A Polícia Federal indiciou quatro ex-dirigentes da PRF (Polícia Rodoviária Federal) do governo de Jair Bolsonaro (PL) sob a suspeita de dificultar o deslocamento de eleitores de Lula (PT) nas eleições de 2022 com a realização de blitze durante o segundo turno.
Foram indiciados Luis Carlos Reischak Junior, ex-diretor de Inteligência, Rodrigo Cardozo Hoppe, ex-diretor de Inteligência substituto, Djairlon Henrique Moura, ex-diretor de Operações, e Adiel Pereira Alcantara, ex-coordenador de Análise de Inteligência da PRF.
Os investigadores da PF também indiciaram Bruno Nonato dos Santos Pereira, ex-coordenador-geral de Inteligência e Contrainteligência da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres).
O relatório foi enviado ao STF (Supremo Tribunal Federal) em dezembro. As informações foram reveladas pelo UOL e confirmadas pela Folha nesta quarta-feira (22). A reportagem ainda tenta contato com os advogados dos indiciados.
No documento, a PF elencou ao menos cinco crimes atribuídos aos ex-diretores: desobediência, prevaricação, restrição ao exercício do direito do voto e participação no crime de tentativa de abolição do Estado democrático de Direito.
Esta é a segunda leva de indiciamento na mesma investigação. Em agosto, a PF indiciou o ex-diretor-geral da PRF Silvinei Vasques, o ex-ministro da Justiça Anderson Torres e outras quatro pessoas por uso da corporação rodoviária para impedir que eleitores de Lula votassem.
De acordo com o relatório da PF, a PRF foi usada para tentar impedir o deslocamento de eleitores do presidente Lula no segundo turno da eleição. Segundo os investigadores, Silvinei determinou a realização de blitze no transporte de eleitores, principalmente no Nordeste, região onde o petista teve ampla margem de votos no primeiro turno.
Ao realizar as blitze, Silvinei teria descumprido uma ordem do ministro do STF e então presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) Alexandre de Moraes.
No dia anterior ao segundo turno de 2022, Silvinei pediu votos para Bolsonaro nas redes sociais. Publicou uma imagem da bandeira do Brasil com as frases "Vote 22. Bolsonaro presidente". Depois, ele apagou a postagem.
A publicação fez com que Silvinei fosse alvo de processo na CGU (Controladoria-Geral da União) que pode cassar sua aposentadoria.
O ex-diretor da PRF teve a prisão preventiva decretada por Moraes em agosto de 2023. À época, a PF argumentou, no pedido de prisão, que o objetivo seria evitar interferências na investigação.
Silvinei foi solto em agosto de 2024, na véspera do aniversário de um ano de sua prisão preventiva. Moraes determinou que o ex-diretor cumpra medidas cautelares, como o uso de tornozeleira eletrônica.
A PF conduz diversas investigações que visam identificar a utilização de órgãos públicos para beneficiar o governo de Bolsonaro.
Além da PRF, os investigadores apuram uso da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) para monitorar adversários políticos e blindar os filhos do ex-presidente.
As investigações sobre a trama golpista e das blitze da PRF apontaram também para a participação de policiais federais.
No inquérito que apura a tentativa de golpe, a PF prendeu o policial federal Wladimir Soares, suspeito de passar informações de Lula (PT) aos golpistas. Já na apuração sobre o uso da PRF, foram indiciados ao menos quatro policiais federais, cedidos ao Ministério da Justiça e Segurança Pública.