Opinião - Michael França: Amor é bossa nova, sexo é Carnaval?

há 3 horas 1

Alimentamos inúmeras expectativas em relação à nossa companheira ou companheiro. É comum esperarmos que ela seja amante apaixonada, melhor amiga, confidente e, nos casos de constituição de uma família, desejamos que seja mãe ou pai dedicado a nossos filhos. E por que não? Se ainda sobrar energia para aquela massagem ao final do dia, agradecemos.

Ao contrário do passado, as pessoas estão buscando mais do que apenas segurança e estabilidade em um parceiro, elas esperam realização emocional, intelectual e sexual. São tantas demandas que acabam sobrecarregando as relações, gerando frustrações que não refletem necessariamente uma falta de empenho para ter boas relações no curto prazo, mas sim o reflexo de uma sociedade sem tempo para nutrir relacionamentos de longo prazo.

No começo, alguns até conseguem atender ao conjunto de expectativas dentro do tradicional modelo de relacionamento. Porém, com o tempo, as demandas fora dele tendem a falar mais alto, mais aLTO e mais ALTO... fazendo com que muitos acabem se dedicando menos, o que costuma levar a um inevitável esgotamento de seus contratos de fidelidade.

Embora a monogamia seja vendida como o caminho para a felicidade e estabilidade, na realidade ela vem embalada por contradições. Na teoria, até se tem uma promessa de exclusividade, mas é na prática que os pecadinhos acontecem.

As estimativas de pessoas que já traíram seus parceiros variam muito. Em uma rápida pesquisa que fiz sobre o assunto, constatei que várias delas costumam ficar em torno de 30% a 60%. No caso das americanas de 30 anos, encontrei uma reportagem destacando que elas têm um pouco mais de chance do que os homens de dar aquela pulada de cerca.

Mas veja... Um interessante ponto a se frisar aqui é que é muito provável que não compraríamos uma casa que talvez possa ter até mais de 30% de chances de desmoronar em um futuro próximo, porém, para seguir os enredos sociais pelos quais fomos adestrados, entramos perdidamente em contratos de exclusividade esperando segurança emocional.

A monogamia não é algo natural e, para muitas pessoas, representa apenas uma prática desonesta. Apesar disso, uma reflexão mais profunda sobre suas contradições não deve ser encarada como uma negação ao que estranhamente se convencionou chamar de amor, mas como o entendimento de que não se trata de posse ou de idealizações românticas, mas de liberdade, conexão e respeito mútuo.

É a habilidade de enxergar o outro, não como uma projeção de nossas expectativas ou das expectativas sociais, mas como uma pessoa inteira, com seus próprios desejos e complexidades. Entendendo isso, a monogamia é um arranjo que até pode dar certo. Mas pode dar certo somente para alguns, não para todos.

Sexo é bom. Para algumas pessoas, é ainda mais prazeroso. Com algumas, pode ser melhor ainda. A libido não é uniformemente distribuída na sociedade e ao longo da vida. Isso faz com que muitos tenham consideráveis dificuldades de reprimir o apetite sexual. Colocá-los nas jaulas da monogamia só traria frustrações mútuas.

O texto é uma homenagem à música "Amor e Sexo", de Arnaldo Jabor, Rita Lee e Roberto de Carvalho, interpretada por Rita Lee. Bom Carnaval!

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