Por que os artistas do Globo de Ouro evitaram falar sobre Donald Trump no evento?

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Hollywood levantou a bandeira branca na guerra cultural no domingo.

Essa síntese da 82ª edição do Globo de Ouro sem dúvida irritará algumas pessoas na capital do cinema. Nós? Ceder o terreno moral elevado ao presidente eleito Donald Trump e seus apoiadores? Nunca.

Eles poderiam apontar — com razão — para os filmes que ganharam prêmios no domingo. "Emilia Perez", homenageado com quatro estatuetas do Globo de Ouro, é um musical em espanhol sobre identidade trans. "O Brutalista", que recebeu três, é um épico sobre as lutas dos imigrantes. "Wicked", que recebeu um prêmio novo de melhor blockbuster, trata de preconceitos e da corrupção do poder.

Mas os Globos nunca foram sobre sutileza. Os Globos são onde as estrelas supostamente se soltam, onde fazem proselitismo por causas e preocupações progressistas. O show do último domingo (5) foi o primeiro megafone de Hollywood desde que Trump foi confortavelmente eleito para um segundo mandato. E desta vez, mal se ouviu um pio sobre isso.

Em 2017, Meryl Streep atacou Trump do palco dos Globos, lançando firmemente o desafio para um novo tipo de guerra cultural. No ano seguinte, os Globos se tornaram um comício de fato para o movimento Time’s Up, com dezenas de atrizes vestindo preto para protestar contra o assédio sexual e Oprah Winfrey fazendo um discurso inflamado. Em 2020, Michelle Williams fez um apelo apaixonado pelos direitos ao aborto, enquanto Russell Crowe chamou a atenção para a mudança climática e a crise de incêndios florestais na Austrália.

Black Lives Matter, a crise global de refugiados e o veganismo foram todos promovidos do palco dos Globos. Em 2023, os Globos deram espaço ao presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy, que fez um discurso condenando a Rússia.

Durante o pré-show oficial no tapete vermelho, os apresentadores mantiveram a conversa no limite do superficial: você é lindo, eu sou lindo, o tempo está lindo, tudo está lindo. "É domingo à tarde, e o sol está brilhando", disse Felicity Jones a um entrevistador. "Não há muito do que reclamar."

Durante seu monólogo que abriu o show, a comediante Nikki Glaser brincou gentilmente com as celebridades reunidas por não conseguirem impedir Trump de retornar ao cargo. "Está tudo bem", ela disse. "Vocês vão pegá-los na próxima vez, se houver uma." Ela sorriu e acrescentou "Estou com medo", antes de mudar o assunto para a vida sexual de Ben Affleck.

O único outro comentário político notável veio três horas depois, quando "Emilia Pérez" ganhou o Globo de melhor musical ou comédia. A estrela do filme, Karla Sofía Gascón, usou o momento para falar pelos direitos trans. "Vocês podem nos bater", ela disse. "Mas nunca poderão tirar nossa alma."

"Levantem suas vozes", ela acrescentou.

Talvez a falta de política no show de domingo não devesse ser uma grande surpresa. Muitos dos que se opõem a Trump ainda parecem estar descobrindo como resistir a ele e sua administração. E houve até mesmo uma leve inclinação à direita por parte de Hollywood, para suavizar algumas das arestas mais progressistas de alguns shows e selecionar mais filmes que falem à base de Trump.

Antes dos Globos, alguns publicitários e agentes aconselharam clientes a ficarem quietos sobre Trump e apontaram Rachel Zegler como um exemplo de advertência. Após a eleição em novembro, Zegler, a jovem estrela do próximo "Branca de Neve" live action da Disney, criticou duramente Trump e seus apoiadores em uma postagem nas redes sociais. A reação do Make America Great Again foi severa, e Zegler foi forçada a se desculpar.

E para as pessoas por trás dos Globos, o silêncio provavelmente foi bem-vindo. Produtores especializados em transmissões de premiações dizem que pesquisas, compiladas principalmente pela Nielsen, indicam que os espectadores não gostam quando celebridades transformam uma ida ao palco em um palanque político. A análise minuto a minuto da audiência indica que "vastas faixas" de pessoas desligam as televisões quando as celebridades começam a opinar sobre política.

Isso lembrou uma época, décadas atrás, quando as estrelas se esforçavam para ser estrelas, encantando e não dizendo nada que pudesse alienar um único comprador de ingressos. A mensagem foi transmitida de forma clara e alta.

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