Steven Wilson atualiza o rock progressivo do Pink Floyd em seu mais novo disco

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Todos os dias, milhares de pessoas vão ao cinema e veem filmes de duas ou até três horas do início ao fim, o olhar fixado na tela. Mas, por outro lado, o público tem dificuldade de se concentrar por 30 segundos que seja para ouvir uma música.

"Isso me deixa perplexo", diz o músico Steven Wilson, autor da provocação, em entrevista por vídeo. "O que aconteceu? Eu me pergunto —é a influência das plataformas de streaming e de coisas como mídias sociais que meio que nos convenceram de que a música deve transmitir toda a sua magia no espaço de 15 segundos?"

Wilson, cantor, guitarrista e compositor britânico, entende muito bem como a duração de uma faixa pode afetar a experiência do ouvinte. Afinal, embora seja reticente com relação ao rótulo, ele é considerado um dos principais representantes do rock progressivo nos dias atuais.

O estilo popularizado pelo Pink Floyd e pelo Rush nas décadas de 1970 e 1980, de faixas longas que mudam de andamento e alternam sessões instrumentais com partes cantadas, é o guarda-chuvas teórico sob o qual está o novo disco de Wilson, "The Overview", a ser lançado nesta sexta-feira (14). Em outubro, a turnê do álbum chegará a São Paulo para um show no Tokio Marine Hall.

Oitavo trabalho solo do músico, "The Overview" tem apenas duas faixas em 42 minutos de duração, sendo a primeira de sonoridade mais orgânica e a segunda, mais eletrônica. Nelas, Wilson afirma ter tentado criar algo coeso reunindo os vários gêneros musicais de que gosta —música ambiente, pop, pós-punk, jazz e heavy metal.

"Eu cresci ouvindo álbuns como 'Dark Side of the Moon' [do Pink Floyd]. Pense sobre 'OK Computer', do Radiohead, ou esses tipos de disco, que são como trechos de cinema para os ouvidos. Eles não estão subestimando o intelecto e a inteligência do ouvinte", diz o músico.

"Eles estão dizendo —'Sabe de uma coisa? Achamos que o ouvinte pode se envolver com a música em um nível mais profundo e comovente por um período maior de tempo'. E é isso que estou tentando fazer —dar às pessoas uma alternativa para os períodos de atenção curtos."

Esta atenção volátil está alterando a própria estrutura das músicas. Um exemplo, diz Wilson, são as faixas pop contemporâneas, que em geral não tem introdução e começam direto no refrão, sem que haja um crescendo para se chegar a ele, "porque é preciso capturar a atenção dos ouvintes imediatamente".

Fora isso, o vocal é tão presente que a parte instrumental vira praticamente um acompanhamento que poderia ter sido criado por um computador. Na música pop de hoje, segundo ele, os músicos estão ficando de lado.

Wilson, de 57 anos, ficou conhecido como o fundador, letrista, vocalista e guitarrista da banda cult Porcupine Tree, antes de se lançar em carreira solo. Em paralelo, atua como produtor musical —foi o responsável, por exemplo, pela sonoridade do álbum "Blackwater Park", do Opeth, grupo de ponta no metal de hoje e que toca em São Paulo em abril.

Como outros trabalhos de música progressiva, o novo álbum de Wilson tem o universo como tema. O título do disco vem da expressão "the overview effect", usada para descrever a mudança na perspectiva e na consciência que alguns astronautas experimentam ao ver a Terra do espaço. Segundo o músico, o tema o atraiu por possibilitar a reflexão sobre a espécie humana em relação ao cosmos.

É importante "lembrar as pessoas de olharem para cima", ele afirma, antes de apontar para o celular e dizer que estamos todos tão acostumados a olhar para baixo, "para essas coisas, o tempo todo". Mas Wilson faz um adendo, ao contar que também foi sugado pelos smartphones e gasta tempo demais checando os números de likes, visualizações e seguidores de suas contas.

"Sabe, vivemos num planeta incrivelmente bonito. É triste para mim que passemos tanto tempo sem realmente olhar ao redor ou para cima, para o cosmos."

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