A SpaceX está em negociação com autoridades dos Estados Unidos e da Austrália para pousar e recuperar um de seus Starship na costa australiana. A tratativa é um possível primeiro passo para uma maior presença da empresa de Elon Musk na região, conforme os dois países fortalecem laços de segurança, de acordo com três pessoas familiarizadas com os planos.
A ideia seria lançar o foguete de uma instalação da SpaceX no Texas, pousá-lo na costa da Austrália e recuperá-lo no país. Isso exigiria flexibilizar os controles de exportação dos EUA sobre tecnologias espaciais sofisticadas destinadas ao país da Oceania, segundo as três fontes, que falaram sob condição de anonimato.
Procuradas pela Reuters, a SpaceX, a Força Espacial dos EUA e a Agência Espacial Australiana não responderam.
Rebocar o Starship após ele pousar no oceano ou em uma balsa para um porto próximo na costa oeste ou norte da Austrália seria o ideal, embora planos e locais mais específicos ainda estejam sendo discutidos, disseram as fontes.
O acordo seria uma demonstração de mais confiança em um aliado americano próximo que há anos almeja expandir seu programa de defesa espacial, fortalecer laços civis e militares no espaço com os EUA e estimular sua própria base industrial espacial.
As discussões nas últimas semanas entre executivos da SpaceX e autoridades dos EUA e da Austrália têm se concentrado em obstáculos regulatórios para transportar um Starship recuperado em um país estrangeiro, disseram as fontes. Como as negociações estão em andamento, não há nenhuma estimativa de quando o plano pode ser posto em prática.
Ao desenvolver seu foguete Falcon 9 há cerca de uma década, a SpaceX também fez pousos de teste no oceano antes de tentar pousos em terra e em cima de barcaças no mar.
O Starship é um foguete de dois estágios com 121 metros de altura projetado para ser totalmente reutilizável. Ele representa o sistema de foguetes de próxima geração da SpaceX e, com ele, espera-se que se possível lançar grandes lotes de satélites ao espaço, pousar astronautas da Nasa na superfície lunar e potencialmente transportar cargas militares ao redor do mundo em cerca de 90 minutos.
O último voo de teste do Starship, em junho deste ano, foi o mais bem-sucedido até o momento. O veículo foi lançado do Texas em uma trajetória suborbital que a fez cair em queda livre em velocidades hipersônicas de volta através da atmosfera da Terra antes de reacender seus motores para um pouso suave no Oceano Índico, cerca de 90 minutos após o lançamento. Seu propulsor SuperHeavy pousou no Golfo do México.
Os três primeiros voos terminaram com o Starship se desintegrando. Mas o quarto e último levou a pensar em uma nova fase de testes de pouso mais complicados, de acordo com várias pessoas familiarizadas com os planos da empresa.
O programa "Rocket Cargo", do Laboratório de Pesquisa da Força Aérea dos EUA, prevê o uso de foguetes suborbitais para entregar rapidamente cargas militares ao redor do mundo em 90 minutos, chamado de entrega ponto a ponto. Alguns integrantes do Pentágono viram o lançamento do Starship em junho como uma demonstração crucial deste programa, de acordo com autoridades de defesa dos EUA.
Um lançamento do Starship do Texas e um pouso na Austrália poderiam reforçar a viabilidade dessa entrega ponto a ponto.
O tempo de entrega de cargas com o uso de foguetes ao redor do planeta seria apenas uma fração das aproximadamente 12 a 24 horas normalmente necessárias para aeronaves tradicionais.
Desde 2021, a SpaceX vem estudando como usar o Starship para essas entregas sob um contrato de US$ 102 milhões com o Pentágono. O programa avançará para um esforço de protótipo mais sério com a Força Espacial dos EUA no próximo ano, de acordo com documentos orçamentários de 2025.