Nos últimos anos, as vendas de motos trail têm crescido no Brasil. Tanto que os modelos do segmento, que usam rodas raiadas, pneus de uso misto e suspensão de curso mais longo, superaram as motonetas e já representam o segundo tipo de moto mais vendida no País, com 19% do mercado. Perdem apenas para as motos urbanas, que concentram metade das vendas.
De olho nesse segmento, a Honda “renasceu” a Tornado, trail de sucesso no passado, que renasce com novo motor e quadro, mas a mesma proposta. Com rodas raiadas, de 21" na dianteira e 18" na traseira, e suspensões com mais de 200 mm de curso, a nova XR 300L Tornado usa o mesmo motor e quadro da Sahara 300. Entretanto, seu design remete aos modelos de motocross. Com silhueta esbelta, banco fino e paralama alto, a nova Tornado 300 chega às lojas apenas na cor vermelha, com grafismos inspirados na linha CRF da Honda, com preço sugerido a partir de R$ 27.690.
O valor equivale a Sahara 300 Rally, versão intermediária, mas a Honda não acredita que a Tornado irá “canibalizar” as vendas da sua irmã. “A Tornado chega para ampliar a gama de motos trail da Honda, mas com uma proposta mais off-road”, esclarece o supervisor de Relações Públicas da Honda, Luiz Gustavo Guereschi.
Diferenças para a Sahara
Embora use o mesmo chassi do tipo berço duplo, derivado da CRF 250F, como a Sahara, a Tornado 300 tem outra geometria. O ângulo de cáster e o trail da suspensão dianteira são diferentes, assim como a mesa inferior, forjada em alumínio. Mudanças feitas para tornar a Tornado mais ágil nas trilhas.
Na traseira, o link que fixa o amortecedor à balança é mais longo, aumentando o curso da suspensão para 227 mm (2 mm a mais do que na Sahara). Já, na dianteira, o garfo telescópico convencional tem os mesmos 245 mm de curso, mas ganhou coifas (sanfonas) e um novo ajuste.
Com menos carenagem e com peças em material mais leve, a Tornado também pesa menos: 143 kg a seco contra 146 kg da Sahara. Outros detalhes, como pedal de câmbio articulado, aros com trava para pneu e pedaleiras sem borracha, complementam as alterações feitas pela Honda para tornar a Tornado 300 mais capaz no fora-de-estrada.
Das estradas para a trilha
Afinal, assim como a XR 250 que a originou, a proposta da renascida Tornado XR 300L é ser quase uma moto off-road, porém emplacada para poder circular em vias públicas. Para isso, o modelo traz espelhos retrovisores, farol, lanterna e piscas, todos agora em LED.
Foi justamente isso que fizemos no primeiro contato com a nova Tornado 300. O trajeto, preparado pela Honda, na região de Urubici (SC) previa 60% de asfalto e 40% de off-road, pelas estradas de terra e trilhas para conhecer as atrações da serra catarinense.
Ao montar na Tornado 300, nota-se que, em função das mudanças ciclísticas, o assento é alto na Tornado: 890 mm contra 859 mm na Sahara. Mesmo com o banco mais fino e estreito é preciso certa habilidade para apoiar os pés no chão, principalmente para quem mede menos de 1,80 m.
O motor de um cilindro e 250 cm3 é o conhecido de CB 300F Twister e Sahara 300. Contudo, devido à menor caixa de ar, o monocilíndrico produz menos potência: 24,3 cv na Tornado contra 24,8 cv na Sahara, ambos a 7.500 rpm. O torque permanece em 2,7 kgf.m a 5.750 giros. Ambos os valores com gasolina, lembrando que o motor é flex.
Porém, na prática, mal se nota a potência menor. Com a mesma caixa de câmbio, de seis marchas com embreagem assistida e deslizante, as primeiras marchas são bem curtas, enquanto a partir da quarta é mais longa. Rodamos alguns quilômetros nas rodovias sinuosas da serra e o motor manteve o bom torque desde baixos giros e a velocidade final, declarada pela Honda, ficou em 124 km/h. Pouca coisa menor do que os 129 km/h da Sahara.
Mas o que muda mesmo é a posição de pilotagem e o conforto do condutor. Sem carenagens e com um guidão mais à frente, o motociclista assume uma posição de pilotagem agressiva, de “peito aberto” para o vento. Em velocidades mais altas, a turbulência incomoda.
Como o trajeto foi escolhido para destacar vocação mais off-road da Tornado, o assento mais fino, não chegou a cansar, pois logo entramos em uma estrada de terra. Mas já foi o suficiente para perceber que em longas distâncias, seja 100 km ou 200 km, o banco da Tornado será menos confortável do que o da Sahara.
Por outro lado, quando assumi uma posição de pé para pilotar no off-road, a nova XR 300L mostra suas qualidades. As pedaleiras sem borracha garantem mais firmeza às botas, a carenagem mais estreita do tanque permite segurar a moto entre as pernas e a ciclística mais agressiva ajuda a desviar dos buracos.
Vale destacar ainda o bom acerto das suspensões. Embora tenhamos rodado 40 quilômetros com muita pedra, o garfo telescópico não chegou ao fim do curso e absorveu bem a buraqueira até o Morro do Campo dos Padres, um belo platô a mais de 1.800 m de altitude.
A crítica vai para os freios. Apesar de funcionar bem no asfalto e até na terra, o conjunto com disco nas duas rodas não permite desativar o sistema ABS de dois canais, nem na roda traseira, o que ajuda em certas situações no fora-de-estrada. Além do mais, devido a sua proposta off-road, esperava-se que a Tornado oferecesse essa opção.
Outro ponto negativo foi o painel. Apesar de completo e de fácil visualização em estradas de asfalto, juntou muita poeira e ficou ilegível na terra. Também senti falta de um protetor de mão, acessório quase obrigatório em motos de trilha.
Mais opções
Além de carregar o nome da antiga Tornado, a nova XR 300L traz o mesmo DNA “trilheiro”. Uma opção para os motociclistas que gostam de rodar na terra e até em trilhas, mas não têm grana para investir em uma moto exclusivamente off-road.
O modelo também amplia as opções da Honda no segmento trail. Quem quiser uma moto trail mais “estradeira”, pode optar pela Sahara 300. Já os que gostam mais de uma trail raiz têm a Tornado como opção.
De certa forma, a Tornado também briga com a Yamaha XTZ 250 Lander. Com um visual mais trail e preço menor do que a Sahara, a Lander seria a concorrente direta da nova Honda de 300 cilindradas. O modelo da Yamaha ainda vende bem, mas deve trazer novidades para 2025.