A Prevent Senior busca vender sua operação no Rio de Janeiro por R$ 1 bilhão. A informação foi noticiada pelo Valor Econômico e confirmada pela Folha com fontes do setor. A operadora de plano de saúde tem 62 mil beneficiários no estado, o que representa 10,7% do total de 580 mil que compõem sua rede de clientes.
A companhia possui ainda no Rio uma rede de atendimento que engloba um hospital-dia, o Sancta Maggiore São Francisco, que não faz internações, três unidades de ambulatórios e diagnósticos e um centro oncológico, inaugurado no ano passado.
Procurada, a Prevent disse "que não existem negociações em andamento em relação à carteira do Rio de Janeiro", mas afirmou que foi iniciado "um processo de avaliação do valor das operações da empresa no estado".
Segundo fontes de mercado, como 90% de sua base de beneficiários é formada por planos individuais, a Prevent deve encontrar dificuldades para vender sua operação no Rio, já que os convênios individuais têm o índice máximo de reajuste definido pela ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar), o que limita o repasse de preços aos clientes.
Soma-se a isso o fato de sua carteira de clientes ser composta em grande parte por idosos, o que eleva os custos para os planos de saúde, porque há uma relação direta ente idade e uso da rede credenciada.
Sobre a rede de beneficiários no estado com uma possível venda da operação, a Prevent afirmou que "qualquer decisão que eventualmente vier a ser adotada será comunicada previamente aos 69 mil beneficiários, pelos canais oficiais, sem prejuízo dos atendimentos, que continuam normalmente e são garantidos pelos contratos atuais".
O interesse da Prevent na venda de sua operação no Rio acontece em meio a uma revisão permanente de processos pela empresa, que busca otimizar custos por meio da verticalização no atendimento e pela simplificação de estruturas, segundo a demonstração financeira da empresa de 2023.
A verticalização é um processo em que a companhia busca englobar em seu sistema todos os processos produtivos ou de serviços, do início até o final do atendimento ao cliente, para diminuir despesas e melhorar a entrega.
Folha Mercado
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Na saúde, essa tem sido uma estratégia essencial para a sobrevivência das operadoras de saúde suplementar, já que há uma "guerra" entre os interesses dos planos e dos hospitais.
"O modelo de pagamento dos prestadores pelos planos sempre teve um claro conflito de interesses: hospitais são incentivados a realizar mais exames, tratamentos e cirurgias para aumentar suas receitas, enquanto os planos de saúde buscam minimizar essas despesas", dizem analistas da Kinea Investimentos em relatório publicado recentemente.
Se os hospitais e ambulatórios são do grupo do próprio plano de saúde, há um cuidado maior ao se considerar a relação custo-benefício no tratamento dos pacientes.
Eis a questão para a Prevent Senior. No Rio de Janeiro, a rede de atendimento do plano de saúde é bem menor que a de São Paulo, e não há uma rede de hospitais para internação. Esse fator também pode dificultar a venda da operação da empresa no estado.
Os interesses da Prevent se enquadram em um contexto maior da saúde suplementar no Brasil. Durante o começo da pandemia de Covid-19, as operadoras de planos de saúde entregaram lucros recordes em meio a uma paralisação de realização de procedimentos médicos mais complexos, enquanto os hospitais estavam lotados de pacientes com coronavírus.
Em 2022, por outro lado, a conta chegou. As cirurgias eletivas que estavam represadas voltaram com força, enquanto a inflação médica disparou, chegando a atingir quase 30%, segundo a Kinea. Com isso, o setor teve o maior prejuízo operacional desde o início da série histórica medida pela ANS, de R$ 11,5 bilhões.
Agora, as empresas da indústria de planos médicos buscam soluções para entregar resultados melhores, para além do repasse de preços aos clientes, que já é bastante alto. Entre elas está uma maior verticalização do atendimento, alinhamento de preços com hospitais e aumento da oferta de planos por coparticipação.
Em 2023, as receitas de contraprestações líquidas da Prevent Senior cresceram 16% em comparação com o ano anterior, como reflexo dos reajustes nas mensalidades aprovados pela ANS, de 15,50% em 2022 e de 9,63% no ano passado.
A empresa também atribui o resultado ao aumento no número de vidas ativas, que têm aumentado mês a mês, segundo a operadora.
A sinistralidade, por sua vez, que é um indicador que mostra o percentual das receitas que é utilizado para cobrir as despesas assistenciais quando os beneficiários acionam o plano, caiu de 94,8% em 2022 para 81% em 2023.
"Esse é o resultado de um crescimento da receita acima do reajuste da ANS e da estabilização dos custos", diz a companhia.