Preferidos dos americanos, carros pesados causam mais mortes no trânsito

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Testemunhas disseram que o motorista não desacelerou. Em 3 de junho, Nicole Louthain e sua filha de seis anos estavam paradas em um semáforo vermelho em Grand Forks, Dakota do Norte, quando foram atingidas por trás por Travis Bell.

Acidentes desse tipo não são incomuns —cerca de 10 mil colisões traseiras ocorrem nos Estados Unidos todos os dias. O que tornou este acidente notável foi que os veículos envolvidos eram extremamente desiguais. Louthain estava dirigindo um Ford Focus, carro compacto de cerca de 1.360 kg, enquanto Bell estava em uma picape Ram 3500 Heavy Duty, de 3.175 kg.

Infelizmente, a disparidade foi fatal. Embora Bell não tenha se ferido, Louthain sofreu ferimentos graves. (documentos judiciais posteriormente mostraram que Bell havia bebido.) A filha, Katarina, foi levada de helicóptero para um hospital próximo, onde morreu dois dias depois.

O acidente em Grand Forks ajuda a ilustrar uma triste verdade sobre as estradas americanas. Apesar de todos os recursos de segurança disponíveis nos carros hoje para evitar acidentes, as leis da física são cruéis. Quando dois veículos colidem, geralmente é o mais pesado que prevalece.

Essa vantagem mudou pouco ao longo do tempo. Trinta anos atrás, quando um carro de passeio colidia com uma picape ou um veículo utilitário esportivo (SUV), o motorista do carro tinha cerca de quatro vezes mais chances de morrer; hoje ele morre cerca de três vezes mais frequentemente.

Críticos dizem que este é um preço alto demais a pagar por interiores mais espaçosos e motores mais potentes. Fabricantes de automóveis insistem que estão oferecendo aos consumidores o que eles querem. Uma análise de The Economist mostra que o peso continua sendo um fator crítico em acidentes de carro nos EUA. Controlar os veículos mais pesados salvaria vidas.

Pesquisadores rapidamente aprenderam que a proteção extra proporcionada por veículos mais pesados vem às custas de outros na estrada. Em um artigo publicado em 2004, Michelle White, da Universidade da Califórnia, estimou que para cada acidente fatal evitado por um SUV ou picape, havia mais 4,3 entre outros motoristas, pedestres e ciclistas.

Outro artigo em 2012, por Shanjun Li do think-thank Resources for the Future, estimou que quando um carro colide com um SUV ou picape, em vez de outro carro, a taxa de fatalidade do motorista aumenta em 31%. Em 2014, Michael Anderson e Maximilian Auffhammer da Universidade da Califórnia, estimaram que quando dois carros colidem, um aumento de 454 kg no peso de um veículo eleva a taxa de fatalidade no outro em 47%.

Os pesquisadores também descobriram que os benefícios de segurança do peso do veículo sofrem de retornos decrescentes. Isso significa que, uma vez que os veículos atingem um certo peso, adicionar mais quilos proporciona pouca segurança adicional, enquanto inflige mais danos aos outros.

Então, quão grande é grande demais? Em que ponto os custos dos veículos mais pesados —medidos em vidas perdidas— excedem vastamente seus benefícios? Para responder a essa pergunta, The Economist compilou dados de acidentes de dez anos de mais de uma dúzia de estados americanos.

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Os números vêm de relatórios arquivados por policiais, que são responsáveis por registrar informações sobre acidentes de carro quando chamados ao local. Embora todos os estados coletem esses dados, focamos aqueles que coletam as figuras mais detalhadas e as compartilham com pesquisadores. O conjunto de dados resultante, que cobre mais de um terço da população dos EUA, fornece uma amostra representativa.

No total, o conjunto de dados inclui milhões de acidentes em 14 estados entre 2013 e 2023. Embora os relatórios de acidentes variem de estado para estado, a maioria dos acidentes no banco de dados inclui informações sobre a localização do acidente, o número de carros envolvidos, a idade e o gênero de cada passageiro, se estavam usando cintos de segurança e os tipos de ferimentos que sofreram.

Para obter o peso de cada veículo, coletamos os números de identificação dos veículos incluídos em cada relatório de acidente e os combinamos com dados de especificações do fornecedor de dados automotivos e veículos da VinAudit. A combinação desses dados resultou em cerca de 10 milhões de acidentes. Após eliminar observações com dados ausentes, ficamos com cerca de 7,5 milhões de acidentes envolvendo mais de 15 milhões de carros.


O que os dados nos dizem sobre a relação entre o peso do veículo e a segurança nas estradas?

