Habitualmente, o dólar se valoriza em momentos de instabilidade global. Isso acontece também com o ouro, que está em sua máxima histórica. "Mas a sinalização de paz entre Ucrânia e Rússia reduz o risco geopolítico, provocando uma leve desvalorização da moeda americana e fortalecendo moedas de mercados emergentes, como o real", diz ela. Um acordo consolidado pode ampliar ainda mais essa valorização, atraindo fluxo estrangeiro para países emergentes e impulsionando suas Bolsas de valores.
Por que o dólar cai?
Quando a guerra começou, as nações do ocidente realizaram um embargo aos produtos exportados pela Rússia. Isso pode mudar agora. "Com o acordo, pode haver o restabelecimento das cadeias globais de abastecimentos com a Rússia novamente exportando óleo e gás e a Ucrânia retornando a produção de grãos", diz André Barbosa, especialista e consultor autônomo de investimentos, com experiência de oito anos na Toro Investimentos. Assim, a Europa passa a ter um fornecimento de energia mais constante e sua inflação cai. Isso por si só já fortalece o euro contra o dólar. Também acaba fortalecendo o real.
Aqui, a questão é mais ligada aos custos da produção agrícola. "O Brasil é grande exportador de grãos, por exemplo. Com o final do conflito, o fornecimento de fertilizantes da Rússia deve se normalizar e os custos de produção caem. Consequentemente, os produtores passam a ter uma margem de lucro melhor nas exportações", explica André Galhardo, consultor econômico da plataforma de transferência internacional, Remessa Online.
Com custo de produção agrícola menor, a inflação de alimentos no Brasil também pode ceder. É o que diz Beto Saadia, diretor de investimentos da Nomos. Com os preços mais controlados, os juros também podem voltar a cair e isso ajuda empresas a se financiarem, o que melhora sua situação em Bolsa.
Todo esse restabelecimento leva tempo, se o acordo sair. Mas o mercado — tanto as moedas quanto as Bolsas — já começam a reagir com antecedência. "No Brasil, o Ibovespa pode se beneficiar diretamente dessa movimentação, principalmente em setores como varejo e construção civil, mais sensíveis à queda do dólar e à entrada de capital externo", diz Daniela.