Quem foi Syn de Conde, considerado o primeiro ator brasileiro em Hollywood

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Muito antes de Sônia Braga, Wagner Moura, Rodrigo Santoro e mesmo Carmen Miranda povoarem Hollywood, outro ator brasileiro já havia fincado sua bandeira no cinema americano. Syn de Conde foi para os Estados Unidos em 1918 e atuou em oito filmes, ganhando destaque antes da era de ouro dos anos 1920, quando saiu de cena.

Synésio Mariano de Aguiar nasceu em Belém, no Pará, em 1894. Filho de uma família que enriqueceu durante o ciclo da borracha, ele foi enviado pelo pai para estudar na Europa, primeiro na Suiça, depois em Paris, mas logo se mudou para os Estados Unidos, onde começou a carreira como professor de dança, aproveitando-se do prestígio que os bailarinos da América Latina tinham por lá.

"O Syn era um dândi, muito bem vestido, sustentado pelo pai, que foi estudar em Paris, como o Santos Dumont", diz o jornalista Ismaelino Pinto, que dirigiu com o também jornalista Fábio Castro um documentário sobre o ator. "Era um bon vivant que se aventurou na belle époque parisiense e chegou aos Estados Unidos, nesse momento em que começa a história do cinema americano."

Pinto conheceu a história de Syn através de Pedro Valeriano, pesquisador de cinema já morto. Seu filme é um dos poucos levantamentos mais aprofundados sobre a vida do ator pioneiro, que continua esquecido pela memória do cinema brasileiro. "É uma história que sobreviveu pela oralidade", ele afirma.

Em um depoimento presente em um boletim da mostra Recordando Syn de Conde, exibida na Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro em 1974, o ator conta que chegou a Hollywood de uma maneira banal.

"Ganhando uma boa mesada e vestindo-me muito bem, consegui algum sucesso entre as mulheres americanas. Uma tarde, quando estava numa das famosas 'afternoon tea', um chá da tarde, vi uma jovem muito bonita, dessas que chamam a atenção", ele diz.

A moça era Alla Nazimova, uma das grandes atrizes do cinema mudo. "Imediatamente pensei em mudar meu nome, escolhendo um nome de 'guerra' à maneira americana. Abreviei meu nome de batismo para Syn e acrescentei o De Conde", conta.

Ele foi então visitar a jovem num estúdio onde ela filmava seu próximo filme. Nazimova pensou que o brasileiro era francês por causa do nome inventado, e ele achou melhor ficar não desfazer o engano, para evitar que notícias de sua estadia nos Estados Unidos chegassem aos ouvidos de seu pai.

Conde acompanhou a gravação de uma cena em que um ator dançava apache, estilo que ele conhecia bem por causa do seu tempo no Quartier Latin, em Paris. Reparou que os passos estavam errados e mostrou ao diretor da longa-metragem, George D. Baker, como fazê-los direito. Nisso, acabou tomando para si o papel, seu primeiro, recebendo US$ 200 por semana.

Conde trabalhou com diretores importantes, como D.W. Griffith, em "A Garota que Ficou em Casa", de 1919, e teve amigos como Douglas Fairbanks, Carl Dempster, Harold Lloyd, Carl Seymour, Geraldine Farrar e Rudolph Valentino, com quem chegou a morar.

"No meu tempo, Valentino não era nada", ele afirma no panfleto do MAM. "Mas era um rapaz muito bonito, vestia-se muito bem, falava vários idiomas, até que foi descoberto por uma senhora de um diretor que, da simpatia imediata, passou a um contrato, começado em 'Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse'."

O ator diz ter conhecido Fairbanks quando os dois faziam dublês de artistas em cenas perigosas. Ainda em 1919, um amigo da família contou ao pai do ator —para quem o filho ainda estava em Paris estudando— que viu Conde no cinema, em "Chama do Deserto". Revoltado com o filho, que continuava sustentando a distância, o obrigou a voltar a Belém.

"Eu fiquei em Hollywood até meu pai achar que eu estava perdendo tempo fazendo 'besteiras', pois cinema naquela época não era visto com bons olhos", conta. "Então voltei, a chamado de meu pai, para casar. Foi a maior besteira que já fiz na vida. Cheguei a ganhar US$ 600 por semana, vivia como um rei e deixei tudo para voltar ao Brasil e casar com uma jovem de família rica de quem eu não gostava."

Ele se separou dois meses depois. Passou uma nova temporada na Europa e retornou ao Brasil em 1927, quando entrou para o Ministério da Agricultura, onde trabalhou por 44 anos, até se aposentar. Morreu em 1990, no Rio de Janeiro, e foi sepultado no Cemitério São João Batista.

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