O setor de consórcios encerrou 2024 batendo recordes em adesões, participantes ativos e créditos comercializados. Os juros elevados, que encarecem o financiamento imobiliário, e a adesão de brasileiros no exterior jogam a favor do setor, que projeta alcançar, em 2025, o melhor ano desde 2010.
De acordo a Abac (Associação Brasileira das Administradoras de Consórcios), o segmento ultrapassou a marca de 11 milhões de consorciados ativos, movimentando mais de R$ 378 bilhões em operações.
Ao considerar o desempenho dos tíquetes médios de dezembro nos últimos cinco anos, observou-se aumento nominal de 48%. Descontada a inflação (IPCA) de 29,4% no período, houve valorização real de 14,4%.
O presidente-executivo da associação, Paulo Roberto Rossi, estima que o sistema poderá crescer 8% em 2025. Por segmento, os aumentos devem ser de 20% para imóveis, categoria mais buscada em todas as administradoras. Depois, o crescimento esperado é de de 10% para veículos pesados, 6% para veículos leves, 2% para motocicletas, 23% para eletroeletrônicos e outros bens móveis duráveis e 10% para o consórcio de serviços.
O setor também vem se beneficiando da adesão de brasileiros que moram no exterior, atraídos pelas condições dos consórcios, especialmente no segmento imobiliário, no qual as parcelas são cobradas em reais, tornando-as competitivas frente à valorização do dólar e do euro.
Com a meta de atingir R$ 33,5 bilhões em créditos vendidos em 2025, o que corresponderá a um crescimento de cerca de 23% em relação a 2024, a administradora de consórcios Ademicon inaugura neste primeiro semestre uma unidade física em Miami, na Flórida.
"Percebemos nos últimos anos que os brasileiros que imigraram nos acionam para fazer consórcio de imóveis e investir aqui ou ter um bem quando voltar. Com o dólar e o euro mais valorizados do que o real, as parcelas ficam ainda mais atrativas, porque são cobradas em reais", afirma Guilherme Carrasco, vice-presidente-executivo da empresa.
Folha Mercado
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Carrasco aposta que a abertura do escritório na Flórida —após um estudo de um ano e meio— permitirá ampliar a operação, dobrando o volume de negócios já realizados para brasileiros no exterior, que atualmente gira em torno de R$ 200 milhões. "Quase todo desejo é para comprar terreno ou imóvel. O sentimento de casa própria é muito forte para o brasileiro", diz o executivo.
Enquanto aqui a Ademicon marca presença no Big Brother Brasil, na camisa do São Paulo e em torneio de tênis, lá fora o marketing está sendo feito por meio de entrevistas em rádios e canais de TV voltados para brasileiros.
A Embracon, que encerrou 2024 com um faturamento de R$ 22 bilhões —um crescimento de 79% em relação a 2023— também faz tabelas em dólar e em euro para que brasileiros, especialmente os que vivem em Portugal e nos EUA, adquiram consórcio de um bem no Brasil.
"Mas nosso foco é quem mora aqui. Temos um universo para explorar no Brasil e queremos aumentar a presença da marca. Apenas 5% da população participa de consórcio, o que nos mostra o quanto esse mercado pode expandir", afirma Luís Toscano, vice-presidente de negócios da Embracon.
Segundo Toscano, o perfil do consumidor de consórcios é cada vez mais qualificado e exigente. "A educação financeira nos favoreceu muito", diz. Ele defende que a taxa de administração fixa proporciona estabilidade —em um plano de 20 anos, equivale a aproximadamente 1% ao ano— e torna o consórcio uma opção mais atrativa, sobretudo em um cenário de restrições ao crédito e juros altos nos financiamentos imobiliários.
"Um consumidor que não tem os 30% do valor para dar de entrada no imóvel, se planeja para poder usar o dinheiro em lance do consórcio", afirma Toscano.
Bruno Borges, CMO do MyCotas, afirma que o cenário é positivo para o setor, porém, embora o alto custo dos financiamentos torne o consórcio mais atrativo, a taxa de cancelamento –que já se aproxima dos 50%– pode aumentar em períodos de dificuldade financeira.
"Pode aumentar porque as pessoas com alguma dificuldade financeira acabam saindo do consórcio. É diferente do financiamento, pelo qual pagam já tendo o produto", diz Borges.
Para mitigar a saída dos consorciados, a empresa desenvolveu o MyCotas, uma plataforma de compra e venda de cartas contempladas. "As cotas contempladas são comercializadas com ágio sobre o valor do crédito em torno de 30%, ou seja, uma cota contemplada de R$ 100 mil pode gerar ganho aproximado de até R$ 30 mil para o vendedor", diz o executivo.
A negociação é feita diretamente entre as partes, porém a transferência de titularidade e a liberação do crédito precisam ser aprovadas, conforme as regras estabelecidas pelo Banco Central.