Produção nacional e sistema de aluguel devem aquecer mercado de motos elétricas

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Entre as 1,41 milhão de motos emplacadas entre janeiro e setembro, apenas 5.260 são elétricas, segundo dados da Fenabrave (associação dos distribuidores de veículos). O segmento acumula queda de 19% em relação ao mesmo período de 2023, bem diferente das altas registradas entre os carros a bateria.

Embora esse mercado ainda não tenha decolado no Brasil, há iniciativas que podem destravá-lo, contribuindo para a descarbonização do transporte urbano de mercadorias.

"O maior desafio do varejo é a falta de segurança do cliente em relação à continuidade das marcas no mercado, por isso pensamos em montar no Brasil", diz o empresário Anderson Oliveira, proprietário da EcoPower. A empresa de painéis solares se associou à chinesa Horwin para montar motocicletas a bateria em Barretos (interior de São Paulo).

A empresa pretende investir R$ 150 milhões na parceria, e a rede de distribuição já tem 350 pontos de venda, aproveitando a estrutura dos franqueados da EcoPower. As unidades importadas já estão disponíveis, e a montagem local deve começar em janeiro de 2025.

O foco principal está no delivery, que demanda por motos de maior desempenho e autonomia. Daí vem a necessidade de licenciamento, diferentemente das opções recreativas, que se assemelham às bicicletas.

Todos os modelos do Horwin precisarão ser emplacados, e os preços variam de R$ 20 mil a R$ 40 mil. Os valores são altos quando comparados aos de motos com motor a combustão, principalmente as de baixa cilindrada usadas pelos trabalhadores do setor de entregas urbanas. Por exemplo, a Honda CG 160 flex é vendida por a partir de R$ 14.650.

Para atender esse público, uma das apostas no setor de motocicletas a bateria é o sistema de locação.

A entregadora Doralice Santos, 45, anda de moto desde os 19 anos. Há cerca de seis meses, optou por alugar um modelo elétrico na plataforma Vammo, a um custo semanal de R$ 299. A autonomia é de aproximadamente 60 km, mas há pontos para troca das baterias, com custo incluso no plano.

"Não tenho mais preocupação com abastecimento", afirma Doralice, que só reclama da distribuição dos locais de troca, que considera insuficientes para seus trajetos diários, concentrados na região da Mooca (zona leste de São Paulo).

Segundo o britânico Jack Sarvary, fundador da Vammo, há mil motos elétricas disponíveis atualmente na Grande São Paulo. O objetivo é chegar a 10 mil unidades até o fim de 2025, incluindo outras regiões metropolitanas do país.

Quanto aos pontos para troca, há 150 estações disponíveis hoje. Por meio do aplicativo da empresa, o motociclista libera o gabinete para armazenar a bateria usada. Após conectá-la ao carregador, o sistema faz o diagnóstico sobre o estado do componente.

Se tudo estiver em ordem, é liberada a portinhola em que está a bateria carregada. Basta colocá-la na moto para seguir viagem. A entregadora Doralice Santos diz que é um processo rápido, que leva por volta de um ou dois minutos.

Os bons resultados obtidos pela Vammo estimularam a expansão do negócio. A empresa lança nesta semana outras opções de locação, como o plano de até 300 km por semana por R$ 229. Ao ultrapassar essa quilometragem, o cliente vai automaticamente para a próxima faixa de valores. O teto são os R$ 299 cobrados até então.

Anderson Oliveira, da EcoPower, afirma que a preocupação com estoque de peças e manutenção é maior em cidades do interior, e por isso busca parcerias com oficinas locais e oferece treinamento da mão de obra para reparos nas motos Horwin.

As baterias têm garantia de 1.800 ciclos de recarga. Pelos cálculos da empresa, um entregador profissional deve levar cerca de cinco anos para atingir esse número. A empresa vai oferecer um sistema de recarga por meio de painéis solares, com instalação inclusa no valor da moto.

Já a Vammo não permite que as baterias de suas motos sejam recarregadas em casa. Os usuários precisam sempre recorrer aos pontos de troca.

Sarvary diz que a empresa testou diferentes motos elétricas até chegar aos modelos atuais, que são da marca Vmoto. O mais utilizado pelos entregadores é o scooter CPX, que já é visto com frequência nas ruas de São Paulo.

As motos da Voltz estiveram entre as avaliadas pela Vammo, mas o negócio não foi concretizado. Em 2019, a fabricante abriu linha de montagem no Polo Industrial de Manaus, mas passou por problemas de fornecimento de componentes durante a pandemia de Covid-19. Hoje, está em recuperação judicial.

O fechamento das lojas da marca afetou a confiança do consumidor, o que também explica a dificuldade de aceitação das motos elétricas. Renato Villar, empresário que está à frente da Voltz, diz que a marca está em fase de captação de recursos, o que "irá trazer a empresa de volta ao jogo".

O iFood foi parceiro da Voltz até 2023, mas os problemas com prazos levaram ao encerramento do contrato.

"Os entregadores que adquiriram motos elétricas Voltz receberam suporte individualizado do iFood para resolver qualquer questão da parceria. O projeto de eletrificação da frota permanece sendo uma prioridade", diz a empresa, em nota.

A startup tem hoje 310 mil entregadores cadastrados, e ainda oferece opções de bicicletas elétricas. Mas há planos de retornar com as motos. "Recentemente, o iFood passou a integrar a Aliança Pela Mobilidade Sustentável, movimento que reúne diversas empresas com o objetivo de promover a eletrificação de veículos e a infraestrutura de recarga no Brasil."

A 99 também faz parte da Aliança, e tem metas para o segmento de motocicletas.

"Para 2024, a 99 definiu como objetivo alcançar 2.000 motos elétricas na plataforma, incentivando o lançamento de um modelo de veículo desenhado especialmente para o cenário de transporte de passageiros no Brasil", diz o comunicado enviado pela empresa.

"Para 2025, a companhia visa ampliar esse número para 10 mil motos elétricas, além de contar com redes de trocas de baterias em cinco cidades brasileiras."

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