo dos preços mínimos no mercado paulista.

Em seu discurso, Jader Filho elogiou a iniciativa de Tarcísio de firmar a parceria com um governo adversário. Depois, ao falar com jornalistas, disse que o evento "mostra exatamente que o pacto federativo deve ser fortalecido".

"A orientação do presidente Lula é trabalhar com estados e municípios, e foi exatamente isso que fizemos", afirmou.

Tarcísio apoiou Ricardo Nunes, candidato do partido de Jader, na última eleição para a prefeitura da capital. O presidente da sigla, Baleia Rossi, também estava presente.

O governador destacou a importância de alianças para viabilizar obras públicas e prometeu investir R$ 1 bilhão em habitação. Com o apoio estadual, segundo ele, será possível construir 30 mil unidades do Minha Casa, Minha Vida em São Paulo.

Ao comentar as parcerias com o governo federal, Tarcísio afirmou que "o presidente da República" está sensível a demandas como a retirada de moradores de áreas de risco, mas evitou citar o nome de Lula. Ao final do evento, saiu sem falar com a imprensa.

Auxiliares do governador disseram que o evento com o governo Lula no dia seguinte da participação de Tarcísio no ato bolsonarista não foi proposital, mas sim uma coincidência. A data foi definida para encaixar na agenda do ministro, que tem outros compromissos em São Paulo nesta semana, e autoridades como o presidente da Caixa, Carlos Vieira.

No ato de domingo, Tarcísio fez crítica à gestão federal, questionando, por exemplo, a alta no preço dos alimentos.

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