De acordo com a Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA), seriam necessários, pelo menos, R$ 22 bilhões para pagar a subvenção da metade final do Plano Safra 2024/25, o início de 2025/26 e os estoques de financiamentos feitos em temporadas prévias.
O anúncio dos R$ 4 bilhões coloca panos quentes no curto prazo, mas a discussão é mais profunda do que a cifra emergencial pode resolver. Se houvesse mais valores subsidiados e uma taxa de juros livre menor do que os cerca de 15% operados pelos bancos, a situação seria menos prejudicial.
José Eustáquio Ribeiro Vieira Filho, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), diz que dos R$ 486 bilhões anunciados para o Plano Safra 2024/25 - considerando agricultura empresarial e familiar -, somente R$ 16,3 bilhões são subsidiados pelo governo e a maioria vai para o Pronaf. O restante do valor é disponibilizado ao mercado por meio dos bancos, acompanhando a Selic.
"A taxa de juros mais elevada é mais prejudicial ao setor do que esse contingenciamento", afirma. Ele também compara o subsídio brasileiro com outros países. "O valor bruto da produção (VBP) agropecuária brasileira está em quase R$ 1,1 trilhão. Se dividirmos essa subvenção pelo VBP, isso dá uma taxa em torno de 1,5%. Para comparação, o subsídio americano é 12% e dos países da OCDE é 16%", ele explica.
Atualmente, ele aponta um cenário de queima de reservas por parte do governo federal, expectativa de safra recorde e taxa de juros elevada. Com esta conjuntura, há atração de investimento estrangeiro para dentro do país, tanto especulativo quanto investimento a longo prazo, mas também o câmbio é pressionado para baixo. Daí, o produtor que importou insumos a um dólar alto, exporta a uma moeda desvalorizada e tende a investir menos na lavoura.
"O que vai acontecer, na verdade, é que como a taxa de juros está muito elevada, haverá redução de investimento por esse motivo, não pelo contingenciamento", avalia.