A Polícia Civil do Rio de Janeiro apreendeu na quinta-feira (29) dois computadores e dois celulares de Allan Julio Silva de Oliveira, conhecido como Allan Azambujah. Ele é suspeito de guardar um vídeo íntimo do deputado federal Pedro Paulo (PSD).
O vídeo teria sido usado como moeda de troca para cargos públicos, segundo o próprio Allan.
A existência da gravação foi ponto mais sensível da pré-campanha de Eduardo Paes (PSD) à reeleição. Então favorito de Paes para ocupar a vaga de vice na chapa, Pedro Paulo acabou recusando o convite por medo da repercussão caso o vídeo fosse divulgado. Paes optou, então, pelo deputado estadual Eduardo Cavaliere (PSD).
Em nota, o deputado afirmou que decidiu ir à Justiça "a fim de encerrar o ciclo de ameaças que se arrastava desde 2020, quando começou a ser alvo do cidadão Allan Julio Silva de Oliveira".
A defesa de Pedro Paulo apresentou notícia-crime à Promotoria do Rio de Janeiro e o juiz Flavio Itabaiana, da 27ª Vara Criminal do Rio, determinou no início da semana busca e apreensão.
Na quinta, policiais civis da 15ª DP (Gávea) apreenderam computadores e celulares na casa de Allan. O juiz decretou ainda medidas cautelares. Allan está proibido de divulgar o vídeo, não poderá manter contato com a vítima ou familiares e deles deve manter distância mínima de 500 metros.
Allan afirma que Michelle Shimeni da Silva gravou a chamada de vídeo com Pedro Paulo, em 2020, e repassou o material a ele.
Procurado pela reportagem, Allan respondeu que "não existe prova de extorsão".
"Não estou extorquindo ninguém. A única coisa que pode acontecer é a polícia investigar e tentar restaurar as conversas da menina me coagindo a conseguir um cargo político", disse à Folha, por mensagens, por meio do celular de um amigo.
Pedro Paulo afirma que durante quase quatro anos foi vítima de "perseguição, tentativa de extorsão, difamação e injúria".
Em trecho da nota, os advogados Ary Bergher e Rachel Glatt afirmaram que "as medidas adotadas pela Promotoria, pelo Judiciário e pela polícia são extremamente necessárias e servem de exemplo, para demonstrar que nenhuma pessoa, independentemente do seu sexo, cor, profissão ou qualquer circunstância pode ter sua dignidade e intimidade violadas".
Em julho, Allan relatou à Folha que Michelle e Pedro Paulo se envolveram e depois se afastaram.
Insatisfeita com o afastamento, a mulher teria procurado Allan. Afirmou que Pedro Paulo lhe prometera um cargo, repassou o vídeo e disse que estava disposta a divulgá-lo caso a promessa do deputado não fosse cumprida.
Allan afirmou não ter tido contato direto com Pedro Paulo. As tratativas aconteceram através de Marli Peçanha, pessoa de confiança do núcleo da prefeitura e atual secretária municipal de Ação Comunitária.
Marli assumiu a pasta após a eleição de 2020. Em 2023, foi alocada como subprefeita de Jacarepaguá e retornou à Ação Comunitária este ano.
Allan intermediou um encontro entre Michelle e Marli Peçanha em 2020. Na reunião, segundo ele, houve um acordo para o vídeo não ser divulgado. A contrapartida seria a nomeação em cargos públicos.
Em 2022, o produtor cultural foi à delegacia e registrou queixa por ameaça contra Marli Peçanha. Segundo ele, a secretária recebera recados de que o vídeo não tinha sido apagado e dissera que, em caso de vazamento, "daria dois tiros na cabeça" dele.
Marli foi procurada por mensagens, ligações e através da secretaria, mas não respondeu. A reportagem também procurou Michelle, mas também obteve resposta até a publicação deste texto.
A existência do vídeo voltou a circular este ano e chegou à pré-campanha. Integrantes do PSD e alguns aliados já sabiam da história, mas ficaram surpresos, em julho, com a desistência de Pedro Paulo de concorrer.