Cientistas chineses publicaram os primeiros resultados da análise das amostras trazidas do hemisfério oculto da Lua. Os dados confirmam algumas expectativas pré-coleta e a importância do material para estudos que ajudarão a entender as origens e a evolução geológica do satélite natural da Terra.
A missão robótica Chang'E 6 trouxe de volta à Terra, em junho deste ano, 1.935,3 gramas de amostras lunares na região da Bacia Polo Sul-Aitken, no lado afastado do satélite –a face que nunca se pode ver da Terra, sempre "de costas" para nós. Foi a primeira vez que se procedeu com a coleta de amostras daquele hemisfério, já que todas as missões anteriores voltadas a esse fim, fossem as tripuladas Apollo, conduzidas pelos Estados Unidos entre 1969 e 1972, ou as não tripuladas Luna, entre 1970 e 1976, realizadas pela antiga União Soviética, fizeram seus pousos no lado próximo.
Não seria um grande problema, não fosse o fato de que as duas faces da Lua são tão diferentes entre si. Daí a necessidade de colher material do outro lado, a fim de entender as diferenças na história geológica de ambos os hemisférios.
Os chineses escolheram o local da alunissagem apostando que poderiam recolher tanto material basáltico da própria bacia (causada por uma enorme colisão há 4,2-4,3 bilhões de anos) como também rochas provenientes das terras altas, ejetadas por impactos lá e assentadas nas imediações.
A análise preliminar, publicada no periódico National Science Review, da editora da Universidade de Oxford, no Reino Unido, tem como primeiro autor Chunlai Li, da Academia de Ciências Chinesa e confirma essa expectativa inicial: o material é uma mistura de basalto local e rochas ejetadas a partir de impactos em outras regiões.
Entre as diferenças notáveis com relação ao lado próximo está a menor densidade do material. Mineralogicamente, a composição do solo colhido pela Chang'E-6 é 32,6% plagioclásios, 19,7% augita, 10% pigeonita, 3,6% ortopiroxênio, 0,5% de olivina e 29,4% de vidro amorfo. Em termos geoquímicos, o solo se mostrou rico em óxidos de alumínio (14%) e cálcio (10%), e relativamente pobre em óxido de ferro (17%).
O trabalho, evidentemente, é um panorama geral. O mais interessante virá a seguir, conforme os cientistas analisem rochas específicas, com características determinadas, para responder perguntas científicas bem definidas.
"Esses basaltos locais documentam a história de vulcanismo do lado afastado lunar, enquanto os fragmentos não basálticos podem oferecer lampejos críticos sobre a crosta lunar nas terras altas, derretimentos de impacto da bacia Polo Sul-Aitken, e potencialmente do manto lunar profundo, fazendo dessas amostras altamente significativas para pesquisa científica", escrevem os pesquisadores em seu artigo.
O material em breve será disponibilizado a cientistas chineses não envolvidos diretamente na missão que façam solicitações para estudá-los. Pesquisadores de outros países também terão essa oportunidade, mas somente daqui a dois anos. E a expectativa é que, a exemplo das rochas lunares colhidas no lado próximo, as amostras da Chang'E-6 continuem a ser estudadas ainda por muitas décadas.
Esta coluna é publicada às segundas-feiras na versão impressa, em Ciência.
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