Políticos criminosos: o impacto de candidatos com histórico criminal no Brasil

há 2 meses 2

É comum ouvirmos que os políticos são reflexo da sociedade. Se são corruptos, isso refletiria uma maioria igualmente corrupta. Mas isso não é verdade. O número de políticos brasileiros envolvidos em processos criminais é quase o dobro do registrado na população em geral. Esse dado revela um problema profundo na forma como escolhemos nossos representantes e nas consequências para a administração pública.

A cada dois anos, os brasileiros elegem representantes para diversas esferas do governo. As razões variam: afinidade partidária, ideologias e promessas de campanha. Contudo, um critério fundamental deveria guiar os eleitores: a honestidade do candidato. Como disse Benjamin Franklin: "honestidade é a melhor política".

Mas será que sabemos o suficiente sobre a honestidade dos candidatos? E como isso impacta a gestão pública?

Em um estudo recente, criamos uma base de dados com o histórico judicial da população brasileira nos últimos 15 anos, focando nos processos criminais dos candidatos antes mesmo de suas candidaturas.

Os resultados são preocupantes: enquanto 2,3% da população está envolvida em processos criminais, entre os candidatos esse número chega a 4,4%. Entre os eleitos, o índice sobe para 5,1%. E isso ocorre de forma uniforme, independentemente de partido ou esfera de atuação. O problema está em todos os lados.

Para entender como a eleição desses políticos afeta a gestão pública, comparamos municípios que elegeram candidatos com histórico criminal com aqueles que, por pouco, não elegeram.

O resultado é alarmante: aumento de 8% na chance de nascimentos com baixo peso e 21% na mortalidade infantil em cidades cujos prefeitos estão envolvidos em processos criminais.

Curiosamente, esses municípios não apresentam diferenças nos gastos em saúde. Então, de onde vem esse efeito devastador? Nossos dados indicam que o clientelismo, prática eleitoreira comum no Brasil, é um problema central.

Políticos com histórico criminal contratam 43% mais membros de seu partido, principalmente na saúde, em comparação com aqueles sem processos judiciais. Na educação, no entanto, não observamos aumentos nas contratações nem mudanças nos indicadores de desempenho.

Como avançar? Além de iniciativas que eduquem e informem melhor os eleitores, é essencial adotar políticas de transparência na gestão pública, permitindo maior fiscalização pela sociedade.

Um exemplo é o programa de sorteios da CGU (Controladoria-Geral da União), que audita municípios em busca de desvios de recursos. Nossos dados mostram que essa fiscalização, quando feita em ano eleitoral, reduz significativamente a proporção de candidatos com histórico criminal.

Se políticos com histórico criminal usam a máquina pública para favorecer aliados e cometer delitos, precisamos aumentar os riscos legais para que essa prática se torne inviável. Com mais fiscalização e transparência, podemos reduzir as candidaturas de indivíduos desonestos e, quem sabe, finalmente construir um cenário em que a honestidade seja, de fato, a melhor política.

O editor, Michael França, pede para que cada participante do espaço "Políticas e Justiça" da Folha sugira uma música aos leitores. Nesse texto, a escolhida por Breno Sampaio foi "Money and Corruption", de The Kinks.

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