Preços de carros novos nos EUA podem subir até R$ 20 mil

A tarifa de 25% imposta por Trump sobre veículos importados se tornará realidade em 3 de abril. E, ao que tudo indica, o futuro não parece nada promissor para as montadoras ou para os consumidores nos EUA. Segundo relatórios de pesquisas de investimentos, a nova medida deverá impactar diretamente os preços, margens e volumes de todas as montadoras no país.

Quem indica esses detalhes é a Bernstein Institutional Services LLC, uma empresa de pesquisa de investimentos. Com o ticket médio (valor médio de aquisição de um carro 0km nos EUA) de US$ 49.740 (R$ 286,7 mil) em janeiro, o instituto prevê que os preços aumentarão cerca de 7%, ou cerca de US$ 3.600 (R$ 20,7 mil) como resultado das novas tarifas. Isso elevaria o preço médio dos carros novos naquele país a um novo recorde.

A Bernstein prevê que as tarifas custarão às montadoras US$ 6.700 por veículo (R$ 38.628), ou US$ 110 bilhões por ano (R$ 634 bilhões), "o que forçaria as marcas a escolher entre aumentos de preços, absorção de custos ou diminuição de margens", de acordo com o relatório.

Mesmo que o custo das tarifas seja repassado aos compradores e as cadeias de suprimentos sejam ajustadas para compensar, empresas como a Ford e a GM podem esperar uma queda de 30% nos lucros antes de impostos ou juros.

Foto de: Stellantis

Dentre as grandes americanas, o grupo Stellantis, que é responsável por Jeep, Ram, Dodge e Chrysler no país, deve ser menos afetado que GM e Ford

Dentro das ''três grandes'' dos EUA, o grupo Stellantis deverá se sair um pouco melhor graças à alta concentração de peças fabricadas nos EUA em seus modelos produzidos no México, de acordo com à Bernstein.

No entanto, a Tesla ainda é a menos afetada, graças às suas fábricas nos EUA e à sua alta participação no mercado. Fabricantes de elétricos participação de vendas menores, como Rivian e Polestar, serão duramente atingidos, principalmente graças às suas cadeias de suprimentos com grande volume de produtos estrangeiros. 

As tarifas entrarão em vigor em 2 de abril. Para se prepararem, as montadoras prepararam um grande estoque para tentar suprir ao máximo sua demanda. Atualmente, há 2,7 milhões de veículos parados nos lotes das concessionárias, ou seja, uma oferta de 54 dias, de acordo com a Bernstein. A primavera é a época em que a compra de carros se intensifica nos EUA, o que significa que esse estoque pode durar apenas até a primeira semana de maio.

Foto a: Porsche

Depois disso, a Bernstein espera que os custos das tarifas comecem a prejudicar os resultados financeiros das montadoras. Os veículos fabricados nos EUA poderiam ter um alívio temporário graças às exceções para os fabricantes no âmbito do Acordo Estados Unidos-México-Canadá (USMCA), que substituiu o NAFTA, mas isso durará apenas um mês antes que esses fabricantes estejam totalmente expostos às desvantagens das tarifas.

A Bernstein prevê que pode levar de 12 a 36 meses para que os fabricantes reorganizem suas cadeias de suprimentos e instalações de montagem. Para se ter uma ideia, os fabricantes de automóveis levaram de 18 a 24 meses para se recuperar da escassez de semicondutores causada pela Covid durante o auge da pandemia, entre o período de 2020 e 2022. Isso significa uma perda de bilhões em receita.

Linha de montagem da Ford Super Duty 2023 nos EUA

De acordo com instituto, as montadoras estão sendo pressionadas a uma escolha: aumentar os preços ou manter o volume. Se as montadoras decidirem repassar o custo médio total de US$ 6.700 (R$ 20.700) para o comprador, menos pessoas comprarão o carro. Se as fábricas decidirem arcar com o custo das tarifas, não perderão nenhum cliente. 

Repassar o custo total das tarifas custará às montadoras 10% em volume, em média, prevê a Bernstein. Mas a empresa de pesquisa diz que picapes grandes e veículos de luxo serão mais fáceis de vender com preços mais altos, uma vez que o preço original já era alto.

Foto de: Toyota

SUVs menores e os carros compactos/médios - dois dos segmentos mais populares nos EUA - serão os mais afetados, graças às margens reduzidas e aos preços competitivos. A empresa de pesquisa afirma que carros como o Toyota RAV4, Subaru Crosstrek, Toyota Corolla e Honda Civic sofrerão quedas de volume de 8 a 11%. 

Ford Bronco Sport, assim como a picape Maverick, é importado do México

Outros mercados também devem ser afetados 

É provável que a tarifa de 25% imposta por Trump aumente os preços dos carros importados do exterior. Segundo o ex-vice-presidente de desenvolvimento de produtos da GM, Bob Lutz, essas regulamentações mais rigorosas sobre as importações de automóveis estão chegando há muito tempo e tem objetivo claro.

"As tarifas que Trump está colocando em vigor apenas espelham (grosso modo) as que nossos principais parceiros comerciais têm em vigor há décadas", disse Lutz ao Motor1.com US "Não há dúvida de que as tarifas aumentarão o preço dos carros de fora dos EUA e resultarão em um declínio em seu volume de vendas. Esse é o objetivo das tarifas."

Atualmente, a União Europeia impõe uma tarifa de 10% sobre os carros importados dos EUA, com outros 20% de Imposto sobre Valor Agregado (IVA) adicional. Embora, recentemente, a UE tenha proposto reduzir esse número de 10% para 2,5% em um esforço para aliviar as tensões comerciais com os EUA, de acordo com alguns relatórios.

Foto de: Motor1.com

Nissan Versa 

Volkswagen Tiguan Allspace R-Line 

Foto de: Ram

RAM 2500 Rodeo Edition

No Brasil, carros produzidos no México possuem um acordo desde 2002 e que passou a ser de livre comercio desde 2019. Muitas montadoras se beneficiam para trazerem veículos de lá, como a Ford, com o Bronco Sport e a picape Maverick, a Volkswagen com o Tiguan, Nissan com o Versa e a Ram com a picapona 2500.

Caso essas marcas resolvam mudar sua linha de produção para os EUA ou decidam repassar os novos impostos também para outros mercados, podemos esperar que esses modelos também passem a contar com novos preços.

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