  • Considere dois carros de tamanhos diferentes: um carro compacto Honda Civic e uma picape Ford F-350 Super Duty.
  • Em um acidente, a taxa de fatalidade dos ocupantes da picape pesada é cerca de metade da do carro compacto.
  • Os dados do The Economist mostram que veículos mais pesados são mais seguros para seus ocupantes do que os mais leves —mas são muito mais perigosos para as pessoas em outros carros.
  • A taxa de fatalidade é aproximadamente sete vezes maior ao colidir com uma picape pesada do que com um carro compacto. À medida que o peso do seu carro aumenta, o risco de matar outros aumenta dramaticamente.
  • Para cada vida que o 1% mais pesado de SUVs e caminhonetes salva, há mais de uma dúzia de vidas perdidas em outros veículos.

O 1% mais pesado dos veículos em nosso conjunto de dados —aqueles que pesam cerca de 3.084 kg— sofrem, em média, 4,1 "mortes no próprio carro" por 10 mil acidentes, em comparação com cerca de 6,6 para carros que pesam 1.588 kg, e 15,8 para o 1% mais leve dos veículos que pesam apenas 1.043 kg.

Mas carros pesados também são muito mais perigosos para outros motoristas. Os veículos mais pesados foram responsáveis por 37 "mortes em carros parceiros" por 10 mil acidentes, em média, em comparação com 5,7 para carros de peso médio e 2,6 para os mais leves.

Se envolver em um acidente com um veículo que é 454 kg mais pesado está associado a um aumento de 0,06 ponto percentual na probabilidade de sofrer uma fatalidade, mesmo após controlar o peso do próprio carro, a idade e o gênero do motorista, a densidade populacional do local do acidente e se os passageiros estavam usando cintos de segurança.

Dado que a probabilidade de sofrer uma fatalidade em um acidente entre dois veículos é de 0,09%, em média, isso sugere que ser atingido por mais 454 kg de aço e alumínio —aproximadamente a diferença entre um Toyota Camry e um Ford Explorer— aumenta a probabilidade de morte em 66%.

Veículos no top 10% da amostra —aqueles que pesam pelo menos 2.268 kg— estão envolvidos em cerca de 26 mortes por 10 mil acidentes, em média, incluindo 5,9 no próprio carro e 20,2 em veículos parceiros. Para veículos nos próximos 10% mais pesados da amostra —aqueles que pesam entre 2.041 kg e 2.268 kg —os números equivalentes são 5,4 e 10,3 mortes por 10 mil acidentes.

Diante desses números, você poderia esperar que os fabricantes de automóveis estivessem freando a produção de seus SUVs e picapes mais pesados. Na verdade, eles estão acelerando. Dados oficiais da Agência de Proteção Ambiental mostram que o carro novo médio nos EUA pesa mais de 1.996 kg (em comparação com 1.497 kg na União Europeia e 1.179 kg no Japão). Em 2023, veículos pesando mais de 2.268 kg representaram impressionantes 31% dos carros novos, acima dos 22% cinco anos antes.

Seria fácil culpar os compradores de carros por essa tendência, mas Anderson diz que os americanos em busca de um carro novo enfrentam uma "corrida armamentista" ao estilo da Guerra Fria. "À medida que você vê a frota de veículos ao seu redor ficando mais pesada, você quer se proteger racionalmente comprando um carro maior e mais pesado."

Quando solicitados a comentar sobre as descobertas de The Economist, representantes das três grandes montadoras apontaram para recursos de segurança que ajudam os motoristas a evitar acidentes, em vez daqueles que os tornam menos mortais.

"O peso do veículo não determina sozinho o desempenho em acidentes", escreveu Mike Levine, porta-voz da Ford, em um email, destacando tecnologias de prevenção de acidentes, como frenagem automática de emergência e "assistência de freio" dianteiro e traseiro.

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A General Motors destacou que os fabricantes de automóveis melhoraram a compatibilidade de seus veículos ao longo dos anos, citando um acordo voluntário firmado pelos fabricantes em 2003, há mais de vinte anos. A Stellantis (cujo maior acionista é coproprietário da empresa-mãe de The Economist) recusou-se a comentar.

Mas as chances de que os fabricantes de automóveis limitem seus veículos mais pesados e perigosos são pequenas. Os compradores de carros americanos valorizam a segurança, mas principalmente para si mesmos, não para a sociedade como um todo. E embora os reguladores tenham a tarefa de proteger os consumidores, raramente o fazem à custa da escolha, não importa quão mortais sejam as consequências.

Texto de The Economist, traduzido por Helena Schuster, publicado sob licença. O artigo original, em inglês, pode ser encontrado em www.economist.com

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