Se demanda por lítio explodiu, por que o Brasil não entrega riqueza prometida?

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O fluxo balançou a economia de Araçuaí. Segundo o governo de Minas Gerais, um ano depois do lançamento, o projeto "Vale do Lítio" atraiu R$ 5,5 bilhões em negócios "para o 'Vale da Esperança'", "permitiu a geração de mais de 10 mil empregos diretos e indiretos" e contribuiu para a arrecadação de R$ 55,1 milhões de Compensação Financeira pela Exploração Mineral (Cfem) paga aos municípios afetados.

Porém, em vez de se refletir na renda da população local, vários moradores dizem ver a inflação tomar conta de produtos, serviços e terrenos da cidade. Um dos setores mais afetados foi o de moradia. Araçuaienses ouvidos pela reportagem da DW afirmam que casas pelas quais antes se pagava R$ 500 de aluguel hoje já custam até R$ 2.000 - uma alta de 400%.

Como efeito, alguns proprietários de casas no centro estão alugando as residências e se mudando para a periferia e cidades vizinhas. Ali, constroem novas moradias. A migração acaba tendo um efeito dominó, pois aumenta o preço do material de construção e dos terrenos, segundo apurou a reportagem da DW.

"Esse aquecimento da economia regional, dos serviços, é uma ilusão aparente", defende Aline Weber, pesquisadora da UFVJM (Universidade Federal do Vale do Jequitinhonha e Mucuri) e do grupo Liquit, que estuda impactos da mineração de lítio na região. "Todo mundo está sendo expulso do centro de Araçuaí, para áreas mais periféricas, e essa desigualdade vai se acirrar, agravando ainda a violência urbana, a falta de água, a precarização dos serviços públicos", prevê.

Autor do livro "The Rare Metal Wars" ("A Guerra dos Metais Raros", em tradução livre), o pesquisador francês Guillaume Pitron resume a situação vivida no Jequitinhonha e outras regiões do planeta. Para ele, é preciso encarar a transição energética com realismo.

"Essa visão precisa ser mais bem compreendida. Precisamos da transição energética, precisamos fazê-la acontecer... Quero acreditar que uma era baseada em metais é melhor do que uma baseada em petróleo, mas a questão é como faremos essa transição", observa. "Faremos isso a que custo para o meio ambiente, para as populações locais, para que homens e mulheres impactados e empregados nas minas e refinarias sejam tratados com dignidade?", questiona.

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