Ser homem ou branco é visto como fator que ajuda a ter sucesso nas empresas, diz Datafolha

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Ser homem ou branco é visto como fator mais benéfico para ter sucesso nas empresas, aponta pesquisa do Datafolha. Por outro lado, para 42% dos entrevistados, ter algum tipo de deficiência ou incapacidade física é considerado o fator mais prejudicial.

Segundo o levantamento, 56% dos ouvidos dizem acreditar que ser homem favorece o êxito profissional, enquanto 47% pensam o mesmo sobre ser branco. Entre mulheres e negros, essa percepção é ainda maior: 61% e 60%, respectivamente, afirmam que ser homem é um fator positivo, enquanto 52% e 53%, respectivamente, concordam que ser branco é uma vantagem.

Já ser mulher é visto como benéfico para 32% dos entrevistados, embora considerado fator prejudicial para 21%. No caso de pessoas negras, 58% afirmam que a característica não beneficia nem prejudica, enquanto 24% dizem ser prejudicial e 16% declaram enxergar benefícios.

A pesquisa Datafolha foi realizada com 1.013 pessoas por meio de um painel de internautas das regiões metropolitanas de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife, Fortaleza, Salvador, Porto Alegre, Curitiba, Belém, Goiânia e Brasília.

Conduzido entre 15 e 25 de setembro deste ano, o levantamento incluiu apenas pessoas com mais de 18 anos empregadas em cargos administrativos, equivalentes ou superiores em empresas brasileiras com pelo menos 50 funcionários. A margem de erro é de 3 pontos percentuais para o total da amostra.

A pesquisa Datafolha foi feita para o Diversidade nas Empresas, projeto da Folha que inclui levantamento do Centro de Estudos em Finanças da FGV (Fundação Getulio Vargas). Ele destaca as companhias mais diversas segundo dados de empresas de capital aberto declarados à CVM (Comissão de Valores Mobiliários). O trabalho considerou cargos de média liderança, diretoria e conselhos fiscal e de administração de empresas com mais de 100 funcionários.

Grazi Mendes, líder executiva e acadêmica que atua na área de diversidade, inclusão e liderança, afirma que a discussão sobre essas temáticas não diz respeito apenas a diferenças entre homens e mulheres ou pessoas negras e não negras, mas sim a dinâmicas de poder.

"As pessoas falam que ser homem, branco, hétero, cis traz vantagens dentro das organizações porque as empresas são espaços de poder", analisa. Para ela, este seria o "arquétipo do poder", que cria a percepção de que o homem branco é mais competente para ocupar posições de liderança.

Ao observar o topo da hierarquia, 76% afirmam que o cargo mais alto da empresa em que trabalham é ocupado por um homem, e 84% dizem que uma pessoa branca detém essa posição.

A pesquisa revela também que apenas 22% dos entrevistados trabalham em empresas que são lideradas por mulheres, e só 8% estão em companhias que têm pessoas negras no cargo mais alto.

Além disso, os dados mostram que chefias femininas são mais comuns entre subordinadas mulheres (41%) do que entre homens (28%). De maneira semelhante, chefes negros são mais frequentes entre funcionários negros e indígenas (18%) do que entre brancos (9%).

Mendes ressalta, entretanto, que a presença de superiores pertencentes a grupos sub-representados não garante a diversidade das equipes que lideram, embora possa influenciar.

"Quando você aumenta a diversidade nos papéis que tomam decisões, existe o potencial de ampliar iniciativas. Mas isso não ocorre naturalmente." O que costumar acontecer, de acordo com ela, é a reprodução de exclusões e discriminações.

Já o principal fator prejudicial para obter sucesso numa empresa, para os entrevistados da pesquisa, é ter algum tipo de deficiência. Andrea Schwarz, influenciadora digital e consultora em inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho há 25 anos, afirma que as respostas não surpreendem.

"Existem muitos mitos que prejudicam a empregabilidade", diz ela, citando alguns: não existem pessoas com deficiência qualificadas ou que elas não têm bom desempenho pois são contratadas para cumprir cotas e não pela qualificação.

"A visão ainda é de que a deficiência coloca limites na carreira, restringindo a ascensão profissional a cargos mais operacionais e impedindo a possibilidade de liderança."

Parte da inclusão também está relacionada à infraestrutura, que, para Schwarz, precisa ser vista pelas companhias como um investimento.

Na pesquisa Datafolha, 66% dos entrevistados avaliam como ótima ou boa a estrutura da empresa em que trabalham para receber pessoas com algum tipo de deficiência física, e 59% afirmam conviver no ambiente de trabalho com pessoas que têm essa condição.

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