A Nasa já definiu a data de retorno da cápsula CST-100 Starliner, da Boeing. O veículo deixará a Estação Espacial Internacional (ISS) sem tripulação às 19h04 (de Brasília) da próxima sexta-feira (6), exatos três meses após ter chegado lá.
O pouso, por sua vez, é esperado para as 23h03, no deserto de White Sands, no Novo México (EUA). Poderia ter sido a primeira aterrissagem de uma cápsula americana contendo astronautas, já que todas as outras até hoje realizaram amerissagens –descidas no mar–, mas os incidentes durante o voo levaram a agência espacial americana a adotar cautela e trazer os astronautas Butch Wilmore e Suni Williams em uma cápsula Crew Dragon, da concorrente SpaceX.
Ainda assim, o retorno da Starliner tem importância fundamental: de seu sucesso depende a certificação da cápsula para futuros voos tripulados, cumprindo o contrato firmado em 2014 entre Nasa e Boeing, no valor de US$ 4,2 bilhões. Se tudo correr bem e a cápsula retornar em segurança à Terra, talvez seja possível que a agência espacial valide o veículo sem realizar um novo voo de teste –mas isso dependerá também de mudanças e adaptações no design para evitar os percalços da atual missão, prejudicada por vazamentos de gás hélio e falhas sistêmicas dos propulsores auxiliares do módulo de serviço.
Contudo, se a cápsula tiver problemas para descer, a Boeing passará por uma situação ainda mais embaraçosa, considerando que a empresa foi voto vencido, defendendo até o fim que o veículo estava apto a trazer os astronautas de volta.
O desfecho mais provável, por uma larga margem, é o retorno bem-sucedido, a exemplo do que já aconteceu com o teste anterior, sem tripulação e também afetado por problemas com propulsores, em 2022. Menos garantida é a disposição da Boeing de seguir trabalhando na Starliner a ponto de firmar novos contratos de transporte de astronautas. A essa altura, o prejuízo acumulado no projeto já atinge US$ 1,6 bilhão –e deve aumentar, mesmo que tudo corra bem no retorno da cápsula.
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Enquanto isso, a SpaceX, concorrente da Boeing e parceira da Nasa no transporte de astronautas, também enfrenta problemas, mas de magnitude muito inferior. Na quarta-feira (28), a empresa não conseguiu recuperar o primeiro estágio de um foguete Falcon 9, após um lançamento bem-sucedido de 21 satélites Starlink. Foi a primeira falha em três anos e meio, precedida por 268 pousos bem-sucedidos.
Embora tenha sido uma ocorrência sem riscos para pessoas ou propriedades, a FAA (agência que regula lançamentos comerciais nos EUA) exigiu uma investigação e suspendeu futuros voos do Falcon 9. Na fila, além de vários lançamentos de satélites, estão a missão tripulada privada Polaris Dawn e o voo Crew-9 à ISS, para a Nasa. A SpaceX, contudo, não espera uma longa pausa em seus lançamentos. Da última vez em que a FAA requisitou uma investigação para uma anomalia com o Falcon 9, a parada foi de duas semanas.
Com isso, a Nasa espera que a missão Crew-9, com o astronauta Nick Hague e o cosmonauta Aleksandr Gorbunov, suba no fim de setembro (não antes do dia 24). A cápsula Crew Dragon passará seis meses acoplada à ISS, de onde retornará em fevereiro de 2025, trazendo Hague, Gorbunov, Wilmore e Williams de volta à Terra.
Esta coluna é publicada às segundas-feiras na versão impressa, em Ciência.
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