Imagine que você está procurando um médico para realizar um tratamento delicado. Optaria pelo profissional mais barato ou pelo que possui a melhor reputação e histórico de resultados? No mundo dos fundos de investimento, a lógica é a mesma: você está contratando um serviço que envolve uma equipe especializada, e, como em qualquer área, qualidade tende a custar mais. O problema é que muitos investidores enxergam a taxa de administração como um vilão, sem perceber que o barato, muitas vezes, sai caro.
A primeira confusão é acreditar que fundos com menor taxa de administração são sempre melhores. Não necessariamente. O que realmente importa é a relação entre custo e entrega. Bons gestores tendem a gerar um retorno superior ao mercado e, por isso, cobram um preço justo pelo trabalho. Por exemplo, um fundo de ações que apresenta retornos de 15% ao ano com uma taxa de administração de 2% ainda será muito mais vantajoso do que um fundo que rende 10% ao ano com taxa de 1%. Afinal, o retorno final apresentado ao investidor já é líquido de todas as taxas.
E aqui vem a segunda confusão: muitos investidores cometem o erro de subtrair a taxa de administração do retorno divulgado pelo fundo. Não é necessário! Por regulamentação, todo retorno reportado já desconta todas as taxas – administração, performance e demais custos. Se um fundo apresentou 12% de ganho em um ano, esse é o lucro líquido que você realmente obteve. O único custo adicional é o Imposto de Renda, caso exista, e ele será equivalente às aplicações de mesmo tipo.
Por fim, comparar taxas de administração indiscriminadamente entre produtos é outro erro comum. Cada categoria de fundo possui características e custos distintos. Um fundo de renda fixa simples, que investe em títulos públicos, demanda menos estrutura do que um fundo multimercado ou de ações, que exige análises complexas, acompanhamento de risco e uma equipe robusta. Comparar um fundo com taxa de 0,3% ao ano com outro que cobra 2% sem entender a estratégia e os resultados de cada um é como comparar laranjas com maçãs.
Vamos a um exemplo prático: imagine dois fundos de renda fixa com características diferentes. O Fundo A cobra 0,3% ao ano de taxa de administração e rende 100% do CDI. Já o Fundo B, com uma taxa de 1% ao ano, busca retornos mais ativos e entrega 115% do CDI. Se o CDI for de 10% ao ano, o Fundo A traria um retorno de 10% ao ano, enquanto o Fundo B entregaria 11,5% ao ano. No longo prazo, a diferença de 1,5% ao ano pode significar um patrimônio 30% maior em 20 anos.
Portanto, em vez de focar exclusivamente na taxa de administração, o investidor deve se perguntar: o fundo entrega o valor que promete? O custo é proporcional ao resultado? Escolher o fundo certo, com uma equipe competente e uma estratégia alinhada ao seu perfil e objetivos, vai garantir que você pague o preço justo e, ainda assim, maximize seus ganhos.
No fim das contas, a taxa de administração não é o vilão da história – desde que você escolha o herói certo para gerenciar seu dinheiro.
Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.
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